Patrícia Elizardo está em um momento muito feliz de sua carreira. Cheia de bagagem com trabalhos importantes, a atriz se despede se sua personagem na trama de O Outro Lado do Paraíso, onde interpretou uma médica obstetra que possuía um caráter dúbio. Ao mesmo tempo que era uma mulher preocupada com as suas paciente, ela não poupou esforços para destruir o relacionamento dos personagens de Caio Paduan e Erika Januza. Agora no final, a artista relembrou toda a sua trajetória até alcançar a qualidade de atuação que passou na telinha. “Quando descobri que ia fazer uma obstetra fiquei bem alerta, porque eles parecem ser super heróis para mim. Passei um tempo com alguns médicos para entender como funcionava o dia-a-dia deles e entendi que para fazer dez partos em um dia é a coisa mais natural do mundo. Assisti alguns nascimentos em clínicas particulares e públicas e isto me trouxe a realidade”, comentou. A veracidade exposta na tela de seu papel é fruto de uma intensa preparação artística.
O Outro Lado do Paraíso levou temas muito importantes e igualmente polêmicos para os holofotes. A personagem de Patrícia teve um papel atuante em meio à discussão da violência contra a mulher ao prestar toda a ajuda e cuidado necessários à paciente Clara, vivida por Bianca Bin, que foi agredida fisicamente pelo marido. “O abuso sexual é muito comum. Conversei com muitas mulheres ao meu entorno e 90% delas já tinham passado por algo parecido. Muitas pessoas acham que por não ter o ato sexual aquilo não configura um crime, mas na verdade uma mão e um olhar já são. A nossa sociedade é muito machista e muitas vezes não sabemos que nós estamos sendo. É um tema velado, principalmente, entre as mulheres porque têm medo de falar. Por mais pesados que estes temas sejam acho muito importante serem retratados na novela das 9”, debateu.
Entre as discussões, a trama fez o público refletir sobre os casos de corrupção que acontecem dentro no sistema político brasileiro. Na narrativa, a personagem Clara, de Bianca Bin, foi presa em uma clínica psiquiátrica devido a um diagnóstico falso de um médico e à sentença precipitada de um juiz, que atuaram desta forma devido a um recebimento de propina. “A corrupção precisa ser combatida dentro de nós mesmos. Obviamente a situação está muito caótica, não preciso nem falar sobre quem está no poder, é só ver a quantidade de pessoas que está passando fome e morrendo no hospital. Isto todo mundo já está cansado de saber. No entanto, é fundamental ter a consciência que, enquanto a gente não muda as nossas atitudes nos mínimos detalhes, não vamos conseguir mudar o nosso país e construir uma sociedade que não será corrompida. O cara que votamos para nos representar e está roubando poderia ser qualquer pessoa. Temos que ter consciência das nossas atitudes”, afirmou.
Patrícia é uma atriz que veio do teatro e é reconhecida no meio por seu talento. “O teatro é a base do ator, é ali que ele nasce e se renova. Os palcos exigem o nosso corpo inteiro e emocional equilibrando. Esta é a grande questão do artista, ele precisa estar vivo e presente como um todo”, comentou. Recentemente, a famosa foi indicada ao Prêmio Botequim Cultural pela sua atuação no espetáculo ELA, que trata da esclerose lateral. Patrícia contou que teve muito cuidado no momento de criação de sua personagem para esta montagem. “Foi uma oportunidade maravilhosa falar sobre isso ao lado de grandes atores. É uma doença que pouca gente conhece, porque os órgãos vão parando e a pessoa começa a perder as suas funções vitais. O tema é difícil, mas acho que conseguimos comentar sobre a vida, ao mesmo tempo. Foi um processo muito colaborativo onde fomos pensando em que situações gostaríamos de abordar. Estudamos muito para entender sobre o assunto para poder comunicar isto. A peça foi um trabalho importante na minha vida”, informou.
Inicialmente, Patrícia começou neste formato para alcançar às novelas. Mas, mesmo traçando o seu espaço na televisão, a artista não abre mão de retornar aos palcos. Sendo assim, está acompanhando de perto todas os problemas que o ramo está enfrentando com a falta de fomento e público, por exemplo. “Tenho muitos amigos que estão passando por muitas dificuldades neste momento, porque muita gente só sobrevive com o orçamento do teatro. A situação é muito triste. Neste período que estamos, infelizmente, a cultura está sendo muito desvalorizada e prejudicada pelas pessoas que estão no poder. Além disso, o público está confundindo muito do nosso trabalho dizendo que é só lazer e entretenimento, mas a arte educa e nos faz refletir sobre muitas questões. Um ator estuda tanto quanto um médico. É um dos elementos essenciais de uma sociedade saudável”, lamentou.
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