A novela das 6, Tempo de Amar, já chegou ao fim e o elenco ainda está se despedindo dos personagens. No caso da atriz Olivia Torres, o adeus é ainda mais complicado por se tratar de um papel que evoluiu muito durante a teledramaturgia, o que foi um desafio muito gostoso de ser realizado. Teresa se casou às escondidas, engravidou, denunciou as atrocidades da mãe e outros momentos que foram marcantes para o desenvolvimento da figura. “Ela passou por experiências que vão além do cotidiano como a descoberta de quem é o pai. Por causa disso, parece ter vivido muitas vidas dentro de sete meses de dramaturgia, sem nenhum desvio de comportamento. Apesar de todas as limitações da época, ela se tornou uma mulher. Estou muito contente com o final dela”, comentou. De acordo com a intérprete, o fim de uma novela representa a morte, de certa forma, de uma vida que ela teve capacidade de acompanhar e construir. Apesar disso, Olivia já possui muitos projetos concretos em sua agenda, no entanto não pode revelar ainda quais serão somente comentou que irá participar de um filme dirigido por Bruno Mello – ainda sem título definido.
O mais interessante desta interpretação é que Olivia Torres precisou lutar contra ela mesma ao preparar a personagem visto que Teresa não tem nada a ver com ela. Diferentemente do papel, a artista não tem nenhum compromisso com as construções impostas pela sociedade. “Existem mil pressões feitas sob a figura da mulher desde o casamento até a figura estética. No entanto, atualmente entendi que não preciso mais me sujeitar a estas questões. Não posso dizer que estas coisas não me atravessam, mas escolho me colocar contra elas. É um exercício cotidiano não cair nestas amarras, porém fico feliz que o gênero não tenha que se abster a determinadas situações”, afirmou. Com segurança e determinação, ela se auto-intitula feminista.
Empoderada, a musa está sempre preocupada em se informar mais sobre o tema através da leitura de livros escritos por autoras. Esta vontade de se aprofundar na luta das mulheres começou há três ou quatro anos, quando sentiu vontade de entender algumas ideias pré-determinadas da sociedade. “Algumas situações ocorreram comigo e as minhas amigas e nós começamos a procurar mais informações sobre o movimento. As minhas indagações me fizeram pesquisar e, no início, fiquei muito horrorizada ao entender que tudo está acontecendo devido uma sociedade patriarcal”, lamentou. O conceito é tão importante na sua vida que ela começou a montar um espetáculo sobre o tema. O projeto ainda é embrionário e não tem previsão de estreia.
A partir desta discussão, o ano de 2018 está sendo muito inspirador para Olivia Torres. A atriz está acompanhando de perto os protestos feministas que estão rolando ao redor do mundo, desde Hollywood até em um colégio particular no Rio de Janeiro. “Acho que a nossa geração está fazendo a diferença. Todos os recentes acontecimentos vêm para acrescentar. Fiquei emocionada de ver os discursos no Oscar e no Globo de Ouro. Este é um momento de muita luz sob o feminismo e estou feliz que estamos conseguindo usufruir disto da melhor forma possível. Sinto que a nossa voz está sendo escutada. Além disso, vejo que as adolescentes estão vindo com uma força muito maior do que a minha”, argumentou.
A atriz também levou estes questionamentos feministas para o cinema. Ela é uma das integrantes da equipe e elenco do filme feito pela companhia de teatro Plano Coletivo que foi inteiramente feito por jovens atores através de financiamento coletivo. “Cada um falou quais questões queria abordar e fomos criando a partir disso”, comentou. Olivia quis falar sobre a questão da mulher e, por isso, vive na trama uma menina que tem um relacionamento conturbado. “O filme foi feito com muito suor e de uma forma complexa. Nós lutamos muito para fazer este longa e, talvez, por isso tenha sido tão enriquecedor para nós. No teatro, estamos acostumados a fazer histórias a partir do improviso e este roteiro foi construído assim, com a ajuda de todos. O processo foi muito valioso para a gente”, comemorou.
A dificuldade em encontrar investidores para este cinema de pesquisa apenas comprovou a dificuldade que existe de empreender no Brasil. “Na verdade, o teatro mostra isto todos os dias. Vemos uma falta de incentivo absurda, as plateias estão vazias porque não há um estimulo à cultura. Vemos que a experimentação cultural está cada vez mais sendo deixada de lado. É muito triste ver que a pesquisa não é levada em consideração. Cada vez mais nos vemos sem possibilidade de nos desenvolver como artistas”, lamentou.
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