*Por Brunna Condini
Empatia e solidariedade. Essas são palavras que vêm guiando o olhar e a ação de muitas pessoas durante a pandemia do coronavírus. Como o ator Antônio Fagundes, que vem doando sua atenção, recursos e tempo para alguns projetos sociais. Entre eles, a causa da Associação Viva e Deixe Viver, organização sem fins lucrativos que atua com voluntários contadores de histórias em 86 hospitais do país. Fagundes, e sua mulher, a também atriz Alexandra Martins, participam do projeto Viva Personas, criado para levar por meio do ambiente virtual a magia da literatura para crianças e jovens hospitalizados, além daqueles que estão em casa neste período.
“Eles têm um projeto maravilhoso, o Bisbilhoteca Viva, e quando entraram em contato comigo e com a Alexandra topamos na hora ler livros para as crianças. É um projeto muito bonito já em uma situação normal. E neste momento de pandemia, isso se torna ainda mais importante. É muito triste para qualquer um ficar hospitalizado, mas para crianças, principalmente, então esse projeto leva um pouco de alegria”, diz o ator, sobre a entidade que conta com 1,3 mil voluntários e completa 23 anos de atividade este ano.
Fagundes falou com exclusividade ao site sobre a importância do hábito da leitura e sua recente inserção no Instagram. Além disso, ele também comenta a situação da cultura no país e fala sobre os projetos adiados com a pandemia. Atencioso, gentil, o ator mostra o motivo pelo qual coleciona fãs há 54 anos na arte.
Você já declarou que é um apaixonado pela leitura. Durante esse isolamento social vem lendo muito? “Sou um apaixonado por ler e um leitor bastante curioso. A pandemia me deu um pouco mais de tempo do que eu geralmente teria para a atividade. Então, li muito mesmo. E continuo lendo. Tenho lido por volta de 10 a 15 livros, por mês. Só na pandemia, estou chegando aos 100 livros”, conta, e faz questão de destacar: “A leitura transforma as pessoas, pode modificá-las, fazê-las se abrirem para o outro. Também é importante para as pessoas fazerem atividades diferentes do que propõem. Acho que um povo que lê é um povo que se forma, se reconhece, se entende como nação. Por isso sou sempre um advogado do estímulo à leitura”.
Ele também comenta que o cenário da pandemia aprofundou a crise da cultura no país. “Criou uma dificuldade grande, principalmente para aqueles projetos que precisam da aglomeração, que vivem dela, como o teatro, por exemplo. É a reunião de pessoas que faz o evento ser diferente de qualquer outro tipo de comunicação. Neste momento que não podemos nos reunir e o teatro sofreu com essa perspectiva”, reflete Fagundes, que tem contribuído também em ações que auxiliam profissionais da área que estão sem trabalhar. “A saída para nós será a vacina. E eu espero que as pessoas que gostam de teatro, que sempre frequentaram, estejam morrendo de saudade. E que assim que resolvermos esse problema dessa doença, que possamos nos reunir novamente”.
Na sua opinião, o que acontece com um povo que tem governantes que não estimulam a cultura de um país? “Nós vamos ter, qualquer que seja o resultado das próximas eleições, problemas bastante graves para resolver, que vão se estender por décadas. Que foram criados por governantes que realmente não valorizaram não só a cultura, mas a saúde, a educação, a segurança, a própria economia do povo. Teremos muito trabalho pela frente para solucionar todos os problemas”.
Novos hábitos
Novato no universo do Instagram, Antônio Fagundes achou graça do “bloqueio” que recebeu após responder 4 mil comentários dos seus 647 mil seguidores, com emojis de rosa. “Comecei essa página um pouquinho antes da pandemia. No fim acabou servindo, porque consegui me comunicar com um número grande de pessoas, apesar de estar isolado em casa, e isso tem sido muito produtivo, fator de muita felicidade, porque as pessoas têm sido muito carinhosas. O que ocasionou até esse bloqueio (risos), porque fui responder o carinho delas”, diverte-se. “Como sou “analfabyte” e não entendo muito desse veículo, acabei usando de uma forma que ele não permite, e o robozinho lá, o algoritmo, entendeu que eu era um robô ao enviar tantas flores para as pessoas, e acabei sendo bloqueado, mas já desbloquearam. Agora vou ter que ser um pouco mais econômico na distribuição de flores (risos). Também estou usando o Instagram para falar um pouco de literatura, leio alguns poemas, falo de cinema, enfim, assuntos relacionados à minha profissão. E estou muito feliz de ver que as pessoas estão gostando de acompanhar”.
Ele confessa, que embora tenha participado de muitas lives na rede social, acredita que a ferramenta deva ser utilizada com equilíbrio: “Fiz muitas como convidado. Tiveram semanas que fiz uma live por dia. É muito divertido e uma nova forma de nos comunicarmos com as pessoas. Mas tenho a impressão que é bom dar um tempinho também, porque senão ninguém vai aguentar as pessoas fazendo dez lives por dia. Tem que dar uma dosada nisso”.
Seu filho, o Bruno (Fagundes) lançou um (ótimo) canal chamado “Amigo é bom, mas dura muito”, com o ator Felipe Hintze. E, em entrevista ao site, ele contou que você vai fazer uma participação em breve, e que tem muito humor, uma versão sua que pouca gente conhece. Como é isso? “Esse canal é muito divertido, dei boas risadas com eles. Espero mesmo que me chamem para fazer, porque adoro comédia, o Bruno sabe disso. Geralmente na televisão não sou chamado para fazer. Fiz comédia no cinema, no teatro, mas na TV, que é onde as pessoas conhecem mais o meu trabalho, fiz pouco. Então, espero que eles montem logo um programinha com bastante cenas de humor para fazermos juntos”.
Com muitos planos adiados pela pandemia, o ator anuncia que pretende gravar a segunda temporada do seu podcast no Gshow, o Clube do Livro do Fagundes. “Nele, eu falo sobre literatura. Já temos 21 programas gravados. E a segunda temporada seria gravada em agosto, mas estamos nos organizando para retomar em meados de setembro”, antecipa.
“Eu tinha muitos projetos que vão ter que aguardar. Um deles, foi “Baixa Terapia”, uma peça que estava há três anos em cartaz, e estávamos com estreia marcada aqui no Rio de Janeiro para maio. Com a pandemia, fomos obrigados a suspender a temporada, que temos certeza que será longa quando conseguirmos estrear, porque o espetáculo é uma comédia extraordinária. Se pudéssemos fazer hoje essa peça, tenho certeza que seria um fator de ajuda muito grande para a população, porque é um espetáculo que faz as pessoas rirem bastante, e estamos precisando de humor. E tinha um seriado que eu ia começar a gravar pela minha produtora de cinema, a Fa Filmes. Tenho também um longa-metragem para rodar, mas estamos dependendo da solução da pandemia”.
Como acha que “leremos” esse capítulo da história que vivemos em nosso país no futuro? “Espero que a gente leia esse capítulo da história do Brasil como um pesadelo que passou. Passou. E que agora vamos viver”.
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