“Na quarentena aumentou o número de adoção de gatos”, diz Jacqueline Sato à frente da ONG House of Cats


Mas apesar da boa surpresa com o aumento das adoções, a atriz diz que o número de pedidos de ajuda para animais abandonados nas ruas também cresceu. “Infelizmente também teve muito abandono neste período. Algo horrível e desumano. Algumas pessoas acreditam que eles podem ser transmissores do coronavírus, o que já foi comprovado que não”

*Por Brunna Condini

Tempos de isolamento social também são tempos de valorização do afeto. E Jacqueline Sato aposta nisso quando comemora o aumento das adoções na sua ONG, a House of Cats, que resgata gatos em situação de abandono e maus-tratos, cuidando deles até que sejam adotados. “Mesmo com toda a pandemia, doamos nove gatinhos semana passada. Muita gente que pensava em adotar um dia têm tomado esta decisão neste momento de reclusão. Os animais são excelentes companhias, trazem muita alegria para nossas casas”.

Mas apesar da boa surpresa com o aumento das adoções, a atriz diz que o número de pedidos de ajuda para animais abandonados nas ruas também cresceu. “Infelizmente também teve muito abandono neste período. Algo horrível e desumano. Algumas pessoas acreditam que eles podem ser transmissores do coronavírus, o que já foi comprovado que não, animais não são transmissores ou portadores da doença, este tipo de vírus não se instala neles. Outras pessoas, por se verem em uma situação financeira complicada optam por abandonar seus animais de estimação, o que é inacreditável, pois se não há mais dinheiro para alimentar a família, no mínimo deveriam encaminhar os animais à alguma ONG ou Associação de Proteção Animal, jamais deixá-los no olho da rua, sujeitos a morrerem de fome, ou maus-tratos”, lamenta.

“As contribuições financeiras mensais que recebíamos de algumas voluntárias e parceiras diminuíram também. Por isso acabamos pedindo ajuda publicamente nas nossas redes sociais recentemente e, graças a Deus, começamos a receber doações. Somos muito gratas a todos que doaram qualquer quantia ou compraram e mandaram entregar ração, areia, medicamentos. Vocês estão ajudando a salvar a vida de muitos animais! Em nome da House of Cats quero dizer muito obrigada, do fundo do coração”.

Jacqueline Sato e um dos gatinhos abrigados pela House Of Cats: “Muita gente que pensava em adotar um dia têm tomado esta decisão neste momento de reclusão. Os animais são excelentes companhias, trazem muita alegria para nossas casas” (Divulgação)

Confinada em casa com o noivo, o cineasta Rodrigo Bernardo, ela aguarda a estreia da série “Os Ausentes”, da TNT – que a cada episódio contará o caso de uma pessoa que precisa solucionar um desaparecimento – e aproveita para dedicar mais tempo às ações da ONG. “Chegamos a abrigar 27 gatos neste período. Mas, as adoções estão indo super bem e, agora, 17 deles já estão em lares definitivos com seus donos recebendo e dando muito amor. Cinco já estão com a adoção aprovada e serão entregues até o final de semana. Fazendo as contas, sobrariam apenas cinco para doarmos, mas quando alguns são doados, novos são resgatados e abrigados”, diz Jac.

Ela ainda fala sobre um novo resgate da ONG: “O próximo caso que vamos atender é de cortar o coração. São 18 gatos que foram abandonados em uma casa. A pessoa foi embora e os deixou ali. Recebemos o pedido de ajuda de uma parceira nossa, e não vamos ficar de braços cruzados.  Não paramos nosso trabalho, apenas quadruplicamos os cuidados na chegada e entrega dos animais. Pois, apesar deles não terem a doença, podem ter partículas em seus pelos e patas. Assim, os limpamos assim que chegam, e fazemos a entrega respeitando a distância de um metro e meio, recebemos o adotante do lado de fora de casa, de máscara, luvas e álcool gel ao alcance, sem qualquer tipo de contato físico”.

Que critérios vocês estipula para a adoção? “São muitos até que aprovemos um adotante. Nós somos extremamente cuidadosas no exame das informações do formulário, bem como, após aprovado por escrito, averiguamos com cautela a questão das telas nas janelas, por exemplo. Se a pessoa não está disposta a nos mostrar que o local onde o animal viverá é seguro, nós não aprovamos, preferimos optar por um outro adotante que tenha esta relação de transparência conosco. Só concluímos a adoção quando temos 100% de certeza que será um adotante responsável. Nunca tivemos sequer uma devolução ou abandono posterior até hoje. Ao adotarem com a gente um vínculo é criado, geralmente os adotantes nos enviam fotos e vídeos dos gatinhos em sua nova casa com frequência, mesmo depois de bastante tempo. Fora que acompanhamos também via redes sociais, o que é a parte mais gostosa de tudo isso, acompanhar estes finais felizes”.

“Concordo que as pessoas estão vulneráveis emocionalmente, e por isto um animal virá para fazer um bem incomparável” (Divulgação)

Dados do início deste ano, apontam que mais de quatro milhões de animais vivem em abrigos, sob a guarda de famílias carentes ou em situação de rua no país. A população de animais do Brasil é a terceira maior do mundo, ficando atrás apenas da China e dos Estados Unidos. Os animais são considerados companheiros fiéis, e nesta situação de isolamento social, eles podem ser uma companhia que também levanta o astral nos altos e baixos dos dias que passam. Mas você acha que depois desta pandemia pode acontecer abandono de animais adotados? Afinal, agora as pessoas estão mais vulneráveis emocionalmente… “Por isso mesmo que somos extremamente exigentes durante o processo de aprovação de um adotante. Concordo que as pessoas estão vulneráveis, e por isto um animal virá para fazer um bem incomparável. Os nossos adotantes, que passaram pelo crivo de seleção jamais abandonarão seus animais. Muito pelo contrário, enfrentarão este período e fortalecerão ainda mais a relação com seus animais, tornando esta ligação ainda mais forte. Confio muito nos nossos critérios. E por trabalharmos de forma mais intimista, com poucos animais por vez, temos como ser bastante minuciosas”, observa.

“Além do formulário, conversamos por telefone e sentimos a pessoa. Se houver qualquer sombra de dúvida ou suspeita, não levamos adiante. Nossa intuição também é levada em conta. Afinal, é um dos saberes ancestrais que nos guiam. Então, nos embasamos no formulário escrito, na averiguação do local, nas conversas por telefone, e por último, pessoalmente quando a pessoa vai até nós para adotar. Se houver abandono será pelas pessoas que adotaram só para preencher um buraco provisoriamente, o que não é o perfil das pessoas que aprovamos. Adoções feitas pelo nosso intermédio levam em conta o nível de consciência e responsabilidade, além de muitos outros quesitos”, afirma.

“Se está em dúvida, faça o seguinte exercício: se imagine, imagine sua vida pelas próximas duas décadas sem um animal de estimação. Agora repita, mas desta vez com um animal de estimação” (Acervo)

Por outro lado, um lado bom, é que essa situação que vivemos, também serve de estímulo para muita gente que pensava em adotar. Até porque, estando em casa, até a adaptação é melhor. O que você diria para quem ainda está indeciso? “Pense bem, pois ao adotar esta companhia estará sob sua responsabilidade por até 20 anos, a partir do momento da adoção. Se está em dúvida, faça o seguinte exercício: se imagine, imagine sua vida pelas próximas duas décadas sem um animal de estimação. Agora repita, mas desta vez com um animal de estimação”, propõe. “Os cuidados diários, os cuidados quando for viajar, quem você irá chamar para tomar conta dele, caso precise. As mudanças de casa, e ter que escolher uma casa ou apartamento com as adequações necessárias para que o animal não fuja. Os pelos dele pela casa e você tendo que limpá-los. Os gastos com veterinário. Os possíveis móveis e objetos que ele possa vir a estragar. E, sim, claro, o carinho e amor que vocês irão trocar. Se ao fazer isto, ponderando tudo, você ainda quiser adotar, mande uma mensagem para gente, que nós vamos te encher com mais perguntas ainda, e aí sim, se você continuar com vontade, terá tomado uma decisão certa e duradoura. Ninguém que adotou com a gente, até hoje se arrependeu. Justamente por já ter pensado e repensado. E sido ajudado, através das nossas perguntas, a questionar se é o momento certo, e se há real condição de cuidar de mais uma vida além da sua e de sua atual família”.

Linda e Paul, os gatos de Jacque: “Eles estão bem tranquilos. Na verdade, estão amando ter companhia por mais tempo. Só estão achando meio estranho eu fazendo faxina tarde da noite” (Acervo)

Há mais de 40 dias em casa, Jacqueline, que vive em seu apartamento com dois gatos, Linda e Paul, fala da rotina em confinamento com os animais. “Eles estão bem tranquilos. Na verdade, estão amando ter companhia por mais tempo. Só estão achando meio estranho eu fazendo faxina tarde da noite. Porque têm dias que é isso, né? Só acabamos conseguindo cuidar da casa mais no final do dia, que é quando as outras atividades também dão uma trégua”, conta a atriz, que além deles, tem na casa dos pais onde viveu boa parte dos seus 31 anos, os gatos Guinness, Mew, Moti, Yuki, Paola, Chaplin, os cachorros Liza, Paul e Scott, e mais três calopsitas e um papagaio.

Gatos que foram abandonados em uma casa, vão ser resgatados pela House Of Cats, e em breve estarão disponíveis para adoção (Divulgação)

Desde cedo Jac se apaixonou pelos animais e sempre quis ajudar a causa. Há poucos meses a House Of Cats ganhou sede própria e ela acredita que a conquista vai possibilitar aumentar o alcance do trabalho e retirar da vulnerabilidade mais animais. Diz para quem ainda não tem um animal, o que significa a companhia de um em casa, e que tipo de amor é esse? “Nossa, é indescritível, mas vou tentar. Eles têm muita gratidão e um amor incondicional. O olhar deles é capaz de curar. A presença deles alegra qualquer ambiente ou situação. Sabe aquele dia que você está estressada. Pois é, eles são capazes de mudar o seu estado interno apenas te olhando, ou fazendo charme, ou sendo desastrados arrancando uma risada gostosa de ti. Ocitocina, o tal hormônio do amor, será liberada diariamente no seu corpo, trazendo bem-estar, diminuindo os níveis de estresse, ou seja, promovendo mais saúde. Você nunca mais se sentirá sozinho”, garante. “Haverá vida na sua casa. Os danados são bons em lerem nosso estado interno. Muito melhor do que muita gente que você jura que te conhece muito. Aposto alto que se você estiver triste, eles vão grudar em você, subir no seu colo, ronronar, e te dar carinho até que você melhore, nem que seja um pouco. O olhar de um animal é mais sincero do que o de qualquer ser humano. São muito expressivos, e comunicam exatamente o que estão sentindo, sem desvios ou disfarces. E não há nada melhor do que conviver com quem é transparente e sincero com a gente. O amor que você também terá por eles seguirá na mesma direção, nutrindo um jeito único de se relacionar, de cuidar do outro, e de entender uma forma de vida diferente da sua. Não se compara ao amor sentido por mais ninguém. É especial. Te preenche de um jeito diferente, simples e potente. E tem sim o poder de mudar cada dia da sua vida para melhor”.

“O amor por um animal não se compara ao sentido por mais ninguém. É especial. Te preenche de um jeito diferente, simples e potente. E tem sim o poder de mudar cada dia da sua vida para melhor” (Foto: Gigi Kassis)