Ser diretor significa ter poder de liderar as pessoas com quem trabalha, seja em uma empresa, escola ou peça. No entanto, imagina dirigir um espetáculo do maior circo do mundo, que movimenta milhões de pessoas por ano e já passou por diversas cidades do planeta. Realmente não é uma função que cabe a qualquer um, mas o americano James Santos faz parecer que este trabalho é mais fácil do que imaginamos. O profissional é o diretor artístico do espetáculo Amaluna do Cirque Du Soleil, que passará a ser apresentado no Rio de Janeiro a partir do dia 28 de dezembro. Há mais de três anos, ele é o principal responsável por liderar o elenco de quarenta e oito artistas deste show que está, atualmente, em turnê pela América Latina. Para ajudá-lo neste papel de líder, o profissional conta com um time artístico que inclui dois fisioterapeutas, dois diretores de palco, um assistente e um coaching. Ao contrário do que pode parecer, ele não criou Amaluna. Na verdade, sua função é manter o conceito original da diretora Diane Paulus e do diretor de criação Fernand Rainville, fazendo com que a ideia não se perca. “Nós motivamos os artistas, os ajudamos a melhorar os seus atos e a se arriscar mais a cada dia. Além disso, também aconselhamos a recuar um pouco caso estejam exigindo muito de si mesmos para garantir a segurança deles. Nós também orientamos o elenco a qualquer mudança que possa ser feita. Basicamente, temos um conceito e sabemos o que podemos fazer para melhorar o show. Juntos, vamos alterando o que achamos pertinente”, explicou James Santos.
Site Heloisa Tolipan: Quais motivos levam você e a sua equipe a fazer alguma mudança na estrutura do Amaluna?
James Santos: Existem muitas razões que nos fazem mudar algo no show. Algumas vezes podem ser mudanças simples, como a chegada de um novo artista que possui um perfil diferente e nos dá outras visões sobre um mesmo ato. Temos que olhar o espetáculo de diversas formas. Outras vezes percebemos que é possível melhorar alguma cena incluindo uma nova performance ou ajustando alguns elementos artísticos. Alguns artistas veem uma ideia e propõe fazer aquilo no seu ato, por exemplo. Nós vemos se aquilo se encaixa no conceito. Estamos sempre os encorajando a tentar novas coisas.
HT: Estas alterações sempre fizeram parte da estrutura do Cirque?
JS: Antigamente os shows costumavam ficar congelados, ou seja, a partir do momento que era criado, ele se mantinha daquela forma para sempre. No entanto, conforme os espetáculos foram se solidificando, passaram a ficar tão famosos que acabavam se mantendo por muito tempo no mercado. A partir desta curiosidade, sentimos que precisávamos evoluir como circo em geral e fazer algumas mudanças. Nós precisávamos continuar relevantes em paralelo com o resto que acontecia na atualidade.
HT:De acordo com o chefe de figurinos, Larry Edwards, as roupas podem mudar dependendo do local que o show irá acontecer. Por exemplo, países muito frios como a Rússia geralmente é preciso alterar algumas peças. Isto acontece com os atos também? Eles mudam de região para região?
JS:Às vezes, podemos alterar algo baseado em sua cultura. Se vemos que alguma informação pode chegar de forma diferente iremos repensar este ato. No Brasil, por exemplo, temos uma audiência muito aberta. São pessoas muito apaixonadas e, por isso, não precisamos fazer nenhum ajuste aqui.
HT:Existem dois brasileiros trabalhando em Amaluna. Como é a relação com eles? Acha que algum traço da cultura deles os faz ser especiais?
JS:Acho que todas as pessoas, de todas as culturas são especiais de alguma forma. Mas definitivamente eu diria que os brasileiros trazem exatamente o que espero dos cidadãos daqui. Eles são sensíveis e possuem um amor muito grande dentro de seus corações. São bastante claros com o que querem e acho que isto é muito especial.
HT:Você já trabalhou como assistente de direção em outros espetáculos do Cirque. Em sua opinião, qual o maior desafio de Amaluna?
JS:Temos uma história muito forte que faz parte do nosso show. Em um espetáculo comum, podemos substitui facilmente algum integrante do elenco. No entanto, em uma narrativa tão forte como esta não podemos simplesmente trocar um artista de lugar. O novo membro precisa estar de acordo com a narrativa. É como se fosse uma música, é preciso se encaixar visualmente e tecnicamente. A técnica da pessoa precisa ser excelente. Nós definitivamente estamos mais limitados nas mudanças que podemos fazer, dependendo do artista. Isto representa um desafio, porque no final do dia ainda precisamos estar contando a mesma história.
HT:Você já participou de alguns musicais antes, como dançarino. No entanto parece ser um pouco mais difícil trabalhar dentro de um circo. Como avalia o nível de exigência técnico de ambos?
JS:Este espetáculo do Cirque Du Soleil faz mais de trezentas apresentações por ano, então, para mim isto já é um desafio. É preciso apresentar um produto de qualidade similar várias vezes e com um nível de qualidade altíssimo de profissionais como acontece aqui no Cirque. Além disso, viajamos diversas vezes por ano. É muito para se pedir do seu corpo, se pararmos para pensar. Não é como se fossemos para casa no final do espetáculo, vivemos juntos de hotel em hotel. Se pensarmos em um musical, quando um contrato acaba você logo pula para outro.
HT:Esta rotina de viver de cidade em cidade foi uma das coisas que os artistas mais lamentaram. Eles sentem falta de ter uma casa e uma vida normal. No entanto, existe uma parte boa nesta históia?
JS:Ao mesmo tempo, esta rotina é cansativa, ela também representa a beleza de trabalharmos no circo. Estamos evoluindo e crescendo juntos. Vemos as pessoas tendo os seus filhos e experimentando novas coisas na estrada. É uma experiência linda.
HT:O que representa para você trabalhar no Cirque Du Soleil?
JS:A nossa rotina aqui é puxada, nem sempre conseguimos refletir sobre isso. Mas quando acontece pensamos o quão maravilhoso este lugar é para trabalhar. Esta oportunidade nunca irá se apresentar novamente. Este dia, este momento, este espetáculo é único. Nunca estarei aqui novamente com as mesmas pessoas apresentando este show. Me sinto muito afortunado de ter a experiência de trabalhar com Amaluna. Tudo é temporário, então temos que tirar vantagem do tempo que temos.
HT:O que pretende fazer depois de Amaluna?
JS:Os diretores artísticos ficam por um determinado período de tempo em cada show e, de tempo em tempo, nós precisamos recarregar as baterias novamente. Isto significa que precisamos novos desafios, ir a novos shows, descobrir novos talentos e ajudar outras pessoas a crescer. Não posso ficar por muito tempo e isto significa seguir em frente. Vou para outra criação e ajudar o Cirque Du Soleil a crescer mais a cada dia.
HT: Mas pretende continuar no Cirque du Soleil?
JS:Definitivamente. O trabalho que a nossa companhia está fazendo é muito bom. Me sinto grato de ter esta oportunidade e pretendo continuar com eles. O emprego não é fácil, é preciso muita dedicação e empenho. No entanto, quero crescer com eles para tornarmos juntos cada vez maiores.
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