*Com João Ker
Quase aos 45 minutos do segundo tempo, Alexandre Herchcovitch dá seu show de praxe. Seu desfile masculino, incrível, é o penúltimo do quinto e último dia de SPFW e, de longe, apresenta a coleção mais arrasadora desta temporada. Com inspiração na Nazareth Baptiste Chruch, mas com influência da indumentária britânica, ele mais uma vez veste os homens com sopro de renovação, com a alfaiataria impecável dando a tônica. Em muitos looks o kilt escocês comparece? Okay. É ousadia demais assumir os leggings que ao, mesmo tempo, se associam ao esporte e às meias esticadas que esses highlanders usam em cerimoniais? Okay também. Mas, desmontado o styling esperto de Mauricio Ianes, sobram peças usáveis da melhor qualidade, sem sombra de dúvida. Paletós, sobretudos, camisas brancas, coletes, calças e bermudas são talhados com tal preciosismo de mestre que nem faz diferença se o conceito geral da coleção será assumido ou apenas peças avulsas aqui e acolá. A coisa toda é boa mesmo e, como a ideia é misturar a tradição masculina com as referências zulus africanas – como na tal comunidade religiosa -, os xadrezes acabam remetendo tanto à aristocracia inglesa quanto àqueles panos e mantos que essa etnia da África incorpora à sua identidade. Assim, a passarela ganha mais força ainda com um casting totalmente negro, desfilando em marcação forte, decidida, contundente.
Fotos: Agência Fotosite / Divulgação
Minutos depois do fim do desfile, Alexandre se encontra mais relaxado e super disposto a falar com a gente no backstage. Ao falar sobre a nova coleção, ele ressalta a origem da grife: “Eu comecei fazendo roupas femininas e as mulheres para as quais eu vendo sempre vestiram roupas masculinas”, explica. As saias presentes na coleção, apesar de não serem novidade, agora refletem uma moda que vingou durante o calorento Verão de 2014 (entre os moderninhos) e o designer não deixa esse fato passar despercebido: “É isso que meu público masculino compra. Algumas peças podem vender menos, mas é o desejo de parte dos consumidores.” A escolha de algumas mulheres para apresentar a coleção masculina também não o preocupa: “A discussão de gênero sempre acontece em torno do que eu faço, mas não há essa barreira. A mistura entre roupas masculinas e femininas é algo que sempre vai se refletir esteticamente no meu trabalho”.
Malana Jorge, uma das modelos que apresentaram a coleção, comenta sobre a mistura entre “ela” e “ele” na passarela do designer: “Sinceramente, não vejo essa diferença, porque eu uso roupa masculina. Eu corto os ternos do meu namorado e visto todos. Logo, eu acho sim que homem pode usar roupa de mulher também: a moda tem esse caráter flexível. Homem que usa saia e consegue segurar o look é chique. Mas, na hora de participar de um desfile masculino, a coisa é outra: a roupa é retinha, então eu tenho que segurar meu rebolado”, brinca.
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