* Com Isabella Pavão
Que atire a primeira pedra quem nunca sacou o celular para fazer uma selfie, não é mesmo? E é com uma reflexão sobre a nossa dependência tecnológica atual que Mateus Solano e Miguel Thiré voltam à cena com a peça “Selfie”. Com direção de Marcos Caruso e texto de Daniela Ocampo, a peça, que foi idealizada pelos atores em parceria com o produtor Carlos Grun, reestreou no Teatro do Leblon. A história tem reflexões e indagações sobre os valores sociais e morais nos meios de comunicação, as relações distorcidas entre as pessoas, a auto-exposição exagerada e a interferência da tecnologia na vida hoje em dia. Mas tudo isso tudo com muito humor.
Mateus Solano vive Claudio, um cara super conectado, que armazena toda a sua vida em computadores, e que bola um projeto de um sistema único de armazenamento de dados, para poder dar tchau ao Facebook, ao Google, ao Instagram e a todas as redes que ele vive “preso”. Só que, no meio do caminho, acontece um acidente e perde todas as suas informações. A partir daí, começa uma saga atrás de suas memórias apagadas, já que todas eram virtuais. O personagem tem a ajuda de Miguel Thiré e seus – pasmem – 11 personagens.
Os atores, que já se conheciam de outros carnavais, tiveram a ideia do tema da peça em conjunto. “Mateus e eu já trabalhamos juntos algumas vezes, e conversando com o Carlos Grun, ele deu a sugestão de fazer mais uma peça juntos. Quando a gente estava pensando sobre o que falar, veio a ideia de abordar a questão da tecnologia, já que na mesma hora nós três pegamos o celular para pesquisar sobre o tema”, disse Miguel. “Selfie” foi a palavra mais falada de 2014, mais acessada, mais digitada. E a partir dessa palavra, em três meses e meio, surgiu esse espetáculo, que fala sobre muito além da selfie, fala da conectividade, dos prós e contras dessa vida que a gente leva, das nossas relações e da memória que inserimos em um celular”, completou Mateus.
A comédia, que esteve em cartaz no Rio por três meses, passou por algumas outras cidades, terminando a temporada no Paraná, onde encerrou o Festival de Curitiba de 2015 com um dos maiores públicos já reunidos pelo evento. Agora, a peça volta à Cidade Maravilhosa, onde tudo começou em outubro do ano passado. “Retornar ao Rio está sendo ótimo. Nós até ficamos um pouco preocupados, por já termos feito a peça aqui, mas a recepção do público na nossa nova casa foi maravilhosa”, Mateus contou ao Site HT. E, como boa dupla, Miguel completou: “Está sendo um prazer enorme voltar ao Rio, fazer essa peça só com pessoas que a gente ama, e com a direção do Caruso, que é uma pessoa incrível. É mais um sonho que a gente está realizando”.
O diretor, que trabalha com a dupla pela primeira vez, se entusiasma pela discussão e pelo processo criativo propostos por Mateus e Miguel: “O que me move para aceitar um trabalho no teatro é a paixão por uma ideia. Dirigir “Selfie” me proporciona abordar um tema extremamente contemporâneo”, disse Marcos Caruso. “Tenho absoluta certeza que o texto excelente e as interpretações impecáveis, somados à equipe maravilhosa do espetáculo, vão levar diversão, emoção e reflexão à plateia, sobre essa questão fundamental da sociedade atual”, completou.
E realmente, toda a atenção do público vai para os atores, já que a cena é limpa e concentrada neles. O palco só conta com um revestimento no chão, que remete ao formato de um tablet, e dois bancos. Os figurinos também seguem a mesma linha essencial, não se impondo à cena e contribuindo para a construção dos personagens, que não são poucos. Miguel se desdobra em vários, que interagem com Mateus ao longo da peça. “É muito engraçado interpretar vários tipos, porque sempre tem um pouco do nosso cotidiano. Tem dia que a gente faz um melhor, no outro dia um outro sai mais naturalmente… O importante é tentar não deixar cair na caricatura ou em um show de humor. A ideia é que seja engraçado, mas o mais importante é ajudar a contar a história”, contou o ator, que também falou um pouco como foi se preparar para dar vida a tantos personagens diferentes. “Observação de casos, um pouco de gente que eu conheço… Tem personagem até de outra peça que eu dirigi e peguei emprestado. Tem de tudo um pouco”.
Entrando no clima da peça, o Site HT aproveitou para perguntar para quem passou por lá: qual a relação com a tecnologia? Começando pelos protagonistas, Miguel disse: “Todo mundo é viciado em internet hoje em dia, e eu também sou. Particularmente, não sou tão adepto da selfie, mas sou obsecado por ficar olhando previsão do tempo e do trânsito no celular o tempo todo”. Já Mateus admite que não é um super fã das redes sociais, mas que se rendeu à tecnologia: “Hoje em dia não tem muito como escapar, não é? Eu acho ótimo, porque acaba aproximando as pessoas. Por exemplo, grupo da família no whatsapp, que reúne todo mundo, mesmo cada um estando em um lugar diferente. Eu só não sou tão adepto das redes sociais. Até tenho meu Twitter, mas não uso tanto quanto as pessoas me pedem”.
Entre os convidados e amigos, o que mais se viu foi celular para o alto e câmera frontal ligada. Atores como Marcos Veras, Carolina Dieckmann, Nivea Stelmann, Natalia do Vale, Malu Mader, Vanessa Gerbelli e Sheron Menezzes estavam presentes por lá, prestigiando o espetáculo. “É uma peça ótima para refletir, né? Sobre toda essa nossa dependência da tecnologia”, disse Sheron Menezzes. “Com muito humor, eles conseguiram colocar a gente para pensar nesse vício nosso de estar conectado o tempo todo”, disse Vanessa Gerbelli. O dançarino e coreógrafo Carlinhos de Jesus também estava presente, e disse: “Achei uma peça incrível, os dois tomam conta do palco de um jeito impressionante. Estão de parabéns pela peça e pela reflexão”. Já Nívea Stelmann destacou um lado bom da tecnologia: “Ficar online tem seu lado bom também, que é poder se sentir mais próximo das pessoas que estão longe, botar o papo em dia… Além de ainda ser uma forma de divulgar nosso trabalho, o que a gente anda fazendo.”
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