Paulo Borges, o homem por trás da SPFW, analisa a crise no país e dispara: “Com ou sem ela, estamos há 22 anos fazendo a construção da moda brasileira”


O empresário ainda comentou sobre a fragmentação dos desfiles nesta edição. “Nosso evento sempre foi muto pulverizados na verdade, mas de fato houve mais. Faz parte da nossa história, tanto que a gente chama o movimento de Ocupa São Paulo”

Paulo Borges, criador da SPFW (Foto: AgNews)

Paulo Borges, criador da SPFW (Foto: AgNews)

Depois de uma temporada internacional cheia de grandes surpresas, chegou a vez do mundo da moda se render aos encantos da 42ª edição da São Paulo Fashion Week. Tida como uma das semanas mais importantes do calendário fashion na América Latina, o evento teve seu pontapé inicial na tarde deste domingo, no Tower Bridge Corporate, na capital paulistana, com um desfile artístico da Animale, que apresentou a coleção “Springs”. Pois bem, no entanto, como contamos anteriormente aqui no HT, a SPFW sofreu algumas alterações tanto na sua estrutura, já que as passarelas se pulverizaram pela terra da garoa, como em seu line-up, deixando grifes importantes de fora desta grande vitrine como a Forum, Ellus, Colcci e Triton. Para Paulo Borges, fundador e diretor da mostra, as palavras de ordem são transformação, transgressão e transição.

Em entrevista exclusiva ao HT, Paulo comentou sobre a continuidade de um trabalho que já dura 22 anos. “A  expectativa que eu tenho é de continuar esse trabalho. É um processo de continuação, sabe? Ainda mais nesse período em que a moda está passando por um momento de transformação em todos os sentidos. E a gente está aqui para ajudar nesse processo”, revelou ele, comentando ainda sobre a saída de grandes marcas do varejo nacional. “Mais do que nunca é um erro pensar que sair da semana de moda é economizar dinheiro. No Brasil, a grande ação é o desfile, se você para, deixa de se comunicar com as pessoas”, comentou.

Fique por dentro: Transformação, transgressão, transição: SPFWTRANSN42 movimenta o calendário da moda com apresentações por toda São Paulo

Ainda assim, a moda, mais que qualquer outro setor, inspira novas possibilidades e potenciais. Diante da velocidade da informação e das novas demandas que vem gerando, o mercado se movimenta para sincronizar seus lançamentos junto ao desejo do consumidor final. Entre a transição e a transformação, a SPFW é a primeira semana no Brasil a adotar o conceito see now buy now, que começa a revolucionar o varejo mundial e já vem sendo incorporado de forma ainda isolada por algumas grandes marcas internacionais. “Esse conceito, por exemplo, realmente trás uma grande mudança e acho que a São Paulo Fashion Week mostra, de novo, que o papel dela é ser precursora, como uma espécie de alavanca do mercado e desses empreendedores que fazem a máquina rodar. Com crise ou sem crise, estamos há 22 anos fazendo a construção da moda brasileira”, analisou.

Paulo Borges (Foto: AgNews)

Paulo Borges (Foto: AgNews)

Outra novidade desta edição da SPFW, que vai até a sexta-feira, dia 28, é a ocupação de diversos pontos da capital paulistana além da tradicional parada no Ibirapuera, sede do evento. O Masp, a Pinacoteca, o Teatro Sander, no Shopping JK Iguatemi, e a Fundação Armando Alvares Penteado serão palco dos desfiles. “Nosso evento sempre foi muto pulverizados na verdade, mas de fato houve mais nesta edição. Foi uma grande coincidência mesmo. Não foi de caso pensado. Mas esse movimento tem muito a ver com esse espírito das pessoas do trans, do estar transitório e estar transformando. Isso hoje está muito na cabeça das pessoas. A gente sempre teve pelo menos dois desfiles por dia fora, nesta edição, teremos três. É maior, mas faz parte da nossa história, tanto que a gente chama o movimento de Ocupa São Paulo. A edição passada também era assim. A gente entende que é importante esse passeio pela cidade e sabe que em um determinado horário as pessoas precisam parar dentro do parque, ali na Bienal, porque não tem como se locomover pelo trânsito fica impossível”, ponderou ele.

Questionado sobre as dificuldades de estar investindo em moda em épocas de vacas magras, Paulo reafirma que essa não foi a primeira e nem será a última que o país passará. No entanto, o momento é de reorganizar as ideias e olhar para o futuro. “Essa é a quarta crise que a gente vive nesse período de 22 anos. Em 30 anos de carreira, eu devo ter visto umas seis ou sete crises no país e ainda vão haver outras. A crise é uma oportunidade de você reorganizar as bússolas e é isso que estamos fazendo. Eu sempre acreditei que estaríamos fazendo uma edição incrível. Muitos eventos não aconteceram no país, não só na área de moda, mas em várias outras áreas. E a São Paulo Fashion Week está aqui. Começando lindamente e mostrando a força da marca SPFW, das grifes que desfilam e da moda brasileira criativa”, completou.