São Pedro não deve gostar muito de música. Pelo menos não como deveria, pois choveu a cântaros nesta noite de terça-feira (15/4), por ocasião da noite de autógrafos do livro dos 25 anos do Prêmio da Música Brasileira, o calhamaço que narra a trajetória dessa importante celebração da produção musical brazuca. Mas, considerando a majestade do registro e o apreço que a classe artística tem por José Maurício Machline, idealizador tanto da premiação quanto da publicação, ao lado de Gringo Cardia e Antônio Carlos Miguel, podia ter caído um dilúvio de assustar Noé que, mesmo assim, todo mundo teria comparecido do mesmo jeito, nem que fosse de canoa e pouco se importando com trovoadas. A noite era de alegria e, levando em conta a presença maciça da classe musical e, também, de vários baluartes das artes dramáticas, a máxima proferida por Gaby Amarantos no badalo poderia ser fato: “Se um cometa cair aqui na Sociedade Hípica Brasileira, a MPB acaba!”
Para Gaby, aliás, o importante é o talento e a história, nada mais: “Apesar das dificuldades, vejo um Brasil que tem fé, que luta para dar certo. Daí a importância do prêmio pela sua pluralidade e representatividade. Não importa o gênero, o estilo. O livro, enquanto registro dessa luta, é fundamental. Me sinto inserida em um momento onde há espaço para a boa música, assim como existe a má música. E, como representante da cultura paroara e amazônica, me sinto feliz por estar aqui.” Naturalmente, muitos pensam como a cantora. Portanto, não faltaram personalidades na celebração. Gente como o maestro Rildo Hora, importante profissional do cenário musical, arranjador de tantos trabalhos importantes, vestido de preto na elegância, com direito a suspensórios. Figura imponente e cordial, incensada por Zélia Duncan: “Este homem é de uma importância gigantesca na cena artística nacional. É para homenagear gente como ele que obras como o livro são essenciais”, enfatiza a cantora, emocionada. E completa: “Nosso trabalho é nosso ofício, aquilo que fazemos por amor, que precisamos que alguém ouça. E o prêmio – e agora este livro – precisa ser aplaudido de pé!”
Assim, Lucinha Lins e Cláudio Tovar enfrentam bravamente a fila até chegar a vez de cumprimentar José Maurício. Fernanda Montenegro desfila sua idoneidade pelo salão, enquanto Tonico Pereira chega mais tarde, feliz como pinto no milho na hora de abraçar o amigo. Toni Garrido vem com a mulher. Dois Neys, relevantes cada um no seu quadrado, Matogrosso e Latorraca, não se encontram por pouco. Jornalistas como Leilane Neubarth e Chico Pinheiro passam para dar um alô. E o colega de profissão – escritor e pesquisador musical Rodrigo Faour – observa tudo com seu olhar arguto, confraternizando com seus ídolos, como Nana Caymmi – e gastando prosa com a multifacetada Elisa Lucinda.
Zeca Pagodinho, como uma espécie de Sai Baba do samba, se diverte na varanda com uma legião de seguidores em volta. Mas que culto é esse? Ele se adiante: “São as mulheres de Zeca”, se referindo a um grupo de bonitonas que vieram puxar papo com sua iluminada pessoa. “Ele tem muitos fãs que o adoram no planeta todo”, diz uma. A outra rebate: “No sistema solar, querida.” Zeca ri: “Me amam, me amam!” E aponta para o colar de águia no colo de uma delas: “É porque eu sou portelense fanático!” Em outra mesa pertinho dali, outro baluarte do samba, Beth Carvalho, é só sorriso, quase ao lado de Tuca Andrada, em pé com amigos trocando figurinha.
Débora Bloch flana pelo salão com sua ruivice ashkenazim, mas não é a única de cabelos cor de fogo a despertar atenção. Além dela e de Leilane, chega mais tarde Baby do Brasil que, apesar de acreditar que tudo deve ser azul, sem pecado e sem juízo, exibe cabeleira roxo-Halloween. Entraria na Disneylândia? E no Hopi Hari? Enquanto isso, outra Deborah, a Colker – unha e carne com Gringo Cardia – enfrenta a fila para dar abraço no amigo e receber um beijinho no ombro (ops, na bochecha) de Machline. Marcelo Janot é mais um que prefere ir logo para fila, antes de qualquer coisa, mas Edson Cordeiro faz o oposto: circula, joga conversa fiada, bebe champanhe e deixa para encarar a fila de autógrafos mais tarde, quando a coisa já acalmou.
Daúde é só alegria. Está lançando álbum novo. Delícia, estava mesmo na hora! Ela, que está no livro – já que recebeu o prêmio de ‘Revelação Feminina’ em 1995, quando o prêmio ainda se chamava Sharp, pelo seu primeiro CD, “Daúde”-, acredita que o prêmio é para todos, e o livro também. “Sempre vai existir boa música e má música, independente de estilo e intérprete, mas, acima disso, o legado de José Maurício é abrir espaço para todas as vertentes, com um olhar plural, despido de preconceitos.” O novo trabalho da cantora, “Código Daúde”, que sai pela gravadora LAB 344, chega no mercado já já, parece que mês que vem. Ao seu lado, Connie Lopes, a produtora executiva do Back2Black, o festival de música negra que será realizado no segundo semestre, confessa que já está a pleno vapor, mas não entrega o jogo: “Mais para frente conto as atrações que devemos ter esse ano, mas é coisa boa”, diz fazendo mistério.
Pouco depois, Joanna, radiante e seis quilos mais seca, é efusiva: “Também estou no livro, essa Bíblia! Esse registro é fundamental, prova viva de que tudo aconteceu”, declara, ao lado de seu amigo e braço direito, esquerdo e cabeça, o beauty artist João Velàsquez, que sempre cuida da aparência da diva. Nesse meio tempo, Lázaro Ramos irrompe evento adentro e aproveita para cumprimentar Isabel Fillardis: “Isabel, e aí, gatona?” Assim como ela, outras atrizes como Maitê Proença, Paola Oliveira e Monica Torres também são pura alegria, revelando que, na cidade, todas as artes trocam experiências entre si. Rio de Janeiro é isso, essa pluralidade low profile.Por isso que é Rio.
Leny Andrade circula pelo salão central com dificuldade. A cada passo, a cantora de voz poderosa é reverenciada por alguém. Gilberto Gil também é outro que não para quieto. Quase como naquele seriado americano: “Everybody loves Gil.” E, no contraponto, Dona Ivone Lara, toda trabalhada na oncinha, se refastela em uma poltrona, bem pertinho de onde Machline autografa. Já Elba Ramalho chega um pouco mais tarde, quando a chuva já aperta, mas leva uma eternidade até alcançar o salão principal onde estão os autores. Todo mundo quer falar com ela. E Adriana Bombom, entre uma entrevista ou outra para seu programa na tevê, confraterniza com a rapaziada do meio e ainda brinca com nós, do site: “Caramba, que loucura essa cobertura de vocês no Fashion Rio, hein? Amei!”
Enquanto isso, comendo pelas beiradas como convém a alguém nascida e criada na boa malandragem, Ângela Rô Rô – suprassumo da sabedoria – afirma: “Essa mistura é que é boa. Esse caldeirão que é a música brasileira., essa salada geral. Vinte e cinco anos de prêmio e, agora, o livro é isso: coragem! Não importa o quanto a internet e as mídias sociais são vitais hoje em dia. O livro físico, a obra impressa é de ouro, uma cria preciosa que revela a força de vontade de José Maurício!”
Ângela ainda conta que está vivendo um momento ímpar: “Feliz da Vida” é o álbum que comemora meus 35 anos de carreira e sai agora em maio. Reuni uma turma de amigos do babado. Tem participação de Maria Bethânia, Sandra de Sá, o Vercilo (Jorge), Frejat, Paulinho Moska e Diogo Nogueira. Só gente bacana! Tá do @#X**$@!” Ali do ladinho, Lucinha Araújo ouve de veneta e repreende: “Menina, você continua a mesma! Que boca é essa?!?” Todos riem, mas Rô Rô, empolgada, vai emendando: “E ainda estreio em agosto um novo programa no Canal Brasil, “Nas Ondas da Rô Rô”, com direção de Jodele Larcher, que dirige os programas da Xuxa e o Rock in Rio. Já viu como vai ser, né? Já gravei uns 13 episódios e te garanto: “Escândalo” (a atração anterior que ela apresentava na mesma emissora, um sucesso!) é fichinha perto desse. Estou muito mais solta!”
Fotos: Roberto Filho / Divulgação
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