Paul Walker: a morte prematura do astro se beneficiará de James Dean ou desaparecerá para sempre na fogueira de vaidades?


Assim como a antigo astro, que também perdeu a vida em um trágico acidente de carro, o ator de Velozes e Furiosos pode sobreviver às agruras do tempo!

O falecimento do ator norte-americano Paul Walker, ontem à tarde, motivado pelo acidente de carro que lhe roubou a vida, é mais um exemplo contumaz de como esta pode ser veloz e furiosa. Californiano de 40 anos, o astro louro da franquia Velozes e Furiosos está fadado a entrar para o panteão de estrelas do showbizz (com Hollywood e a música pop dominando a cena), não aquele composto por rostinhos bonitos e momentâneos, que duram menos até que os 15 minutos preconizados de Andy Warhol, mas aquele que imortaliza seus integrantes ad eternum, independente de terem talento ou não. O astro falecido ontem, no acidente que lhe roubou a vida, vai durar.

Nesta galeria macabra de quem permanece no estrelato, em um sólido pedestal mesmo décadas após a morte anunciada, encontram-se indiscutíveis talentos que fizeram toda a diferença – como Charles Chaplin, Alfred Hitchcock, Amy Winehouse, Marlon Brando, Bette Davis, Elis Regina, Janis Joplin, Liz Taylor, Lady Di, Jim Morrison ou Audrey Hepburn -, assim como aqueles que não fizeram nada demais, poderiam passar em brancas nuvens, mas que, por serem detentores de um belo par de olhos, sex appeal suficiente para provocar gritinhos em adolescentes e physique du rôle digno de marcar presença em eventos corporativos, foram apropriados pelo sistema, venderam feito água e também acabaram se eternizando, em uma mistura ácida de beleza arrebatadora e ausência de maiores atributos, pilar tão fundamental para a subsistência da tal sociedade do espetáculo como o ar que se respira no planeta.

Existem também aqueles que, como Marilyn Monroe, Carmen Miranda e James Dean nos anos 1950/1960 ou River Phoenix, Cazuza e Kurt Cobain nos anos 1990, conjugavam inegável talento com um belo par de coxas, curvas sinuosas, madeixas lânguidas, topetes proeminentes, peitorais másculos e olhares de lince. Esses, além de suas incontestáveis capacidades e carisma avassalador, tiveram a sorte de desaparecer no auge, com sua juventude intocada, décadas antes de a gravidade e os radicais livres começarem a fazer o estrago. Mas, claro, a quantidade dessas estrelas, que conciliam sedutor apelo sexual e reconhecidas qualidades com beleza congelada pelo desaparecimento prematuro, não faz frente ao volume de astros bonitinhos forjados pela indústria do entretenimento, cujos dotes são questionáveis. Nem de perto.

Fotos: Vinícius Pereira

Belezas faceiras e clonadas de outras surgidas em cardápios mais substanciosos tendem a não durar. Costumam cair no mais completo lapso de memória pouco tempo após terem a morte promulgada, ou se tornam apenas bizarros registros de como as corporações podem ser cruéis com as criações que concebem para gerar receitas. Os executivos dos conglomerados de entretenimento, tal a sua frieza, poderiam causar náuseas em notórios artífices de pobres criaturas, como o Barão Victor von Frankenstein da literatura ou o Doutor Calighari do cinema expressionista alemão. Comparados aos primeiros, esses são fichinha.

Exemplo de como um produto do sistema pode ser completamente esquecível é a imitação grosseira de Marilyn Monroe, a peituda Jayne Masfield. Detentora de duas melancias, no lugar do seios, que poderiam facilmente fazer a mais voluptuosa das mulheres-fruta atuais ter convulsões de inveja, a loura foi playmate na edição de fevereiro de 1995 da Playboy americana e fez enorme sucesso, atraindo a atenção dos mesmos executivos da Twenthieth Century Fox, que já tinha a loura original, Marilyn, em seu casting. Afinal, a vontade de estragar um produto que já se tem nas mãos, com receitas e mais receitas de cópias, pode ser avassaladora. Jayne, que assim como outras louras-clone da estrela de “O pecado mora ao lado” – como Mamie Van Doren na Universal-, não durou, foi logo aproveitada pelo mesmo estúdio da louraça mais famosa em uma penca de filmes classe B.

E, como a arte imita a arte e a vida imita a vida, ela também morreu nova, aos 34 anos (quase quatro anos após Marilyn), em um acidente de carro, parecido com o de Paul Walker, não deixando lembrança na cabeça do grande público. Como um espectro, cuja memória vai se evanescendo aos poucos, seu desaparecimento, em 1967,  foi sendo apagado, sem sobreviver às gerações seguintes como ícone. Hoje em dia, sub existe apenas como mero objeto de estudos cinematográficos ou exemplo de como as engrenagens midiáticas atuam. Quem ainda tem idade para se lembrar dela a vê somente como uma loura de seios avantajados que imitava Marilyn. Ponto.

Walker tinha tudo para ser incluído nesta triste relação de estrelas que, após a morte, acabam destinadas ao esquecimento total. Em suas últimas vindas ao Brasil, para promover nova franquia da série Velozes e Furiosos ou para desfilar na SPFW para a Colcci (para quem, inclusive, acaba de estrelar mais uma campanha, junto com Gisele Bündchen), o ator revelou, através de seu físico fora de forma, o quanto se render ao sistema pode ser implacável. Os tablóides não se furtaram de flagrá-lo na praia, em Copacabana, no Rio, portando uma barriguinha que nada lembra o abdômen-tanquinho que exibia no início da carreira.

Fotos:  Sebastian Kim/Divulgação

O acidente de carro, ocorrido na cidade de Santa Clarita, no sul da Califórnia, ontem à tarde, fazia parte de uma ação beneficente promovida pela organização Reach Out Worldwide, e a receita da corrida está destinada a beneficiar as vítimas do tufão Haiyan, nas Filipinas. Como se sabe, os seres humanos adoram incensar aqueles que perdem a vida em situações filantrópicas. Mesmo que o motivo da perda seja insensato, como dirigir em alta velocidade. “Paul Walker era o passageiro no carro de um amigo, no qual ambos perderam a vida”, informou a equipe de relações públicas do ator no Facebook. Por isso mesmo, o astro vai ter seu nome guardado na memória dos fãs e não deverá desaparecer ao longo do tempo.

Tudo isso conta, e muito! E, além disso, faz sentido ainda o fato de o bonitão ter desaparecido na flor da idade, em um evento deste tipo, evocando o falecimento precoce do maior de todos os astros, em todos os tempos, a relacionar talento com beleza, sexualidade, vigor e juventude: James Dean, morto em outro trágico acidente dos volantes em 1955, com 24 anos. As comparações serão inevitáveis e Paul Walker se beneficiará da aura que envolve o antigo artista. Mesmo que, ao contrário de Dean – que, em quatro anos e três filmes mudou a história do cinema para sempre -, o louro da vez, com pouco mais de dez anos de carreira (começada em 2001), ainda tivesse muito a dizer.