No domingo do niver de Mick Jagger, a minha lembrança de ter estado no sofá com o ídolo na festa pós-show em Copacabana


Líder dos Rolling Stones completa 72 anos e o mundo celebra. O site HT relembra a passagem da banda pelo Rio no show apoteótico em Copacabana e tem histórias de um encontro com o astro dos astros da música

Acabei de escrever um artigo para o Jornal do Brasil sobre os 72 anos que Mick Jagger completa hoje. Vocês podem conferir o link aqui com vídeo e fotos exclusivas. Mas, gostaria de compartilhar também as minhas histórias com os meus leitores do site HT, criado em comemoração aos meus anos de jornalismo. A história é bem divertida.

Acompanho Mick Jagger e os Rolling Stones por toda uma vida. E, hoje, domingo no qual o líder da banda integrada ainda por Keith Richards, Charlie Watts e Ron Wood completa 72 anos, o mundo inteiro reverencia o astro da música. É claro que eu não podia deixar de escrever aqui minhas impressões pessoais sobre o encontro que eu tive com ele em 18 de fevereiro de 2006 e que ganhou a primeira página do Jornal do Brasil com o título: “No sofá com Mick Jagger”.

Naquela noite, a banda tinha se apresentado para 1,5 milhão de pessoas, na Praia de Copacabana, em um show que ganhou as manchetes do The New York Times – “Stones sacodem 1,5 milhão no Rio dias antes do carnaval”. E eu estava lá, babando junto ao palco com os Rolling Stones apresentando a set list da turnê “A bigger bang”. No total, 21 músicas que entraram para a história, como “Jumpin Jack Flash”,“You Got Me Rocking”, “Midnight Rambler” e “Happy”, “Sympathy for The Devil”, “Start Me Up” e “Satisfaction”. E Mick Jagger vendo aquele mar de gente que ia da praia na altura do Copacabana Palace ao Leme arriscava palavras em português, mostrava o corpo, chegava perto da plateia em êxtase. “Olá. Brasil. Tudo bem galera?”, eu me lembro até hoje. E acrescentou: “As mulheres daqui são lindas, hein!!!”.

O ícone da era do sexo, drogas e rock’n’roll estava feliz. Ele adora o Brasil. Pelo o que li à época, a banda não vinha ao Rio desde 1998, mas, em fevereiro de 1995, os músicos pisaram pela primeira vez no Maracanã, no Hollywood Rock, com o show da turnê “Voodoo Lounge”. Mas, voltando a Mick, ele sempre curtiu uma vinda ao Rio desde os anos 70. O músico que imprimiu a chancela da sua boca carnuda, vermelha, com a língua como se lambesse um sorvete como símbolo máximo de merchandising do grupo teve um filho com uma brasileira: a apresentadora Luciana Gimenez. E hoje, ela postou uma foto do baú na qual aparece de biquíni ao lado de Jagger e do filho do casal, Lucas Jagger.

No Instagram, Luciana Gimenez posta foto em homenagem ao aniversário de Mick Jagger em foto com o filho, Lucas

No Instagram, Luciana Gimenez posta foto em homenagem ao aniversário de Mick Jagger em foto com o filho, Lucas, quando bebê

Mas, vamos voltar ao tal encontro com Mick Jagger. No pós-show, eu caminhava pela Avenida Atlântica, quando encontrei Anderson Birman, dono da Arezzo, com a mulher, Maythe Birman e o filho, Alexandre, hoje CEO do grupo Arezzo & Co. Eles estavam hospedados no Copacabana Palace, hotel escolhido pelos Stones para a temporada carioca. Fomos tomar um drique na piscina, quando vimos uma movimentação nos salões do Copa. Mick Jagger e seu staff estavam comemorando a apresentação histórica realizada momentos antes. Na escada, eu me encontrei com Luciana Gimenez, que também conheço há anos, e o atual marido, Marcelo de Carvalho. E bastou um segundo para ela me convidar: “Vem conhecer Mick”. Com uma mini câmera na mão, lá fui eu… Mick Jagger estava em um canto, refastelado em um sofá com os amigos. Foram alguns minutos de conversa e ele repetia uma palavra: “Inacreditável”. O show marcou uma das maiores platéias do mundo para os Rolling Stones.

Mick lembrou ainda que esteve no mesmo hotel em 1968, que é apaixonado pela vista da orla de Copacabana, pelo futebol, e o papo rolava sem eu ter coragem de tirar a máquina da bolsa, porque os seguranças importados de Israel gritavam para quem tentava fazê-lo: “Go, away”. Quando eu engatei um papo com Quincy Jones e Steve Bing, o magnata americano produtor de cinema com quem a atriz Elizabeth Hurley teve um filho, tentei fazer um registro de Mick com Ron Wood, mas os seguranças tinham uma lanterninha que jogava uma luz em cima da máquina e impedia o registro. Os integrantes da banda ficavam em um chiqueirinho vip separado dos cerca de 200 convidados da festa e totalmente cercado por seguranças lindos importados de Israel. Mas, ganhei a tal noite e ela ficou eternizada nas páginas do Jornal do Brasil e na minha memória. Feliz Aniversário, Mick Jagger!!!!!

Na biografia sobre o meu, seu, nosso ídolo, escrita por Philip Norman, tem um texto bem bacana que eu destaco aqui como síntese de Jagger:

“Acima de todos, Mick Jagger, em qualquer idade, foi inimitável. Foi Jagger quem, mais do que qualquer outro, inventou o conceito de “estrela” do rock, em oposição a mero cantor de uma banda – uma figura destacada de seus parceiros músicos (uma grande inovação naqueles dias de grupos unificados como os Beatles, Hollies, Searchers e outros) que primeiro desencadeou, depois invadiu e controlou uma miríade de fantasias de grandes multidões. Keith Richards, outra figura de proa nos Stones, é um guitarrista original e talentoso, além de o mais improvável sobrevivente do mundo do rock, mas pertence à tradição de trovador, que se estende até Blind Lemon Jefferson e Django Reinhardt, Noel Gallagher e Pete Doherty. Jagger, por outro lado, fundou uma nova espécie, criando assim uma nova linguagem que nunca poderia ser melhorada. Entre seus rivais no mundo do rock, só Jim Morrison dos Doors encontrou um jeito diferente de cantar em um microfone, aninhando-o ternamente, como um passarinho assustado, e não o agitando no estilo de Jagger, como um falo. Desde os anos 1970, muitas outras bandas talentosas surgiram, com muitos seguidores internacionais e proeminentes intérpretes – Freddie Mercury do Queen, Holly Johnson de Frankie Goes to Hollywood, Bono do U2, Michael Hutchence do inxs, Axl Rose do Guns ‘n’ Roses. Porém, por mais que conseguissem diferenciar-se nas gravações, quando subiam ao palco não tinham escolha a não ser seguir os passos firmes de Jagger.

Seu status como ícone sexual só se compara ao de Rodolfo “o sheik” Valentino, o astro do cinema mudo que provocava nas mulheres da década de 1920 palpitantes sonhos de serem atiradas na sela de um cavalo e levadas até à tenda de um beduíno no deserto. Com Jagger, a aura estava mais próxima dos grandes bailarinos, como Nijinsky e Nureyev, cuja aparência etérea era traída pelos lascivos olhares das bailarinas e do volumoso e protuberante volume nas calças justas. Os Stones foram uma das primeiras bandas de rock a ter um logotipo que, mesmo para a ousadia moral dos anos 1970, era bastante explícito – um desenho em vermelho vivo da boca de Jagger, os lábios cheios abertos com a mesma deselegância familiar, a língua para fora lambendo algo invisível que com certeza não era um sorvete. Essa “língua pendente” ainda permeia toda a literatura e o merchandising dos Stones, um símbolo de quem controla todos os departamentos. Aos olhos modernos, não poderia haver um monumento mais descarado ao velho chauvinismo masculino – mas continua acertando seu alvo. A maioria das mulheres liberadas do século XXI se agita ao som do nome de Jagger, enquanto as que ele cativou no século XX ainda pertencem a ele com todas as suas fibras. Quando eu estava começando este livro, mencionei o tema à minha vizinha ao lado durante um jantar, uma inglesa já madura, independente e de atitude digna. Sua resposta foi recriar a cena de Harry e Sally – feitos um para o outro, na qual Meg Ryan simula um orgasmo no meio de um restaurante lotado: “Mick Jagger? Ah… sim! YES, YES!”.

Em tempo: cenas da apresentação memorável dos Stones na Praia de Copacabana integram o DVD Rolling Stones – The Biggest Bang (2007) que conta com imagens dos bastidores.