Humorista ter talkshow é quase uma tradição. Nas grades das emissoras brasileiras não faltam exemplos desses programas de entrevistas. Mas, em nenhuma delas, Eduardo Sterblitch é o apresentador. Seu estúdio é o palco e os telespectadores o público do teatro. Afinal, “Sterblitch Não Tem um Talkshow”. Depois de rodar por 27 cidades e acumular mais de 25 mil espectadores, o artista volta ao Rio de Janeiro para uma temporada no teatro Oi Casagrande, no Leblon. Ele que, na cidade, já havia passado pela Zona Norte e pelo subúrbio do Rio, agora tem seu momento de apresentador na Zona Sul. Até 1º de dezembro, o humorista fica em cartaz com às quintas e sextas-feiras às 21h a partir do dia 9.
Sobre o espetáculo, Eduardo já adiantou: “tem várias formas de contar o que é esse projeto”. Em todas elas, a graça é unanimidade e o público o protagonista. “Teve uma época, que dura até hoje, que todo humorista tinha um talkshow em algum canal de televisão. Isso tinha virado uma febre absurda, que nem é agora com paródia. Tem até criança imitando as músicas. Enfim, humorista ter talkshow era quase obrigatório e eu quis brincar com isso contando que eu tinha levado um projeto para várias emissoras e nenhuma havia aceitado”, resumiu Eduardo que, como solução, ganhou um programa ainda mais especial. “É o único que tem o maior número de câmeras porque toda a plateia filma a peça, que não tem convidado e que o protagonista é sempre o público”, contou.
O que muda é o roteiro. E isso é um desafio e uma preocupação para Eduardo Sterblitch e seu super time que escreve o espetáculo. Como contou o humorista, o espetáculo também não tem um texto pronto e nem temas definidos. “Tudo varia muito, porque, de fato, o espetáculo é construído a partir das entrevistas com o público. A partir do que eles falarem, eu vou mediando e levando a peça”, explicou Eduardo que, depois de temporadas em 27 cidades e mais de 20 mil espectadores, acredita ter o melhor talkshow do entretenimento brasileiro. “Eu prefiro bem mais a minha ideia do teatro. Na verdade, eu acho que não tem nem motivo de eu ter um programa igual a tantos outros que já existem. Para mim, é muito mais interessante poder brincar com isso e fazer do público a estrela da peça”, comentou Eduardo que, mesmo assim, não fechou as portas para futuras oportunidades na televisão. “É claro que se me oferecerem muito dinheiro e me deixarem escolher a minha equipe eu posso pensar na possibilidade”, brincou.
Por enquanto, Eduardo Sterblitch segue brilhando no teatro e se prepara para mais uma temporada promissora no Rio de Janeiro. Sobre a repercussão por onde tem passado e a expectativa pela terceira oportunidade em solo carioca, o humorista não escondeu a felicidade, apesar de manter o pé no chão. “É muito difícil fazer teatro no Brasil, ainda mais de forma independente. Por isso, quando eu vejo as plateias lotadas é maravilhoso. Para mim, soa quase como um milagre. Estamos vivendo tempos em que ninguém está gastando dinheiro com nada e ver que eles escolheram o meu espetáculo para o lazer é sensacional. Estou em um momento muito bom e feliz”, comemorou Eduardo Sterblitch que, mesmo assim, busca não criar expectativas. “Eu sempre penso que vão só 20 pessoas. Se forem mais, ótimo”, disse.
E assim, o humorista assume a responsabilidade de honrar pelo público que tem atraído aos teatros. Assim como ele reconhece o gasto para consumir cultura em tempos de crise no Brasil, Eduardo também destacou o investimento pessoal que tem feito para viajar o país com “Sterblitch Não Tem um Talkshow”. “Eu, de verdade, sinto que sou um cara que está fazendo milagre quando penso que já levei 25 mil pessoas para o teatro. Se for para fazer os cálculos, esse é um espetáculo no qual estou me arriscando demais financeiramente. Não sou um artista com salário fixo e estou colocando o meu dinheiro para fazer o que eu acredito. Então, o meu sucesso depende do público que se dispõe a me assistir. Por isso que eu ressalto o quanto eu estou feliz em fazer algo próprio e diferente”, apontou.
Como um dos elementos que justifica o público expressivo de Eduardo Sterblitch no teatro e faça com que ele continue investindo no espetáculo, é a própria plateia da peça. Mais do que promover cultura em tempos de crise, o humorista destacou a importância de saber o que se está fazendo para que tenha resultado na prática. “A gente precisa entender para quem estamos falando. Hoje eu sinto que está todo mundo muito nervoso e esquisito. Calma! O meu espetáculo é de entrevista com as pessoas que vão me assistir. Então, eu consigo ver quem são esses espectadores que saíram de casa para me ver, o que eles querem e o que acreditam. Isso é importante para eu também saber o que fazer com a peça”, analisou Eduardo que completou: “Fora isso, é preciso ter muito respeito por essas pessoas que querem a minha arte”,
E tem muita gente querendo Eduardo Sterblitch. A arte, claro. Não só no teatro, ele também brilhou à frente de “Humoristinhas”. No programa do Multishow, Eduardo comandou uma competição para revelar novos talentos da comédia brasileira. E o resultado agradou. “Fiquei muito feliz com o que eu ouvi das pessoas. Quem vinha comentar comigo sobre o programa sempre dizia mais de uma frase e longa. Afinal, quando falam “ah, legal”, não dá para ter uma ideia. Mas, no caso do programa, o público desenvolveu as frases e isso é um bom sinal”, comemorou.
No meio da criançada, “Humoristinhas” foi a adaptação de um projeto “muito maior que um dia ainda sai” de Eduardo Sterblitch. Como nos contou, o humorista sempre quis trabalhar com os pequenos e a curiosa mistura também interessou a produtora do programa. “Eu tenho um projeto de humor com crianças e tentei vender essa ideia para algumas produtoras. A Floresta se interessou de me ver trabalhando com o público infantil e comprou essa ideia de forma diferente. Eles me chamaram para escrever um projeto e o resultado foi o Humoristinhas”, lembrou Eduardo que, desta experiência, contou que buscou explorar a genuinidade das crianças participantes. “Não ficava pensando muito no que elas iam falar ou o que serão no futuro. A minha preocupação era deixar todo mundo à vontade e fazer com que elas propusessem os caminhos do programa”, contou.
Atento aos assuntos contemporâneos, Eduardo Sterblitch prefere contornar as temáticas por não acreditar que sua opinião faça a diferença para a sociedade. “Eu fico pensando se vai mudar alguma coisa eu falar ou não. Não faz sentido eu dar uma opinião rasa porque o meu trabalho não está nisso. Pelo contrário, eu busco a opinião dos outros. O que eu penso não interessa e não é isso o que as pessoas querem de mim. Não tenho que perder tempo com essas coisas. Para mim, só faz sentido eu me posicionar sobre algum assunto quando eu tiver certeza daquilo”, argumentou.
Se este dilema de se posicionar ou não em tempos de cólera é uma situação a ser pensada na vida de Eduardo Sterblitch, um desafio consolidado é um dos próximos trabalhos do ator. No cinema, ele será Abelardo Barbosa na fase jovem. No filme que irá contar sobre a história do grande Chacrinha, Eduardo está tendo uma super missão. “Esse está sendo o trabalho mais difícil da minha vida. E por vários motivos. Nas gravações não estamos fazendo por ordem cronológica e, independente disso, preciso entregar esse Abelardo dos 20 aos 40 anos inteiro para o Stepan (Nercessian), que vai fazê-lo mais velho. Não posso fazer com que pareçam ser duas pessoas diferentes. Fora que é muito complexo falar de uma pessoa famosa, mas em um período anônimo”, explicou o ator que ainda destacou o eixo corporal e a voz do personagem como desafios. “Estou sofrendo para caramba”, confessou Eduardo que, apesar disso, tem arrancado bons elogios da equipe e do diretor do longa Andrucha Waddington nos bastidores.
No Cassino do Chacrinha, a música era um dos elementos principais do programa. Por lá, vários cantores ganharam espaço e visibilidade. Mas, mesmo com essa relação estreia de Abelardo Barbosa com a música, Eduardo Sterblitch não vai pôr em prática sua voz que fez sucesso no “PopStar”. Aliás, este tem sido um lado pouco explorado pelo ator, mesmo depois da repercussão no programa. “Eu só canto para me divertir. Minha experiência como cantor foi só aquela”, sintetizou Eduardo que, apesar disso, afirmou que não se surpreendeu com o bom resultado no reality da Globo. “Eu fiquei muito nervoso, mas fiz para a galera e deu certo”, resumiu.
Por fim, um assunto que está em alta e faz parte da trajetória artística de Eduardo Sterblitch na televisão: Pânico. Com contrato até dezembro deste ano com a Band, o programa, que fez muito sucesso na RedeTV!, pode estar com os dias contados. Pelo menos é isso o que se especula sobre o futuro do Pânico que, sem emissora, passa a ser uma dúvida no entretenimento nacional. Mas, para Eduardo, que ficou sete anos com a turma de Emílio Surita, há uma certeza: “o Pânico nunca vai acabar”. “Eu fico vendo essas matérias e penso que se eu fosse jornalista nunca falaria que o programa vai acabar. O Pânico sempre trouxe essas especulações e usou isso a seu favor. Por isso, quando dizem que vai acabar eu nunca acredito. Quanto mais falam isso, eu te garanto que mais eles se fortalecem. Sempre foi assim e isso não vai mudar. O Pânico é um fenômeno e, para mim, a única questão ali é a estrutura”, disse.
Especulação ou não, o fato é que o Pânico, Eduardo Sterblitch e todos os outros programas de humor estão precisando se adaptar. Pelo menos é isso o que o ator destacou. “Hoje nós estamos vivendo um momento muito difícil para se fazer humor. Em geral, todos estamos reaprendendo sobre o que e como podemos abordar alguns temas. Está mais difícil rir porque os assuntos estão doídos”, apontou Eduardo. Para os próximos capítulos, a única certeza é que Eduardo Sterblitch segue cada vez mais forte na Globo e em breve estreia como integrante do “Tá no Ar”.
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