*Por Brunna Condini
Para quem viu Paulo Betti na reprise de ‘Império‘ recentemente e ficou com saudade, a boa notícia é que sua próxima novela já está em produção. Em ‘Além da Ilusão‘, folhetim que vai substituir ‘Nos Tempos do Imperador‘, que atualmente está sendo exibida na faixa das 18h, o ator dará vida ao dono de um cassino. “É bem curioso, porque na minha novela anterior interpretei um viciado em jogos. Agora sou dono de um cassino”, recorda, referindo-se ao personagem de ‘Órfãos da Terra‘ (2019). E revela: “Já eu, não gosto de jogos em si. A não ser futebol, esportes. Os jogos tidos como de azar, não curto. Mas gosto do Constantino, o personagem que farei na próxima novela. Ele se aproveita dessa compulsão que as pessoas têm para jogar e ganha dinheiro com isso”.
Enquanto a novela não vem, seu tempo é da militância pela cultura e do teatro. Com direção de Betti e preparação corporal do diretor artístico dos Doutores da Alegria, Ronaldo Aguiar, ‘Saci in Pixel‘, peça infanto-juvenil criada a partir de contos populares sobre o Saci Pererê, estreia nesta sexta-feira (19), em curta temporada, realizada ao vivo e em tempo real. No elenco, a atriz Samira Lochter, integrante do fórum nacional permanente em defesa da Amazônia, e Thiago Mendonça em participação especial virtual.
Para o ator que está no comando da montagem, a figura do Saci, personagem brasileiro, traz em sua imagem atributos que nos fazem refletir sobre questões que envolvem aceitação, diferença e preconceito. “O Saci é um símbolo do folclore brasileiro. E quando falamos dele, falamos da proteção das florestas. Esse é um tema muito relevante. Além disso, quando vemos as pessoas celebrando o Halloween, lembramos que temos o Saci, uma lenda nossa. Em contraposição à essa ocupação mental e da nossa identidade através da colonização de costumes. Nós nunca comemoramos o Halloween, mas, recentemente, isso virou moda. Então, é nesse sentido que o Saci promove alguma resistência cultural”, analisa.
Em ‘Saci in Pixel‘, uma xamã protetora da memória da mata recebe a visita inesperada de uma criança, a quem logo oferece a riqueza das histórias que guarda. “A Samira é cria do projeto ‘Quilombinho‘, que existiu por 15 anos na minha casa em Sorocaba. foi ela que me procurou para dirigir a peça de forma remota. Gostei do texto que afirma nosso Saci, nossa identidade brasileira. O trabalho ficou muito bonito. O mérito maior é dela e do Thiago Capella, diretor de arte. Ajudei eles a fazerem escolhas”.
Militância e amor
O pedido de casamento de Paulo Betti à atriz Dadá Coelho, em uma manifestação contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em julho deste ano, fez sucesso nas redes sociais. Foi programado? “Não, não foi nada pensado (risos). Foi um arroubo momentâneo. Foi como se fosse para grifar uma situação que já vivemos juntos há sete anos. Foi um acesso romântico, que provavelmente vai evoluir para que aconteça”.
Betti sempre fez questão de se posicionar politicamente. “Nós estamos vivendo um momento muito grave. Testemunhando notícias falsas, muitas mentiras. Como por exemplo, de gente dizendo que a floresta amazônica não queima, que está intocada desde 1500. Ouvimos tantos absurdos, que eu gosto de me posicionar e de fazer intervenções, no sentido de ajudar a esclarecer as pessoas”, frisa. “Mas acho que quem não gosta de se expor ou prefere ficar neutro, tem todo direito. É uma escolha. Cada um sabe da sua consciência. Daquilo que fez ou deveria ter feito. Ou não ter feito. Isso é uma questão pessoal”.
E critica o atual cenário político para a sociedade e a cultura. “Vivemos um momento de arraso, de desmonte, de destruição. E claramente há um planejamento e competência específica, direcionada, ideológica. Eles querem contar a história da maneira deles, fazer vencer a narrativa do ponto de vista deles. Dizendo, por exemplo, que não houve a ditadura ou que ela foi branda. Ou que não teve um golpe, foi um impeachment. A política tem isso, essa disputa do poder”, observa. “Do ponto de vista da área cultural, o desmonte é absoluto. Primeiro acabaram com o Ministério da Cultura, virou uma secretaria. Depois, virou uma secretaria que tem uma atuação estapafúrdia. Tanto que você vê o secretário (Mário Frias) fazendo fotos em estandes de tiro, de uma forma ameaçadora, com armas. Estamos em terra arrasada, realmente”.
E alerta: “Nós temos que militar não só pela cultura, mas, principalmente, pelo meio ambiente. Acho que a questão climática é a mais grave que temos que enfrentar, e quer queiramos ou não, já estamos nos deparando com mudanças e uma perspectiva de não-futuro. Então, acredito que precisamos nos unir para que isso seja revertido. Ou então, abrir mão de pensarmos no futuro dos nossos filhos e netos”.
O ator também analisa as eleições presidenciais de 2022. “O Lula está à frente nas pesquisas. Se isso se confirmar, vou apoiá-lo. Evidentemente que gostaria de algumas mudanças e alguns compromissos, como com o meio ambiente. Não creio que tenha sido tão bom quanto poderia o governo de Lula e de Dilma Rousseff neste aspecto. A construção das grandes hidrelétricas, como a Belo Monte, foi grave o que aconteceu. Pessoas morreram e foram muitos danos. Então, espero que isso se corrija e que haja um compromisso efetivo no sentido de um cuidado maior com o tema”.
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