Miss Brasil Terra 2024, Josiane Viana ganha o mundo, fala da doença neurológica que enfrentou e de críticas a concursos

*Por Brunna Condini

Este outubro em que é comemorado o Dia das Crianças, no próximo dia 12, é também a oportunidade de lembrar de mantermos viva nossa criança interior. Também é tempo de nos empoderarmos da ideia de que ainda é possível realizar nossos sonhos da infância, mesmo quando parecem muito distantes. Josiane Viana pode ser uma inspiração neste quesito. Coroada Miss Brasil Terra 2024, ela acreditou nos seus sonhos mesmo em meio a grandes adversidades. A paraense desejou ser miss desde criança, e agora se prepara para representar o Brasil no Miss Earth, em 9 de novembro, nas Filipinas. O caminho até aqui não foi dos mais fáceis e as dificuldades começaram ainda na infância. “Fui diagnosticada aos 11 anos, com a uma doença neurológica rara chamada Síndrome de Guillain Barré. Na época, morava na cidade de Bonito, no interior do Pará. Precisei ir para Belém do Pará para ter mais recursos de fisioterapia e outros cuidados que não haviam na minha cidade. Fiquei internada por um ano e por dois anos na cadeira de rodas. Além das medicações, o tratamento mais intenso era fisioterapia”, conta Josiane, que hoje tem 26 anos e se envolve em ações sociais para ajudar outras crianças.

Tendo vencido um concurso que seleciona uma representante destacando a conscientização ambiental, para além das categorias de beleza, ela acredita que ser uma descendente de indígenas contribuiu para a conquista. “Foi uma vitória também da diversidade”. E comenta o fato, de que muitos acreditam que os concursos de miss estão ultrapassados e decadentes, apontando, inclusive, o machismo no processo de seleção e exposição das candidatas:

Josiane Viana, coroada Miss Brasil Terra 2024, vai representar o Brasil no Miss Earth, nas Filipinas, e fala das críticas ao concursos de beleza e dos planos (Divulgação)

Quando as pessoas falam de machismo, entendo que as críticas têm fundamento, mas vejo esse espaço como uma plataforma para empoderamento. O que antes podia ser uma vitrine apenas de beleza, hoje está se transformando em um cenário de vozes poderosas, que representam causas, lutas e mudanças. Eu sou prova disso. Minha história de superação, minha descendência indígena e o meu compromisso com o meio ambiente mostram que ser miss vai além de qualquer estereótipo. Hoje, ser miss é ter um lugar de fala, para tornar  sua visibilidade em oportunidade para transformar – Josiane Viana

As feministas podem até torcer o nariz, mas Josiane defende o espaço para jogar luz na pluralidade que habita o país. “Acredito realmente que minha descendência indígena foi fundamental para a vitória no Miss Brasil Terra. Essa representatividade destaca a conexão com a natureza e a importância da diversidade cultural na luta ambiental. Ser descendente de indígenas é um grande orgulho, porque trago em mim o legado de uma sabedoria ancestral que sempre respeitou e protegeu a terra. Minha vitória não é apenas pessoal, é uma conquista para todas as comunidades indígenas e para aqueles que lutam por um planeta mais sustentável. Eu sou a voz de uma história de resistência, e isso vai além da beleza física, é uma mensagem poderosa de que a verdadeira força vem das nossas raízes”, se emociona.

“Quando as pessoas falam de machismo nos concursos de miss, eu vejo esse espaço como uma plataforma para empoderamento” (Divulgação)

A miss revela ainda, sua conexão com a herança indígena: “Ela vem dos meus avós maternos, é uma parte essencial da minha identidade, embora eu não tenha tido a oportunidade de conhecê-los pessoalmente. Mesmo assim, cresci ouvindo as histórias dos meus ancestrais, que me foram passadas com carinho pela minha família. Esses relatos me ensinaram a valorizar a natureza, a cultura e a sabedoria ancestral, e me fizeram entender a importância de honrar minhas origens, independentemente da distância física ou temporal. Essa herança não apenas me dá um profundo senso de orgulho, mas também reforça minha responsabilidade em preservar e promover nossas tradições. Carrego comigo a força e resiliência dos meus antepassados em cada passo que dou, sempre com o objetivo de contribuir para um futuro mais inclusivo e sustentável”.

“Minha vitória no Miss Brasil Terra foi uma vitória da diversidade cultural” (Divulgação)

Apesar de ter traços bem brasileiros e honrar suas raízes ao divulgar sua história Brasil afora, Josiane fez alguns procedimentos estéticos e revela o porquê:

Fiz rinoplastia e prótese mamária por questões pessoais de autoestima. Não foi por conta dos padrões de beleza do mundo de miss. Realizei também uma correção de cicatriz e este foi o principal procedimento. Tive complicações em uma cirurgia de apendicite e fiquei com  uma cicatriz profunda e grande, o que me deixava insegura para usar biquínis nos desfiles. Passei pela cirurgia plástica para reparar isso e me sentir melhor  – Josiane Viana

“Carrego comigo a força e resiliência dos meus antepassados em cada passo que dou” (Divulgação)

Vivendo em um ambiente competitivo de pressão, a paraense diz como equilibra a saúde física e mental. “Faço exercícios regulares, meditação e tenho uma alimentação equilibrada. Mas acredito que cuidar da mente vai além disso. Viver com uma condição tão desafiadora na infância me ensinou a importância da resiliência. Hoje, a competição não é apenas contra outras candidatas, é contra qualquer limite que possa me impedir de ser a minha melhor versão. A meditação me ajuda a manter o foco, a lembrar da força que tirei nos momentos mais difíceis, e isso me prepara tanto fisicamente quanto emocionalmente para enfrentar qualquer desafio”.

A paraense Josiane Viana, coroada Miss Brasil Terra 2024 na infância (Acervo pessoal)

Josiane conta que as dificuldades na sua infância, a impulsionaram a buscar fazer a diferença na vida de outras crianças. “Sei o quanto é importante estender a mão a quem precisa. Comecei a me envolver ativamente com filantropia, especialmente ajudando crianças cadeirantes a encontrar inclusão e autoestima. Minha experiência com a Síndrome de Guillain-Barré me fez entender o que significa perder a mobilidade e o quanto a força de vontade e o apoio certo podem transformar vidas. Eu quero ser esse apoio para outras crianças, mostrando que elas podem superar qualquer desafio, assim como eu superei”, compartilha.

A paraense Josiane Viana, coroada Miss Brasil Terra (Divulgação)

A paraense Josiane Viana, coroada Miss Brasil Terra (Divulgação)

Rumo ao Miss Earth

Ela também detalha como vem se preparando para representar o Brasil no Miss Terra, o concurso mundial, que ocorre em 9 de novembro nas Filipinas. “Me preparo com uma disciplina quase militar (risos), porque sei da responsabilidade de representar nosso país em um certame internacional. Me sinto muito confiante por estar contando com um suporte incrível de toda equipe ‘Terra’. A franquia me proporciona aulas de oratória, aulas de inglês, aulas de maquiagem e penteados, academia para que eu possa executar meus treinos diários e cuidados de fisioterapia. Clínicas de estética, stylist para cuidar do guarda-roupa que será utilizado a cada dia durante a competição mundial. Aulas de passarela, expressão corporal, provas de roupas, gravação de programas de TV e também gravação dos vídeos e produção das fotos que serão veiculadas nas redes sociais do concurso ao longo de todas as etapas eliminatórias”. E joga seus desejos para o universo:

Meus sonhos são grandes, mas todos têm um ponto em comum: transformar vidas. Quero continuar promovendo a conscientização socioambiental e expandir meu trabalho com crianças e pessoas que enfrentam dificuldades como enfrentei. Quero ser uma voz que ecoe esperança e superação, mostrar que as limitações existem, mas que com determinação podemos superá-las. E, claro, quero poder ajudar minha mãe, que foi a minha base, a mulher que com 70 anos de vida lutou ao meu lado com uma força inabalável. Quero retribuir todo o amor e dedicação que ela sempre me deu – Josiane Viana

“Sei o quanto é importante estender a mão a quem precisa. Comecei a me envolver ativamente ajudando crianças cadeirantes a encontrar inclusão e autoestima” (Foto: Yan Coimbra)