‘Não vou medir o quão minhas atitudes estão certas ou erradas com régua dos outros’, diz Maria Bopp sucesso na web


A atriz e criadora da Blogueirinha do Fim do Mundo, que teve seus vídeos viralizados durante a quarentena, fazendo críticas políticas através de tutoriais e do humor, fala do isolamento que só pretende encerrar quando a vacina para combater a Covid-19 for desenvolvida, comenta a postura de parte da população que vem banalizando a pandemia e afrouxando o distanciamento social (e aqui ela também fala dos que têm o privilégio de poder ficar em casa). Além disso, Maria Bopp pode ser vista como Bruna Surfistinha agora nas três primeiras temporadas que estrearam na Amazon Prime. E por fim, a artista bate um papo reto conosco, revelando, inclusive, com quem a Blogueirinha sonha em fazer uma live. Vem saber!

*Por Brunna Condini

A atriz Maria Bopp, a protagonista da série “Me chama de Bruna”, sobre Bruna Surfistinha, que acabou de estrear três das suas quatro temporadas na Amazon Prime, viu seu nome e seus vídeos como a personagem Blogueirinha do Fim do Mundo ganharem admiradores nesta quarentena. O que mudou na vida com a criação dela? “Mudou o alcance das minhas postagens nas redes sociais. Mas minha rotina não mudou com a repercussão dos vídeos. Quando começou esse movimento todo eu já estava em casa e tenho mantido o isolamento social”, garante.

Mas é fato que a personagem vem fazendo sucesso e dando o seu recado por aí. Com o discurso afiado, através de tutoriais bem “blogueiros”, ela vem criticando o cenário político brasileiro. “Acho que as pessoas têm se concentrado muito na Blogueirinha do Fim do Mundo como uma sátira às outras blogueiras. Preciso deixar claro que não é o objetivo da blogueirinha”, esclarece. “A essência dela é a crítica ao governo, e isso está muito claro nos vídeos. Talvez tenha também uma provocação à linguagem das blogueiras, mas usei isso mais como uma escolha de linguagem, pela ironia, do que como uma crítica. Falo isso, porque sinto que tem por trás deste discurso uma vontade de colocar mulheres rivalizando. Não é o caso. Eu respeito as blogueiras, acho que muitas delas têm um trabalho muito legal. Têm blogueiras que não só são mulheres padrão, que são negras, gordas, drags, que falam sobre assuntos ótimos, diversos, e está tudo certo”.

“Vivemos um momento de muita ansiedade, com esse vírus incerto e muitas mortes acontecendo, pessoas sendo prejudicadas. Precisei dar um pause, sabe?” (Reprodução Instagram)

Ela falou com o site direto da sua casa, em São Paulo, de onde mantém o isolamento social, e conta que vem escrevendo para vídeos novos, mas respeitando seu tempo e sua saúde mental. “Nas últimas semanas tive que dar uma pausa, um tempo de redes sociais, não só da Blogueirinha. Cancelei algumas lives, neguei alguns convites de entrevistas. Senti necessidade de ficar mais na minha. Fiquei ainda mais reclusa do que já estou nesta quarentena, porque me envolver muito com política, ler muitas notícias diariamente, é uma coisa que me afeta bastante. Vivemos um momento de muita ansiedade, com esse vírus tão incerto e muitas mortes acontecendo, muitas pessoas sendo prejudicadas. E acredito que o governo está sendo muito irresponsável ao conduzir essa situação toda, então acho que precisei mesmo dar um pause, sabe?”. No Instagram os seguidores andam pedindo vídeos novos em que Maria encarne a Blogueirinha satirizando os últimos acontecimentos políticos por aqui. Tem data para o próximo? “Estou escrevendo os textos dos vídeos, mas não estou me apressando, com a preocupação, que é uma característica da internet, de ser imediata, com vídeos rápidos, com os assuntos ainda quentes. Vou respeitar meu limite e a minha vontade, não vou me apressar. porque sei que isso só vai aumentar a minha ansiedade. Agora estou produzindo já alguns vídeos, mas ainda não tenho a previsão de postar, vou aos poucos”.

Com a criação da Blogueirinha, Maria saltou de 39 mil seguidores para quase 450 mil em pouco tempo. Desde então, tem vivido intensamente as redes. Acredita que neste mundo que se desconstrói durante e pós pandemia, quem produz conteúdo mais alienado ao que acontece ao redor ainda vai ter likes? “Acho que com a pandemia, muitas pessoas estão colocando as coisas em perspectiva, preocupadas com dinheiro, emprego, então é muito normal que comecem a contestar um conteúdo que foque muito no consumo, que acho que é o caso de algumas blogueiras, porque vivem de publi, de fazer propagandas de produtos. Acho que esse conteúdo passa a ser um pouco supérfluo em um momento como esse, então acho que isso tende a mudar daqui para frente”.

“Acho que com a pandemia, muitas pessoas estão colocando as coisas em perspectiva. Então é normal que comecem a contestar um conteúdo que foque muito no consumo” (Reprodução Instagram)

Irreverência e consistência

O incômodo com os absurdos da realidade ao redor continuam sendo o combustível criativo da artista, que com sarcasmo e boa dose de humor coloca em pauta assuntos atuais. Você acabou de fazer um vídeo se intitulando de “trouxa” por continuar em quarentena. Na sua opinião, qual é a dificuldade de uma parte da população entender a gravidade do que se passa? “Sim. Foi uma ironia, claro, sei que eu não sou trouxa, sei que estou fazendo algo certo em continuar em quarentena e diminuir o risco de contaminação. Não vou medir o quão as minhas atitudes estão certas ou erradas com a régua dos outros. Então, se muitos querem ir para a rua, para o bar, eles é que estão equivocados”, constata.

“Só digo que me sinto trouxa, porque fazemos as coisas certas, indicadas, enquanto têm pessoas que simplesmente jogam tudo para o alto e fazem o que têm vontade. Na minha opinião, no problema de parte da população ter dificuldade de entender o que se passa atribuo responsabilidade ao governo Bolsonaro. Ele apareceu sem máscara quando participou de manifestações, quando andou nas ruas, cumprimentou as pessoas com as mãos. Tudo isso confunde as pessoas e dá um péssimo exemplo. Ele coloca uma disputa política onde não deveria ter. O que deveria existir é a união das pessoas para achatar a curva de infecção do vírus. Esse deveria ser o objetivo de todos, independente de partidos, de esquerda ou direita. E acho que por isso fica essa sensação de cada um por si. Então, muitas pessoas acham ok se aglomerar”.

“Sim, foi uma ironia, claro, sei que eu não sou trouxa, sei que estou fazendo algo certo em continuar em quarentena e diminuir o risco de contaminação” (Reprodução Instagram)

Papo reto com Maria Bopp

Já recebeu algum convite político ou se candidataria no futuro? “Não tenho nenhum interesse em entrar para a política por enquanto, e também não recebi convites”.

A Blogueirinha já recebeu algum convite para ir além da internet? “Sim, uma coisa ou outra foram estudadas, propostas, mas não posso ir fundo agora falando. Provavelmente não vai rolar, acho que talvez o formato da Blogueirinha do Fim do Mundo seja mais interessante na internet mesmo, acho que funciona melhor”.

Se existisse um “Troféu Blogueirinha”, versão do bem, você daria para quem? “Para a Rita Von Hunty, blogueira drag queen que acho maravilhosa, e faz um trabalho incrível de simplificar conteúdos que são sofisticados, não deixando eles rasos, explicando as coisas em uma linguagem acessível. Ela fala muito sobre política”.

E se existisse também o outro lado, o “Troféu Blogueirinha”, versão do mal? “Ah, não quero nomear ninguém com um troféu do mal, não me sinto com esse poder”.

Em tempos de live, quem a Blogueirinha do Fim do Mundo sonha em entrevistar? “O maior ídolo dela, Jair Bolsonaro (responde falando como Blogueirinha). Adoraria entrevistá-lo, perguntar como estão os dias dele, como ele está, se está feliz. Acho que o Jair Bolsonaro teria várias dicas de publi, de cloroquina, ele é um cara super bem relacionado. Então, a Blogueirinha do Fim do Mundo adoraria fazer uma live com ele”.

Como imagina as blogueiros daqui para frente, em um futuro próximo? “Acho que não vai ser muito diferente do que existe hoje. Acredito que os blogueiros, youtubers, influenciadores, são personagens da internet. E ela é isso: diversa, com assunto para todo tipo de público. Então, acho que vai continuar como hoje, pessoas falando vários assuntos, de política à maquiagem”.