Mestre absoluta naquele estilo clean futurista que flerta com os anos sessenta/oitenta, Gloria Coelho anda diversificando atividades. Como não bastasse estar criando toda a roupa de cama e banho do hotel boutique, mais uniformes do staff, que será inaugurado no Arpoador, Rio de Janeiro, a designer agora anda imprimindo suas digitais no teatro. Com láureas. Ela acaba de ganhar o Prêmio Shell de ‘Melhor Figurino’ por “Trágica.3”, a peça de Heine Muller, Carlos de Andrade e Francisco Carlos, dirigida por Guilherme Leme, que relê os personagens das tragédias Medeia, Electra e Antígona. Prato cheio para Gloria que, sem ser teatral, consegue oferecer ao público desfiles repletos de impacto cênico.
Agora, no teatro, saem as modelos e entra um time de responsa: Letícia Sabatella, Denise Del Vecchio e Miwa Yanagizawa, que dão vida aos três mitos gregos, mais Fernando Alves Pinto e Marcello H. Todos compareceram lindamente vestidos em cena, no teatro do Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo, ano passado. HT bateu uma bola rápida com a estilista sobre essa experiência.
HT: Então, primeira vez que ganha um prêmio nessa área. Como foi isso?
GC: Sim, primeiríssima vez, era virgem nesse campo, rs. Não no teatro em si, mas na premiação. Já fiz figurino para Daniela Mercury e para uma comédia francesa, junto com a Renata Bueno. E o da “Ópera das Pedras”, de Denise Milan. Mas adorei receber o Shell e, mais do que isso, amo criar figurinos.
HT: Qual o desafio maior nesse tipo de atividade para alguém que vem da moda?
GC: É ter um casamento de mente com o diretor para conseguir chega à necessidade dele. Em moda, temos a preocupação com quem vai vestir a roupa. Aqui, além do usuário, tem ainda a visão do encenador e tudo aquilo que passa pela sua cabeça na hora de conceber o espetáculo.
HT: Nos seus desfiles você costuma viajar em inspirações endiabradas, pokémons, partículas de Deus, cósmicas, a divisão do átomo, Speed Racer, essas coisas. E agora, qual foi o mote?
GC: A inspiração foi o drama. Então, desafio era como deixar tudo mais dramático, para que o figurino contribuísse com o todo o que cenário e a encenação precisavam passar.
HT: Viajando do jeito que você costuma, como foi a sensação de receber o prêmio?
GC: Ah, me senti super agradecida, muito feliz e ofereço este premio para o Guilherme Leme. Toda a “Trágica.3”, aliás, um espetáculo digno. E também fico orgulhosa da minha equipe, que fez roupas lindas para eles.
HT: Algum particularidade cósmica nesse trabalho que você queira enfatizar?
GC: Me senti muito livre, no teatro você pode iluminar uma roupa inteira. Essa liberdade de criar roupa para o palco é única porque o impacto visual suplanta a funcionalidade do dia a dia que a moda tem que ter. Na “Ópera”, por exemplo, criei um modelo com luzinhas dentro. Em cena temos mais possibilidades com materiais do que no uso cotidiano, e as pessoas estão preparadas para as loucuras, excentricidades e sonhos que criamos. Amo!
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