*Por Brunna Condini
“Já namorei menina, moramos juntas por um tempo e é umas das minhas grandes amigas até hoje. Éramos adolescentes sem preconceitos, livres e donas da própria vida. Não é esta da foto, esta é minha outra amiga do coração Lygia, essa foto foi para a capa da Sui Generis. Minha namorada foi a Erica, peruinha, como eu a chamo. Fico feliz que hoje têm pessoas que escolhem se relacionar com pessoas, independente do gênero e respeitam as diferenças, dando mais importância para o amor. Mas, infelizmente, temos ainda uma grande parcela de pessoas muito homofóbica, e que trata de forma bastante agressiva a orientação sexual do outro, matam por isso”. O texto está lá, nas redes sociais da artista visual, ilustradora e um dos ícones das passarelas internacionais dos 90’s, Claudia Liz, que, por sinal, tem sido convidada para mil trabalhos como modelo em grande estilo.
E como junho é o Mês do Orgulho LGBTQIA+, e conta com eventos e paradas por todo o mundo, convidamos Claudia Liz para falar da experiência, e revelar o motivo pelo qual decidiu dividir a história agora. “É um momento de nos manifestarmos de alguma forma, tentarmos tocar as pessoas. Falar abertamente é importante, e essa vivência, que foi a única com uma mulher, faz parte da minha história. Somos o país que mais mata por homofobia, não tem como não falar abertamente, é um tema bastante urgente. Muitas pessoas me apoiaram, mas uma me disse que “não precisava”. Essa pessoa ainda representa várias outras, infelizmente. Sou e sempre fui muito livre. É preciso que as pessoas olhem para as outras sem querer colocá-las em padrões. A orientação, escolhas, são pessoais, devem ser respeitadas, não odiadas. Qual é a importância real na sua vida do que só compete ao outro? Acho importante nos vestirmos de nós mesmos, nos olharmos de verdade”, diz.
Claudia recorda a relação que teve quando ainda era uma jovem modelo. “Tinha 16 anos e a Erica (Claudia prefere preservar o sobrenome) também era modelo, morávamos juntas. Namoramos e éramos bem meninas. Se formos pensar, vivi tudo muito cedo. Casei com Ângelo (Leuzzi) logo depois, com 17 anos”, acrescenta, referindo-se ao ex-marido que teve um infarto fulminante em 2020, e é pai do seu único filho, Lucca Salvatore de 28 anos. Ela também foi casada com Celso Loducca e Beto Giorgi.
“Cuido de mim desde muito nova. Comecei a trabalhar com 13 anos e, aos 15, vim para São Paulo, e foi quando conheci a Erica e nos relacionamos. Somos amigas até hoje. Acho importante que pessoas com visibilidade se posicionem sobre temas importantes. Estou me colocando contra a homofobia e, para isso, coloquei onde entendo o preconceito”.
Aos 53 anos, ela sabe o que é preconceito no que diz respeito às pressões estéticas, entre outras cobranças que vem no combo. “Vivi muitos preconceitos de perto. Por ser modelo, por ser a modelo que virou atriz, por estar gorda para o mundo, em um período. Enfim, para tudo que há, pode existir um tipo de preconceito. Muitos ainda se preocupam com as escolhas da vida alheia, com o que as outras pessoas são, porque para elas pode ser difícil encarar a liberdade das próprias opções”.
E avalia: “Me sinto em uma boa fase na vida. Tenho conseguido manter uma rotina de exercícios, o que acho importante. Mas de forma tranquila, como sou, no meu tempo. Nessa fase dos 50, a gente experimenta uma liberdade maior ainda. Já vivemos de tudo, sabemos o que desejamos. Estou apropriada da minha vida. Amo o que faço, tenho um repertório legal, construí boas relações, uma boa trajetória profissional, me permito. Os 50 têm sido bem felizes para mim”.
A arte que transforma
Artista plástica e ilustradora há alguns anos, Claudia trabalha no ateliê que mantém em seu apartamento, em São Paulo, onde cria suas pinturas e faz ilustrações para a coluna Tendências e Debates da Folha de S. Paulo há sete anos. Mas engana-se quem acha que sua ‘versão artista’ é recente. “A pintura e o desenho estão na minha vida há 25 anos, mas profissionalmente há nove. Acabei de fazer uma exposição na Galeria Cosmo, em Santa Catarina. Também tenho um projeto, ainda embrionário, com a Gisela Marques, roteirista, e a Paula Lumena, voltado para o feminino. Deve sair algo para o audiovisual”.
Em outro projeto, a intervenção ‘Big Heart Parade‘, Claudia trabalhou no conceito de sua contribuição artística ao lado de Reynaldo Gianecchini, com o propósito urgente de sensibilizar as pessoas, através da arte, sobre a importância de se preservar a Mata Atlântica, um dos principais biomas do planeta. O projeto reúne esculturas no formato de corações, inspiradas em espécies típicas da região, feitas por artistas engajados com a causa ambiental. A exposição assinada pela Toptrends, empresa especializada em marketing cultural, com curadoria de Thiago Cóstackz, artista plástico multimídia e documentarista, poderá ser conferida, gratuitamente, até 1º de julho, e as obras serão expostas no Cetenco Plaza, na Avenida Paulista. “São 30 artistas, com 30 esculturas no formato de coração, lançando luz para e espécies ameaçadas de extinção, tais como: araucária, cedro-rosa, jequitibá-rosa, palmeira-juçara e pau-brasil. Um pequeno viveiro de mudas será instalado nas bases das esculturas, em cima do totem de sustentação. Após o evento, elas serão doadas para projetos de plantio em escolas públicas da periferia de São Paulo”.
E acrescenta, plena com a produção a todo vapor, feita de escolhas conscientes em relação aos rumos que deseja levar sua arte: “Estou fazendo uma animação para um videoclipe do Alec Hait, ex-banda Metro, da década 1980, que faz seu trabalho autoral. Trabalho com o animador Edgard Magoo. É um projeto em que Alec convida um artista para fazer a ilustração de cada música, a que faço é super sofisticada. O clipe com a animação deve ser lançado no fim do ano”.
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