Galã, sim. Acomodado, nunca. Este é Cauã Reymond e esta uma das ideologias que regem a carreira do ator. Sem se incomodar com os títulos que recebe, ele é daqueles que não limita seus trabalhos à imagem, investe em novas lutas e mergulha em diferentes ondas. O último passo foi o filme “Não Devore meu Coração”, de Felipe Bragança. No longa, Cauã Reymond interpreta um motoqueiro que faz parte de uma gangue e não se identifica entre as pessoas da região. Como cenário, “Não Devore Meu Coração” traz a fronteira do Brasil com o Paraguai e as dores e histórias de uma população ainda marcada pela guerra do país vizinho.
No filme, Cauã é Fernando, o irmão mais velho de um jovem brasileiro apaixonado por uma menina paraguaia. Mas, entre tantas camadas dramatúrgicas, o ator se descola e explica seu personagem a partir da visão de um crítico que assistiu ao longa no Festival de Sundance, em Berlim. “Segundo ele, é um jovem em busca de aprovação e que acaba se perdendo no meio do caminho. E é isso o que eu acredito dele também. Para mim, só pelo fato de ele querer fazer parte de uma gangue, já é um exemplo de afirmação perante os outros colegas”, resumiu Cauã que, em sua vida, nunca se viu em busca de tribos como o personagem. “Eu sempre pratiquei esportes individuais. Então, para mim, foi interessante entender como é fazer parte de um grupo. Isso foi novo na minha vida”, disse.
Não só isso. O que também foi um ponto interessante neste mergulho de Cauã Reymond no novo trabalho assinado por Felipe Bragança foi a dobradinha do experiente ator com o elenco de não-atores escalado pelo diretor. Em “Não Devore Meu Coração”, a ideia foi manter a essência e a emoção verdadeira das pessoas daquela região, mesmo que isso não representasse profissionais com técnicas artísticas. “Foi um desafio, mas uma boa experiência. Eu fui chegando com delicadeza, tentando entender porque cada não-ator estava ali e o porquê de ter sido escolhido e conhecendo melhor o sotaque que eu havia trabalho com uma profissional de prosódia. Então, para mim foi uma troca com esses jovens atores que, em alguns casos, nem eram tão novos assim”, lembrou Cauã que, embora tenha destacado esta troca de experiências, contou que isto não era algo direto e constante. “Era um set muito concentrado e isso também foi um desafio para mim. Eu não sou tão focado assim e, inclusive, às vezes me desconcentro fácil para voltar a mim. Porém, lá o Felipe também não me deixava falar com os outros atores porque era o primeiro trabalho deles. E isso foi me deixando angustiado e, no fim, ajudou muito no personagem”, afirmou.
O que também ajudou Cauã foi uma experiência anterior nos cinemas. Assim como em “Reza a Lenda”, filme que ele estreou no ano passado, em “Não Devore Meu Coração” o ator também é motoqueiro. Mas, como ele nos contou, as semelhanças param por aí. “Eu não ando de moto, mas eu tinha carteira. Há um tempinho, eu fiz um filme chamado “Reza a Lenda” em que eu também era motoqueiro e precisei tirar a habilitação para gravar. Inclusive, esta foi uma dúvida que eu tive quando começamos a rodar o filme. Eu disse para o Felipe que havia feito um longa em que eu era um líder religioso e andava de moto, mas ele disse que não tinha nada a ver. E então seguimos”, disse.
Pelo caminho, Cauã Reymond foi escrevendo o que considerou ser uma fábula poética. Para o ator, o filme de Felipe Bragança é mais do que um trabalho de arte. Ele, que também se dedica a produções mais artesanais e autorais, destacou a riqueza de “Não Devore Meu Coração” e a importância de se dedicar a trabalhos como este. “Eu curto esses projetos porque me coloca em um lugar de experimentação do meu próprio trabalho. Fora que isso me dá a oportunidade de estar com profissionais diferentes dos que eu estou acostumado na televisão. Não é ser melhor ou pior. Eu gosto pela diferença e pela possibilidade de novas nuances e jogo cênico”, explicou o ator que busca um equilíbrio entre trabalhos badalados e de grande repercussão e outros que satisfaçam sua alma artística de forma mais delicada e sensível. “As minisséries da Globo estão me oferecendo muitos trabalhos diferentes da novela. Mas, desde novo, eu procuro me dividir entre novelas e filmes de grande repercussão e outros com linguagens e propostas diferentes. Um exemplo disso foi o meu trabalho como co-produtor do filme “Alemão”, que foi de baixo orçamento, fez muito sucesso nas bilheterias, virou série na Globo e agora está concorrendo ao Emmy”, lembrou empolgado sobre a premiação que ocorre na próxima segunda-feira, 20.
E assim, mesmo que sem ser de forma intencional, Cauã Reymond se descola daquele rótulo de galã que comentamos. Embora sua beleza seja unanime em qualquer personagem, o ator se entrega e vai atrás dos desafios. Mas, quando o título é lembrado, ele não foge e nem nega. “Isso não me incomoda. Para mim, o título de galã preenche uma questão dramatúrgica. Não é um problema e nem sofro por isso. Seria ruim se eu me limitasse só a esse rótulo, mas a minha inquietação não deixa”, sintetizou.
Aliás, sobre isso, Cauã é daqueles que não para. No ano passado, após brilhar em “Justiça”, o ator disse que iria parar por um tempo para recarregar as energias. O intervalo foi até março deste ano. De lá para cá, Cauã vem se dividindo entre novos trabalhos, principalmente no cinema. “Eu acho que esse intervalo varia de ator para ator. Na minha carreira, algumas vezes eu emendei vários trabalhos em personagens bens distintos que foram ótimos. Em outros casos, que foram poucos, eu preferi dar um tempo, principalmente de uma novela para um filme de arte. Para mim, depende do momento da vida de cada um. Porém, é bom viajar um pouco, curtir e se reciclar”, analisou.
Recarregado, Cauã voltou à ativa ainda mais plural. Em sua carreira, cada vez mais, o ator vem se dedicando ao trabalho de produtor de arte. “Eu me sinto engatinhando como coprodutor. Eu vejo que já estou entendendo melhor como funciona a engrenagem por trás das câmeras e isso tem me deixado em uma posição diferente no meu trabalho como ator. Isso me ajudou em uma melhor divisão do meu tempo. Fora que olhar pelos ângulos dos meus colegas me ajudou a tirar algumas nóias, como ansiedade”, contou.
Nesta função de bastidor, Cauã Reymond participou da produção de “Não Devore Meu Coração”, resgatou a parceria com Felipe Bragança na elaboração do roteiro de “Azuis” e foi produtor associado do filme que também atuou com Tatá Werneck, “Uma Dupla Quase Perfeita”. Além desses trabalhou, desde que voltou de férias, Cauã também gravou “Piedade” com Fernanda Montenegro, “Ilha de Ferro”, de Afonso Poyart, e se prepara para fazer “Dom Pedro I” no ano que vem, do qual também assina a produção. “Para 2018 eu já sei o meu caminho: vou trabalhar bastante. E isso é bom para caramba. Com a economia do jeito que está, estamos que comemorar oportunidades de trabalho. É isso aí”, comemorou sem se alongar. Cauã Reymond nas telonas ou nas telinhas nunca é demais, né?
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