A nova temporada de Malhação irá focar, a cada 15 capítulos, em diferentes narrativas que farão de alguns personagens protagonistas temporários das tramas. Este esquema está impulsionado pela vontade da professora Gabriela, vivida por Camila Morgado, em ajudar os adolescentes, pois é a partir da sua tentativa ser útil que Malhação: Vidas Brasileiras aborda, de forma mais consistente, a história daquele jovem. Visando levar a educação para outros lugares, a profissional irá participar da ONG Percurso que é gerida por Rafael, interpretado por Carmo dalla Vecchia. O rapaz possui uma essência muito parecida com a da professora, estando disposto a ajudar sempre os outros. “A minha preparação para este personagem tem muito a ver com as minhas práticas religiosas. Como ele é um dono de uma ONG, é preciso de um humanismo muito grande. Sou budista há 20 anos, então isto tem muito a ver comigo. Toda a atividade que faço na minha religião já tem uma pegada de auxílio ao próximo”, afirmou. Sendo assim, o ator compartilha alguns princípios com o seu personagem. Gabriela e Rafael sempre colocam a felicidade do outro acima das suas e Carmo garantiu que não é diferente. “Tenho isto muito presente em mim. Acho que para nós estamos felizes é preciso que todas as pessoas ao nosso redor também estejam. Se vivemos em uma casa com conflitos, aquilo também faz parte de nós. O indivíduo é fruto dele mesmo e suas circunstâncias”, explicou.
A relação entre os personagens de Carmo dalla Vecchia e Camila Morgado será ainda mais profunda do que uma simples amizade de trabalho. Os dois eram namorados há 15 anos, mas por alguma razão acabaram se separando. No entanto, este reencontro não será tão romântico como se imagina, afinal, Gabriela está casada com Paulo, vivido por Felipe Rocha, e possui três filhos com ele. “Ele é um cara ético, então vai respeitar muito a instituição casamento. Mas esta aproximação, provavelmente, vai instigar um encantamento o que deve gera um embate com o marido dela”, comentou. O papel destes três atores formará um triângulo amoroso de maior destaque na trama, ou seja, ao mesmo tempo em que a narrativa possui vários pequenos protagonistas, há um núcleo principal que compõe a trama de arco longo da novela.
Apesar de toda a atmosfera de bom moço, existe uma grande contradição na história de vida de Rafael. Ele é pai, mas não exerce esta função. “Pelo o que sei, o filho vai procurar o pai e querer saber dele o porquê de tê-lo abandonado. Isto é um dilema muito grande, porque justo o cara que cuida de tantos jovens acabou não cuidando do próprio sangue”, analisou. Para entender melhor o universo destas histórias que estão sendo retratadas em cena como a ausência de uma figura paterna, gravidez na adolescência e problemas com drogas a TV Globo organizou um encontro do elenco com pessoas comuns que estão passando pela experiência a ser exibida.
Grande parte do elenco é composto por jovens que, em sua maioria, nunca haviam participado de alguma novela. Sendo assim, Malhação: Vidas Brasileiras está sendo uma verdadeira escola para eles, principalmente ao lado de grandes nomes da teledramaturgia. No entanto, a troca de experiências é mútua. “Está sendo uma delícia poder aprender com eles. Sempre tem uma novidade e há um frescor a mais em cena”, comentou. O núcleo infantojuvenil contabiliza 17 novos atores e, para eles, estes personagens podem mudar muito a sua carreira. Apesar de estar em contato direto com eles, Carmo não soube dizer se enxerga alguma grande revelação nesta turma. “Pela minha experiência de carreira, tudo é muito incerto. Às vezes, tem aquele menino que você acha que vai rolar e, no final, outro que se destaca. Não tem regra. Já vi ator que começou bem, mas não vejo mais. E também já vi gente que gaguejava em cenas pequenas sendo estrelas. Tem de tudo. Fiz Chiquititas, então eram muitas crianças geniais e muitas delas cresceram e não trabalharam”, sugeriu.
Além de ator, Carmo dalla Vecchia também é conhecido entre os colegas de trabalho como fotógrafo. Isto porque o artista já fez muitos registros pessoais dos bastidores de diversas novelas. “Já comecei a fazer fotos de Malhação: Vidas Brasileiras e, inclusive, tenho que tomar cuidado porque posso acabar fazendo isto o dia todo e esquecer de atuar”, brincou. O profissional já possui no currículo três exposições. “Nunca mostrei nenhum destes registros da cidade cenográfica, porque existe uma questão de respeito à TV Globo. No entanto, acho que isto mudou um pouco, todo mundo compartilha tudo nas mídias. Tenho que entender como esta funcionando a filosofia atual da casa, mas atualmente não posso postar nada sem autorização”, lamentou.
Malhação: Vidas Brasileiras destaca a figura forte e empoderada de uma mulher batalhadora. Sendo assim, entre tantas questões que são levantadas está a ideia do feminismo. Como ator, Carmo acha muito importante esta representatividade. “Sou um homem aberto ao diálogo, porque acho que estamos passando por uma fase de radicalismo. Talvez seja interessante para as pessoas abrirem os olhos e demarcarem alguns territórios. Espero que a poeira baixe um pouco, porque senão fica tudo muito chato. Quando as pessoas se tornam extremistas demais, as relações, o respeito e a conversa acabam sendo inviáveis. O movimento é importante”, aconselhou.
Outro tema polêmico abordado pela novela é a situação política do Brasil ao mostrar uma família que é desestruturada pela prisão do pai feita pela Lava Jato. Esta desestabilização política unida aos jovens sem educação que são ajudados pela ONG expõe as mazelas que existem no país. “Sou uma pessoa em uma posição privilegiada, pois vivo da profissão que eu escolhi. Talvez o meu Brasil não seja tão bacana quanto deveria devido à violência que nos rodeia, muito triste o que se passa por aqui. Estou aguardando as novas eleições e espero que tudo possa melhorar”, afirmou. O ator é contra o pensamento pessimista, pois acredita que isto pode atrair coisas ruins.
Apesar de ter uma carreira fundamentada no que ama, Carmo dalla Vecchia acredita que ainda tem muitos projetos e planos para realizar. “Não cheguei aonde sempre sonhei porque o dia que isto acontecer tudo acabou. O ser humano deveria ser uma máquina de sonhos, sempre tendo algo para alcançar. Chegar até o final talvez não seja o mais interessante, na verdade a trajetória até lá é mais bacana. Sou do interior do Rio Grande do Sul e não tenho nenhum ator na família, então não esperava conseguir conquistar algumas situações. No entanto, quando cheguei lá percebi que deveria pensar mais alto”, explicou.
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