*Por João Ker
Otávio Müller, famoso por seus papeis de humor na TV como o atual Djalma da série “Tapas e Beijos”, estreia, no Teatro dos Quatro, o monólogo “A Vida Sexual da Mulher Feia”, uma comédia baseada no livro homônimo da gaúcha Cláudia Tajes. Com direção do próprio Otávio, a peça gira em torno de Maricleide, uma mulher “esteticamente desfavorecida” que, como a maioria dos outros seres humanos, está em busca do amor (o que no caso dela é um pouquinho mais complicado do que o normal).
Esta é a primeira vez que Otávio Müller sobe ao palco sozinho, o que para ele não é nem de perto assustador: “Vai parecer um pouco presunçoso isso, mas não é. Acontece que eu sou tranquilo no palco, ainda mais se estou bem ensaiado. É meio esquizofrênico, mas eu me sinto em casa”, confessou Otávio, em entrevista exclusiva para HT. Esse conforto teatral fica óbvio desde o momento em que o ator pisa no recinto e vai se dirigindo ao centro do palco, fazendo piadas com a plateia e aquecendo os ânimos: tanto os dele, quanto os do público.
Em “A Vida Sexual da Mulher Feia”, Otávio interpreta todos os personagens, se dividindo em personalidades distintas e alternando o semblante, a voz e a postura em frações de segundo. Com humor e leveza, o ator consegue passar de uma jovem Maricleide maltratada e desesperada a um pretendente garanhão que convence mesmo com a peruca de cachos pretos e o vestido de bolinhas. Apesar da baranguice e da dificuldade em encontrar parceiros, Maricleide não deixa de ir à luta e de procurar alguém que consiga satisfazê-la mesmo que minimamente, ainda que vez ou outra caia em alguma crise depressiva. Apesar desses “deslizes”, não há espaço para a melancolia no palco. Otávio trata esses problemas de autoestima com um humor autodepreciativo que zomba ao mesmo tempo da personagem e dele mesmo. “A gente não pode esquecer que sou eu o barango ali, interpretando a Maricleide. Então ela é feia mesmo. É preciso olhar tudo com bom humor, e isso ela tem bastante. Até porque gente encalhada sempre tem por aí aos montes, seja homem ou mulher”.
O texto se apoia inteiramente no talento e timing cômico de Otávio, sem a necessidade de muitos recursos cênicos. Ajudado por algumas projeções aqui e ali, um fundo musical que aparece ocasionalmente e algumas mudanças de figurino – que ele realiza no próprio palco, ao ponto de ficar seminu em uma dessas cenas -, é a entonação histérica, os chiliques desbocados e o uso do próprio corpo como instrumento, quase em uma pantomima, que fazem o público se contorcer de rir nas cadeiras. Claro, há também as situações nas quais Maricleide aparece mais branda e com o volume reduzido, que servem como prova de que Otávio não precisa gritar o tempo todo para que suas piadas surtem algum efeito. Em ambas as ocasiões, as risadas são garantidas.
A personagem passa por experiências que são, ao mesmo tempo, tragicômicas e incrivelmente reais: uma viagem a Xerém em busca de sexo com um lunático, o encontro com um bizarro namorado que foi peneirado na internet, desilusões amorosas que são frequentemente agravadas pela questão estética de Maricleide e traumas de popularidade na infância. A peça fica carregada de humor até a cena final, quando apresenta, mesmo que involuntariamente, uma mensagem romântica e que servirá para muitas e muitos como uma autoajuda. Ainda assim, Otávio frisa que esse não é o objetivo do texto.”Não é exatamente uma mensagem nem um manual de autoajuda, é uma experiência dela, da Maricleide. Ela é uma mulher que vai à luta e que não perde o bom-humor, então a gente acaba puxando para esse lado da roubada e da coisa ruim. Com o fair play você sai dessas situações, mas isso também não impede que você fique deprimido. É tudo uma questão de autoestima”, explica.
A peça, que já passou pelo Teatro Gazeta em São Paulo e deve ficar até a metade de julho em cartaz no Rio, vai virar filme em meados de 2015. O processo ainda está em fase de pré-produção, mas Otávio conta que, no longa-metragem, ele pretende trazer alguns amigos para contracenarem com ele. Ainda assim, o teatro sempre será sua casa, na qual ele não sente a menor vergonha em se expor: “No palco, o ator está sempre exposto, não importa o que esteja fazendo. É preciso entender isso e, a partir daí, perceber que não há limites”. Então, para ele, não existe nenhuma barreira intrespassável no palco, nada que ele se recusaria a fazer? A resposta chega a jato e sem a menor sombra de humor: “Campanha política”.
Serviço:
“A Vida Sexual da Mulher Feia”
Gênero: Comédia
Duração/Recomendação: Duração: 80 minutos. Classificação: 12 anos.
Elenco/Direção: Texto: Claudia Tajes. Adaptação: Julia Spadaccini. Com: Otávio Müller
Quintas, sextas e sábados às 21h30
Domingos às 20h
Artigos relacionados