*Por Brunna Condini
Pauta em destaque nos últimos anos, o tema empoderamento feminino, vem para dizer, abertamente, entre tantas coisas, que mulheres podem fazer o que quiserem e escolherem de suas vidas, independente do esperado socialmente para elas. E Samara Felippo, concorda e vive integralmente isso.
A atriz de 41 anos, mãe de Alicia,10 anos, e de Lara, de 6, frutos de seu relacionamento com o jogador de basquete Leandrinho, curtiu e muito o carnaval, mas não deixou de atuar na festa popular, fazendo críticas, sobre o que acredita. Até porque, Samara assumiu as rédeas do próprio destino, tanto pessoal, quanto profissional, e tem usado as redes sociais, para dividir com seguidores e fãs, experiências e questões comuns à sua geração.
Com exclusividade ao site, ela falou, entre muitos assuntos, sobre a repercussão de uma das fantasias que desfilou no carnaval de Olinda, Pernambuco, em que usava uma peruca loura e uma placa, com os dizeres: “aquela atriz”. “Foi uma grande brincadeira, é um grande deboche. Parece que se você não está na Globo, não está trabalhando, fazendo nada, então você é “aquela atriz”. Quis brincar com isso e as reações foram incríveis”, esclarece, divertida. “Hoje em dia, produzo e atuo no meu espetáculo, minha festa, toco como DJ. Também estou fazendo uma série no Discovery Kids, chamada “Mundo Azul”. Enfim, e tem muita gente que me pergunta se eu não estou fazendo nada e por que não estou em nenhuma emissora agora. Aí brinquei com isso. Está tudo bem mesmo, tiro de letra”.
Recentemente, Samara esteve no ar na TV em “Topíssima” (2019), na Record, e afirma que continua tendo uma boa relação com a emissora que a lançou, e na qual trabalhou muitos anos da carreira: a Globo. Voltaria a trabalhar em novelas lá? “Sim, com o maior prazer. Como também, quero as portas da Record sempre abertas. Foram duas emissoras que me deram muitas oportunidades de trabalho. Amaria voltar a fazer novela na Globo. Fico até brincando, que seria lindo se a Erica voltasse para a “Malhação” (Samara teve muito sucesso com a personagem na 6ª temporada da novela). Até hoje as pessoas falam desta personagem”, conta.
“É bom até dizer que estou sem contrato, estou free. Esse também é o grande barato da vida do ator. É muito bom ter um contrato, uma estabilidade, mas é bom também, você estar de portas abertas para todo tipo de arte, agora que a gente tem, além de tudo, as plataformas digitais. É isso e estou aceitando convites”, anuncia.
Inquieta, ela retornou aos palcos, ano passado, em um espetáculo escrito ao lado da atriz e amiga Carolinie Figueiredo, “Mulheres que Nascem com os Filhos”, com o tema da maternidade, já que Carolinie também é mãe de Bruna,7, e Theo, de 5. Sobre a peça, vocês a criaram falando de temas ligados à maternidade, se desnudando em cena, e têm muito feedback das mulheres e mães seguidoras. Qual é a sensação de colocar essas dores e delícias no palco? “É uma das minhas grandes realizações de vida, como mulher, mãe, atriz, produtora. Tudo que eu sempre quis dizer. É um trabalho relevante, que acho que as pessoas precisam ouvir. E o espetáculo não é só para mulheres. Quando estreamos em São dos Campos, em São Paulo, descobrimos que a peça não é segmentada”, analisa.
E Samara acrescenta: “É para todo mundo que veio de um útero, que rodeia uma mulher grávida, que é filho, sobrinho, avó, mãe, que cuida de uma criança. A peça é de todo mundo e muito verdadeira. É uma catarse minha, da Carol e da Rita Elmor, nossa diretora, em relação a desromantização da maternidade. Para dizer, que somos mais do que mães, e conseguimos criar coisas além de filhos. A mulher é livre”, decreta.
Você e Carolinie são muito amigas, dividem as experiências, e falam abertamente sobre vários assuntos, como empoderamento, resgate do feminino, e a aceitação de um corpo real. Como nasceu essa amizade? “Nos conhecemos há muitos anos, em uma oficina na Globo. Eu já era mãe, e ela, ainda não. Logo depois, ela ficou grávida e me procurou. Acho que é importante, neste momento, se cercar de mulheres que possam te ajudar. E a maternidade nos uniu de forma muito intensa, muito linda de ver”, lembra. “Fomos juntas, aos trancos e barrancos, cada uma com suas alegrias, seus problemas, suas dores, caos, questionamentos, nos apoiando uma na outra. Considero a Carol minha família, minha rede de apoio, como ela me considera. É uma irmã”.
Quais os desafios de uma mulher, podemos dizer, mãe solo, de duas, e e que gerencia ativamente sua carreira, nos dias de hoje? “Uma vez, eu fiz um post despretensioso sobre amar minhas filhas, incondicionalmente, mas não amar ser mãe. E quando falo disso, é sobre esse trampo, essa jornada tripla. Imagino o perrengue que tantas mães e mulheres não passam. Então, quando falei isso, e também ter dito, por exemplo, que não gostei de ficar grávida, vi em cada sentimento que você expõe, que você é rechaçada… é ‘doida’. Dizem o que você não pode sentir”, aponta.
“Mas descobri que posso, sim. Não só posso, como tenho que falar sobre isso. Descobri que o feedback que tenho de tantas outras mulheres, é muito positivo. É se eximir de uma culpa, é tirar um peso das costas. Elas se identificam, se sentem menos sobrecarregadas só por conseguir sentir, validar isso. Isso é amar os filhos incondicionalmente, continuar na tripla jornada, mas se permitir sentir o que se sente, e olhar para isso. Ainda mais sendo mãe solo. Ser mãe solo é um lugar de muito cansaço. Emocional, principalmente, para quem tem ajuda, rede de apoio. E também, físico e emocional, para quem não tem nenhum tipo de rede de apoio. Costumo dizer, que ser mãe solo, é também quando você não tem pelo menos 50% de divisão de tarefas da criação destes filhos com o pai, o parceiro, a partir disso, você é mãe solo e ponto final. É que a denominação de “mãe solo”, já traz uma ideia que quando você começa a namorar, já quer um pai para o seu filho, já começam a te rotular. Para voltar ao emprego, também é mais difícil, são inúmeras barreiras que precisamos transpassar como mulher, profissional”, ensina, em papo direto, a partir da sua experiência e observação.
Você trocaria seus 41 anos pelos 20? O que ganhou que ninguém te tira? “Não trocaria. Acho que curti muito, cada fase. Tropecei, errei, levantei, e me deram a mão, aceitei. Essa coisa de aceitar ajuda, é importante. Depois que me tornei mãe, aprendi a delegar. E isso é muito difícil, não para mim, mas para muitas mulheres”, divide.
“Agradeço por essa maturidade. Costumava dizer que queria que ela chegasse aos 20, mas hoje acho que estou na época certa, na hora certa. Conseguindo passar para as minhas filhas tudo que aprendi, acho certo. Agradecendo à minha mãe, por todo o caminho que ela traçou comigo, mas também dizendo, que daqui para frente, sou eu quem guio. Quero o amor de avó dela, e carrego a educação dela, os valores que ela já me passou. É bom dizer isso, porque têm pessoas que te amam, amam seus filhos, e por estarem por perto, acabam querendo educar junto com você o tempo todo, o que é muito difícil. E eu, aos 41, já sei dizer isso com toda propriedade. A vida me trouxe segurança como mulher, o tal do empoderamento. Me sinto capaz de guiar minha própria vida”.
Samara sabe o que deseja. E isso inclui, ser uma mulher plena e dona das próprias escolhas e caminho, amar, criar as filhas com sabedoria, e hoje, levar a peça “Mulheres que Nascem com os Filhos”, para o maior número de pessoas possível. “Vamos fazer a peça no Recife. Preciso muito de patrocinadores. É um projeto que levantei sozinha, e é um trabalho importante, meu, da Carol e da Rita. Importante para todo mundo. Então, quem puder chegar junto, acho que é um tema em ebulição, junto com outros assuntos que ainda virão à tona, necessários”, decreta. “Queríamos reestrear no Rio de Janeiro e São Paulo, fazer as duas grandes cidades, e sair em turnê. É uma peça barata e lotamos em todas as vezes que fizemos, e com as pessoas saindo, na maioria das vezes, em catarse. Acho que a arte é para isso, e também resistência. As pessoas saem pensando, refletindo”.
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