Do Niemeyer das curvas arquitetônicas às curvas dos biquínis de Lenny, Paula Klien é pura atitude!


Em bate-bola exclusivo, a fotógrafa revela sua persona e seu processo criativo no livro que registra a careta de Matheus Verdelho, o Rodin de Arduíno e o chamego de Piva e Tufvesson

*Com João Ker

Nestes últimos dias, um nome anda pipocando nas colunas de variedades dos sites e jornais cariocas: assim como Cazuza se interessava por raspas e restos, Paula Klien se interessa por pessoas. E é isso que ela clama com o lançamento do seu novo livro “Pessoas Me Interessam”, com coquetel marcado para esta noite de quinta-feira (29/5) no Jockey Club do Rio, às 19h. Nele, a fotógrafa exibe uma série de retratos com personalidades nacionais que vão de Lenny Niemeyer a Alice Dellal (que, por sinal, é a capa da publicação). O lucro obtido com as vendas será completamente revertido para o Instituto da Criança Pelo Artista. Uma boa causa, sem dúvida, mas nada que desvie o olhar da curiosa obra em si.

Dizer que Paula se interessa por pessoas é retórico. Basta olhar para seus trabalhos anteriores que isso fica claro: entre exibições, livros e editoriais para revistas como Vogue e Rolling Stone, o assunto principal da fotógrafa é sempre alguém, famoso ou não, a partir de quem ela possa criar imagens ora surrealistas à la David LaChapelle – como em “Gatos e Sapatos” -, ora cruas e provocativas, vide “It’s Raining Men”.

Em “Pessoas Me Interessam”, Paula Klien exibe toda a sua verve bressoniana em uma imagem que já é icônica antes de ser publicada. Assim como Annie Leibovitz teve seu momento com John Lennon, Paula teve a honra de ser a última pessoa a fotografar o mestre Oscar Niemeyer em vida, criando um retrato de valor simbólicoque entrará para a posteridade sem a menor sombra de dúvidas. Mas, antes que alguém diga que o significado dessa foto se dá mais pela importância do fotografado do que pelo trabalho de Paula, é bom ressaltar que, no caso, são as duas coisas em conjunto que fazem toda a diferença. Portanto, HT aproveita este momento para investigar as intenções da fotógrafa-artista em um rápido bate-papo, procurando elucidar algumas questões.

De supetão, HT pergunta logo de cara quem seriam, afinal, as pessoas que interessam à artista. A fotógrafa não se faz de rogada: “Pessoas com atitude, que não fazem a menor questão de serem iguais, que se assumem e prezam sua individualidade”. Nesse viés, fica claro folheando o livro que o time de retratados – em casting realizado em conjunto entre ela e o badalado produtor de elenco Candé Salles – é, como Paula afirma, “aquele grupo de pessoas que rema contra a maré da mesmice”. Fato. Ao conferir no calhamaço, pode-se ver desde a bem-nascidérrima it-girl Alice Dellal, que mesmo com todo o dinheiro de família preferiu se tornar dublê de rocker e modelo, em visual que poderia deixar suas coleguinhas de escola de sobrancelha saltada. Ou o bonitão Matheus Verdelho que, no auge da fama como top model, todo tatuadão, já raspou a cabeça e – sob o olhar de muitos (dos mesmos) – se “enfeiou”, envergando um dente de ouro no melhor estilo “bicheiro de outrora”. Ou vilão de James Bond. O feito por si só já seria bizarro, não fosse o fato de o modelo ter acentuado a questão optando por fazer a tal body modification logo no incisivo central. Um acinte para muitos. E pior: deu uma banana para a mediocridade e topou participar de um reality show bagaceira na tevê aberta, mesmo com a legião de fãs torcendo o nariz para a empreitada.

Nesse âmbito, até a presença de Oscar Niemeyer chega a ser uma remada contra a tal maré, já que a insistência em viver mais de 100 anos – e trabalhar até o último momento, conservando sua peculiar lucidez – seria a maior de todas as bravuras na hora de acenar para individualidade. Ou de outra homônima sua de sobrenome, a Lenny da praia, que mesmo com as dificuldades impostas ao mercado da moda por um país de intermináveis agruras econômicas, insiste em se manter no topo do life style, se tornando a referência nacional do estilo nesse segmento, como a cabeça criativa da principal label de beachwear. E põe a  tal atitude descrita por Paula Klien nisso, já que a estilista nem carioca de nascença é, mas paulista. Do alto de sua imponência, ela posa orgulhosa como fiel representante desse espírito de quem vive no Rio, envergando sua famosa piteira como se fosse a Madame Rosa daquele jogo “Detetive”.

Através das imagens em preto-e-branco, a fotógrafa faz retratos fieis não só das pessoas que captura, mas de gerações de personagens que, cada um a seu modo, deixam uma forte impressão no atual panorama da cultura e sociedade brasileiras. O tratamento das imagens talvez lembre os famosos retratos do irrequieto Steven Meisel e a irreverência que permeia cada um dos temas remete vagamente aos retratos de Mark Seliger, mas a pitada brasileira que Paula impõe é o que faz dessa série única.

Aliás, questionada sobre qual seria o profissional das lentes que lhe inspira nessa busca pelo individual, Paula nem pensa duas vezes: “Terry Richardson”. HT nem titubeia: “Mas, Paulinha, ele é famoso pelos full frontals. Você posaria nuinha em pelos para o moço?” A resposta vem em segundos: “A Paula Klien que é ousada e não liga para o que os outros pensam, sem dúvida, mas não posso deixar de levar em conta que existem outros ‘eus’ por aí que tomariam em consideração vários aspectos e não permitiriam tal desprendimento na prática”, confessa a ragazza.

Logo, diante disso, o interesse parte para a descoberta de quem seria a própria artista que anda na contra-marcha da pasteurização, dentro da temática do novo livro: “É justamente essa personagem real que não se acomoda com rotinas e que procura viver o sonho de ser fotógrafa, tão essencial para mim quanto respirar, mesmo que pudesse sobreviver clinicamente sem tirar uma foto sequer. Essa sou o ‘eu’ que nada contra a correnteza, que não se aquieta com nada, mesmo não precisando”, confessa a fotógrafa. E quem seriam todos esses múltiplos existentes dentro desse corpitcho de sílfide, meu bem? “Bom, existem várias Paulas, desde a bonita, a básica, aquela que é toda família e é casada há 22 anos e a irreverente. E também aquela que tem amizades de todos os tipos, indo do luxo ao lixo sem pestanejar, com a curiosidade de uma flapper, da qual tenho muito orgulho”, completa a mulher. Bom, quase um caso de seção de ego, como se a Paula Klien da prosa gostosa fosse uma espécie de Sybil de muitas personalidades, ou uma legião de entidades dentro de um único pedaço de carne. “E por que, não?”, destaca.

A fotógrafa afirma ainda: “Disseco rostos, olhares, corpos e almas em minhas sessões fotográficas. Ao avesso, essas criaturas me permitem decidir se irei dirigi-las ou se me deixarei surpreender dando-lhes total liberdade de expressão”, explica a artista. E continua: “Pessoas de verdade me interessam. Gente que ama, odeia, ri, chora, grita  e dá gargalhada.…Tudo ao mesmo tempo! Me interessa quem não tem vergonha de ser o que é, de sentir o que sente e de fazer o que quer”. Basicamente, Paula afirma que gosta de pessoas. Mas, principalmente, pessoas com alma e essência verdadeiramente brasileiras: imperfeitas e, em momento algum, envergonhadas de serem humanas.

 

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Fotos: Paula Klien | Divulgação