Não importa o resultado, Sia Furler é uma das grandes vencedoras desta noite no VMA, mesmo que apareça de costas!


Depois de compor hits para Rihanna, Beyoncé, Britney Spears e Kylie Minogue, a cantora australiana que não gosta de mostrar o rosto finalmente ganha sua fatia de estrelato no bolo das celebrities

*Por João Ker

É hora de os fãs do mundo inteiro cruzarem os dedos e morderem os lábios, intensificando a torcida. A premiação mais esperada da MTV, o Video Music Awards, toma conta da tevê nesta noite de domingo (24/8)  e, considerando que a celebração sempre dá pano para manga, é possível que esta edição também renda outros momentos epopeicos na história da música pop. Britney Spears, Madonna e Christina Aguilera se beijando, por exemplo, é apenas uma das ótimas memórias criadas nesses trinta anos do evento “alternativo” ao Grammy. E, apesar de a edição deste ano dar destaque para a “Anaconda” de Nicki Minaj  e a grande homenageada da noite ser a Queen B. Beyoncé, uma das indicadas merece um pouco mais da atenção do público: a cantora e compositora australiana Sia.

A audiência geral ficou ciente da existência de Sia Furler apenas este ano, quando o seu single “Chandelier” invadiu as rádios e canais de TV, rendendo performances e paródias épicas. O vídeo é estrelado pela garotinha de 11 anos Maddie Ziegler e mostra a menina fazendo uma coreografia contemporânea um tanto quanto esquizofrênica ao som do primeiro single comercialmente bem-sucedido da cantora australiana. Sucesso certeiro, o clipe já rendeu cerca de 130 milhões de acesso no Youtube, sem contar com a participação de Sia nos maiores programas da TV norte-americana, onde ela aparece sempre cantando de costas para a plateia enquanto algum artista “interpreta” a música – por sinal, uma das convidadas para tal feito foi a diretora/roteirista/estrela da série “Girls”, Lena Dunham. O artifício faz parte de uma estratégia marqueteira meio muquirana, mas é condizente com a personalidade da cantora e ainda serve para divulgar o penteado que, de acordo com a própria, será a sua assinatura, aos moldes do que aconteceu com Amy Winehouse.

Vídeo oficial de ‘Chandelier’

Mas 2014 está longe de ser o início da carreira de Sia. Como artista solo, ela já vem gravando desde 1997 e teve até a sua porçaozinha de sucesso quando algumas de suas músicas foram parar em trilha de séries, com destaque para “Breathe Me”, que serviu como plano de fundo para a última cena da série “A Sete Palmos” (“Six Feet Under”). Como compositora, talvez ela seja um dos maiores nomes surgidos na última década, tendo escrito para artistas como Beyoncé, Britney Spears, Rihanna, Katy Perry, David Guetta, Jennifer Lopez, Christina Aguilera e por aí vai. Mas por que ela só está aparecendo agora e, pior, sem mostrar o rosto?

Cena final de ‘Six Feet Under’ ao som de Breathe Me

Reza a lenda que Sia, assim como muitos outras celebrities do calibre de Cat Power e Lana Del Rey, sempre teve o famoso “medo de palco”. Uma série de problemas com drogas e inseguranças pessoais levaram a mulher a se internar na rehab logo no início da carreira, em meio à divulgação de um dos seus álbums. Dada a volta por cima, ela decidiu que não aguentava as pressões de se promover para ser uma estrela e apenas poderia continuar com a carreira como uma “ghost writer”, ganhando dinheiro aos borbotões escrevendo hits para popstars. E assim começou uma trajetória sem a qual o mundo pop nunca teria ouvido músicas como “Diamonds” (Rihanna), “Perfume” (Britney Spears), “Cannonbal” (Lea Michele), “Sexercise” (Kylie Minogue) e muitas outras.

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A fama individual da cantora só ganhou um novo gás quando, acidentalmente e contra a sua vontade, David Guetta utilizou seus vocais em “Titanium”. Originalmente, a música havia sido escrita para Alicia Keys, oferecida para Katy Perry e gravada por Mary J. Blige. Ainda assim, o DJ resolveu usar os vocais originais da demo, afirmando que a voz da australiana era a melhor para a faixa. O sucesso foi avassalador e, além de dominar charts e pistas de dança ao redor do mundo (“Titanium” entrou para o top 10 da Billboard em sete países, incluindo o primeiro lugar na Inglaterra), serviu para colocar Sia no radar de grandes artistas pop. A partir daí, ela fez outras colaborações bem-sucedidas para o próprio David Guetta – “She Wolf (Falling To Pieces)” -, Flo Rida (“Wild Ones”), Eminem (“Beautiful Pain”) e conseguiu emplacar músicas próprias nas trilhas sonoras de O Grande Gatsby” e Jogos Vorazes”.

Sia apresenta versão acústica de ‘Titanium’

Foi com a leva desse sucesso que Sia resolveu lançar seu 6º álbum de estúdio, 1000 Forms Of Fear”, o qual lhe rendeu os seus primeiros disco e single no #1, além de duas indicações como artista solo no VMA (‘Vídeo do Ano’ e ‘Melhor Coreografia’), sem contar a participação com a Angel Haze no vídeo de “Battle Cry” (‘Melhor Vídeo com Mensagem Social’). O registro traz o suprassumo de seu talento como cantora e compositora. Por toda a trajetória de Sia, há uma capacidade meio obscura e meio fascinante de traduzir as maiores fragilidades e inseguranças emocionais em melodias e versos brilhantes. Ela lida com solidão (“I’m In Here”), baixa autoestima (“Breathe Me”), traição (“You Lost Me”, gravada por Christina Aguilera) e perda (“Dressed In Black” ou “If You Say So”, de Lea Michele) no mesmo ritmo com que compõe canções de amor para si e para outros artistas. Basta ouvir “Diamonds”, da Riri, e “Fire Meets Gasoline”, incluída em “1000 Forms Of Fear”. São declarações de um amor imperfeito que, no atual estado do mercado fonográfico, funcionam muito bem e mostram como ela é uma camaleoa de emoções que, ocasionalmente, também faz uso da filosofia carpe diem, como mostrou quando ajudou a compor “We Are One (Ola Ola)”, o tema oficial da Copa do Mundo FIFA 2014.

Sia apresenta o buzz-single “Big Girls Cry”, do álbum 1000 Forms Of Fear, no programa de Jimmy Kimmel

De qualquer maneira, esse parece um momento propício para Sia sair das sombras de compositora e clamar seu lugarzinho nos charts como uma intérprete que tem algo a dizer. Afinal, ela não é a única e nem a primeira a reativar esse processo. Recentemente, Pharrell Williams conseguiu emplacar o #1 com parcerias e acabou lançando o seu primeiro álbum solo, “G.I.R.L.”, depois de oito anos. Mesma trilha seguida pela britânica Emeli Sandé que, depois de ter trabalhado com Katy Perry, Rihanna e Cheryl Cole, se transformou em uma sensação momentânea em meados de 2013 (não que falte talento, mas apenas um diferencial que a faça perseverar no meio). Até Bonnie McKee, uma espécie de Barbie arrogante do mundo pop, responsável pelos maiores pop chicletes de artistas como Kesha, Katy Perry e Britney, resolveu tentar carreira solo, coitada. Olhando por esse viés, por que não Sia?

Sia canta versão acústica de Diamonds, sucesso composto por ela e gravado originalmente por Rihanna

Agora, a cantora se prepara para o lançamento de sua segunda parceria com Eminem, “Guts Over Fear”, feita para o filme O Protetor” (“The Equalizer”), estrelado por Denzel Washington e com lançamento previsto para 4 de outubro no Brasil. Não importa o resultado do VMA na noite de hoje, Sia já pode se considerar uma das grandes vencedoras. Suas indicações confirmam que sua carreira está decolando e rápido, além de evidenciar que agora ela não é apenas a autora de hits alheios para grandes estrelas, mas consagrada no time e dona de seu próprio estrelato. Mesmo que esse estrelato lhe venha de costas, como uma peruca loura que canta assustadoramente bem.