Erika Januza está em stand by só esperando o sinal verde surgir para começar a gravar a série “Niketche – A rainha das rivais”, adaptada do livro de Paulina Chiziane. Com direção de Joel Zito Araujo, o elenco tem um timaço: Adriana Lessa, Sheron Menezzes, Juliana Alves, Léa Garcia, Cristina Lago e por aí vai. Um teaser já foi gravado e, agora, falta decidir para qual canal a produção vai (o GNT é cobiçado). Só aí que, enfim, a claquete começará a ser batida. Mas, Erika, em encontro com HT no estande da grife Maracujá, no salão de negócios da 18ª edição do Minas Trend, já dá um preview: “Eu sou a Jacira, uma brigona. É uma história de poligamia em Moçambique (no sudoeste da África, onde, aliás, a língua portuguesa é a oficial). Fala de um moçambicano que veio para o Brasil com sua esposa e, aqui, viveu outras histórias. Mas aqui não é permitida a poligamia, né? E eu sou uma dessas esposas”. Mas Erika, pensa com a gente: falar de poligamia, de sua aceitação ou não, num país tão conservador como o nosso não é delicado? “Conservador entre aspas né? Nós somos cheios de tabus, mas é um conflito de informações e culturas. Ao mesmo tempo somos tão liberais”.
Para Erika, a TV é muito mais que entretenimento e serve para aparar essas dualidades. “Adoro quando eu faço um trabalho, como esse, em que eu posso levar muito mais que só diversão. Nesse caso, em específico, vai muito do bom gosto do diretor. A história é muito linda. Fala de como a mulher é sofrida. Quem assistir vai se perguntar: ‘Será que eu aceitaria isso?’. Na África, as mulheres aceitam, convivem, e tudo bem. Mas aqui, como as brasileiras vão ver isso? Eu não aceitaria isso não!”, gargalha. A atriz, que já protagonizou a série “Suburbia” e participou da novela “Em Família”, ambas na TV Globo, ainda espera que a dramaturgia abra mais as portas para profissionais de cor negra. “Torço para que tudo seja menos estereotipado, para que conquistemos mais espaço. Tem muito ainda para crescer. A resistência vem do próprio povo. O Brasil é super preconceituoso. Mais de 70% da população é negra e há uma minoria na TV. Nos Estados Unidos, por exemplo, é uma minoria de negros, mas, na TV, é o inverso. Aqui há um preconceito velado. Falam como se fosse algo diferente. É muito do brasileiro essa mania de separar”.
Aos 30 anos, Erika Januza não conseguiu chegar até aqui sem ter uma história de racismo para contar. “Tem tantas histórias. Eu já participei de um concurso, há anos atrás, e fiquei em segundo lugar. Era de beleza e eu era a única negra. A avó de uma das candidatas veio revoltada até a mim por causa da minha colocação. Chegou xingando e tudo. Era declaradamente racista. Não chorei. Posso até ficar revoltada, mas chorar não”, finaliza.
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