*Por João Ker
Depois de passar por São Paulo, onde foi inaugurada no 1º dia de abril em plena última edição da SPFW, “Ocupação Zuzu” chega finalmente ao Rio de Janeiro, paralela à primeira exposição póstuma de Oscar Niemeyer, a “Oscar Niemeyer: Clássicos e Inéditos”. Instalada no segundo pavilhão do suntuoso Paço Imperial, no centro da cidade, a noite de abertura (14/8) dessa fabulosa retrospectiva sobre Zuzu Angel, emblemática estilista marcada pelos anos de chumbo da ditadura militar, contou com uma turma estrelada, vinda dos campos da política, da imprensa, do business e, claro, da moda nacional. HT, que já havia conferido o badalo paulistano, preferiu esperar a mostra ser realizada na Cidade-Maravilha para registrar o acontecimento, já que Zuzu e Rio andam de mãos dadas. Tudo a ver.
A mostra reúne um acervo fantástico, com mais de 400 itens que incluem os icônicos vestidos da estilista, cartas-denúncia escritas à mão pela própria, documentos, sacolas, caixas, vídeos e até uma sala inteiramente dedicada ao desfile-protesto que a mineira apresentou em Nova York, no ano de 1971, como forma de atrair atenção para o recente desaparecimento de seu filho, o militante político Stuart Angel Jones. A história de Zuzu Angel já chegou a virar filme em 2005 e é amplamente conhecida: a estilista que tinha como marca registrada os anjinhos e desenhos naïf, fomentava uma moda tipicamente brasileira, com orgulho e exaltação admiráveis pela cultura nacional – uma pioneira nesse campo no segmento da moda brasileira -, antes de ser assassinada em 1976, durante a ditadura militar, por “incomodar demais”. Lê-se: reivindicar seu direito de mãe e tentar resgatar o corpo desaparecido de seu filho.
A “Ocupação Zuzu” conta com a imprescindível chancela de Hildegard Angel, jornalista e filha da “costureira” mineira (dizem que Zuzu não gostava de ser chamada pelo termo “estilista”), à frente do instutito que leva o nome de sua mãe. No evento de abertura, companheiros militantes de Stuart, representantes da Comissão Nacional da Verdade (CNV) e familiares de Zuzu deram depoimentos e discursaram tanto sobre a importância de sua persona política quanto sua contribuição para a valorização da cultura brasileira dentro e fora do país. A comoção foi geral e nem Hilde conseguiu conter as lágrimas e, com a voz emocionada, comentou exclusivamente com HT: “Essa é a terceira exposição sobre a obra da minha mãe, mas agora é o ápice, o máximo, estamos na casa de Dom João VI! Ver essa mostra aqui é uma catarse. Acho que é hora de crescer a luta pela política no Brasil. Nós não podemos esmorecer, não agora”, bradou.
O ano para a inauguração da exposição não poderia ser mais coerente, já que em 2014 se completam os 50 anos do Golpe Militar que praticamente destruiu a vida da família Angel. Em paralelo a isso, o ano também é decisivo no panorama político atual graças às eleições presidenciais, que acabaram de sofrer trágica reviravolta com a morte repentina do candidato Eduardo Campos (PSB). Sabendo que Zuzu não media suas palavras quando se tratava de reivindicar direitos e bater o punho no peito na frente com quem quer que seja, afirmando veementemente suas ideias, HT circulou pelo badalo questionando o público acerca de suas opiniões” para tentar descobrir: qual seria uma atitude digna de Zuzu Angel em meio ao atual caos político na cena brasileira?
O estilista de moda feminina, Heckel Verri, é o primeiríssimo a dar sua opinião: “Acho que Zuzu estaria muito triste pelo ocorrido. Ao mesmo tempo, ela reivindicaria uma coesão maior a nível de voto, um pensamento mais cuidadoso na hora de se escolher um candidato”.
Ariadne Coelho, a ex-Rainha das Quentinhas e atual candidata a deputada estadual, diz que, assim como ela, Zuzu preservaria o pesar do momento: “Primeiro vem o luto familiar, de mãe que perdeu seu filho. Como eu também perdi meu marido, me coloco muito nisso. Acho que ela focaria na perda. Mas depois viria a preocupação com o país, sem dúvida”.
A public relations Nina Kauffmann acredita que Zuzu não estaria parada: “Ela estaria atuando para um Brasil melhor, indo atrás de princípios como a clareza e a democracia. Apesar do luto por conta do que aconteceu com Eduardo Campos, também acho que ela gostaria de ver uma reconciliação entre as forças armadas e a sociedade”.
A deputada estadual Aspásia Camargo (PV) comenta que este é um período difícil para o Brasil, mas Zuzu continuaria se apegando aos seus maiores valores: “Coerência na lealdade, integridade e pureza para fazer as coisas mais decentes. Não existe heroísmo ali, foi coerência. É esse tipo de instinto primordial que pode mudar o Brasil”.
O gestor de projetos culturais, Eduardo Pane, do Instituto Zuzu Angel e trabalhou lado a lado com Hildegard na exposição, acha que a estilista “iria apoiar o candidato que enfrentasse as desigualdades sociais, a justiça e a transparência”.
Talvez a modelo Veluma seja uma das mais capacitadas a responder a tal pergunta. Chamada de “Anjo Negro” por Zuzu, com quem trabalhou nos anos 1970, ela comenta: “Nada mudou. A minha consciência política em 1973 era muito pequena, porque eu era jovem e não entendia muito bem como aconteciam as coisas. A gente ouvia naquela época a música ‘Pra Frente, Brasil’, mas nós não andamos e nada mudou. E eu falo isso como mulher negra, que sofreu muito preconceito naquele tempo. Acho que Zuzu continuaria lutando sim, porque ela sempre foi contra esse tipo de coisa e sempre tratou o profissional pelo que ele era, sem se preocupar com a cor da pele”.
O poeta e it-thinker Jorge Salomão, que também teve seus tempos difíceis durante a ditadura, pensa que Zuzu ficaria feliz com a nova democracia, “mesmo que ela ainda esteja apenas caminhando”, dispara em momento otimista.
Ricardo Amaral, eterno “papa da noite carioca” e suprassumo daquele pensamento cartesiano com boa dose de charme do grande monde, é categórico: “Zuzu estaria atônita com tudo isso acontecendo”.
Jurema Machado, presidente do Iphan, recorda que Zuzu Angel exercia a luta de uma mãe contra a perseguição política. “É uma verdade perene. Uma mãe que quer encontrar o seu filho é algo atemporal e Zuzu tinha essa faceta interessante por ser uma mulher da moda e das artes, dois segmentos que raramente são vistos como politizados. Acho que, hoje em dia, sua luta continuaria sendo pela liberdade geral”.
O fotógrafo Marco Rodrigues, que não parava de receber os parabéns pela sua história publicada recentemente em um jornal carioca, comenta: “Só agora que está entrando luz nas evidências do golpe. É uma purgação revirar isso, o momento de lavar os pecados. E eu acho que Zuzu estaria satisfeita com esse reconhecimento”.
Adriana Birolli que, de acordo com Hildegard era “a estrela da noite”, acredita que Zuzu lutaria por “qualquer coisa que fortalecesse a honestidade e denunciasse aquilo que está errado. Até porque nós não temos mais regime militar, mas ainda percebemos a presença de muitas coisas equivocadíssimas”.
Celina Faria, companheira de Hilde de todas as horas na empreitada do Instituto Zuzu Angel, alega que tudo agora é um grande ponto de interrogação: “A tragédia de Eduardo Campos virou o jogo completamente. A ceifada da morte que o atingiu é a mesma que atuou nos anos da ditadura contra os jovens líderes do movimento. Naquele momento, Zuzu lutou contra isso”.
A empresária Kitty Monte Alto acredita que Zuzu focaria na dor da família de Eduardo Campos: “A perplexidade é do país inteiro, mas a dor é da família e, principalmente, da viúva de Eduardo”.
Confira as fotos do badalo!
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