Com a 16ª edição do Minas Trend abrindo a temporada de lançamentos de primavera-verão 15/16 – e a crise econômica rolando solto no Brasil e no mundo – HT aproveita para dar uma circulada geral pelo Expominas, sede do evento Mineiro, a fim de averiguar o que o povo fashionista pensa da situação atual e, diante das dificuldades que a moda anda passando, qual seria o formato ideal para a apresentação de uma coleção. Desfile? Estande de vendas? Salão de negócios ou mídia espontânea? Reforço de imagem via celebrities? Não importa se o interlocutor é estilista, representante de alguma associação, jornalista, blogueiro, modelo ou simplesmente amante do estilo. Com a interrupção do Fashion Rio, uma certa inquietação na São Paulo Fashion Week e com a maré remando contra o varejo, as opiniões são variadas, mas convergem num único aspecto: é preciso mexer no mercado, não somente na maneira como os eventos estão estruturado.
Para Ronaldo Fraga, que acabou de chegar da África, onde foi pesquisar, essa saracoteada é tão fundamental quanto um violão para a bossa nova: “O pessoal ficou louco e me perguntou como eu fui viajar enquanto uma coleção estava sendo preparada para desfilar semana que vem na SPFW. Mas, e daí? Não é nesse movimento todo que a gente recicla ideias e põe o circo pra funcionar?”
A modelo transex Carol Marra, que já trabalhou como produtora de moda antes de mudar de gênero e começar a modelar, conhece bem vários segmentos da cadeia produtiva. Por isso, é enfática: “Parece lugar comum, mas enquanto o povo não unir forças, não rola fortalecimento do setor. Existe muito oba-oba, todo mundo diz que é amigo de todo mundo, mas a competição velada impede o estabelecimento de um segmento forte, que tenha ferramentas efetivas para combater as trapalhadas da equipe econômica do governo e as mazelas do mercado”, brada a moça, com uma verve digna de futura candidata a deputada. Será?
Para Marco Antonio Branquinho, diretor-presidente da Cedro Têxtil, uma potência no fornecimento de matéria-prima para os fabricantes de jeanswear, é condição sine qua non saber como chegar no varejo, daí o alto valor agregado de um evento como o Minas Trend: “Com a Fiemg por trás, o evento transparece em equilíbrio. Existe a dose certa de showbiz, com desfiles bacanas e esses encontros que promovem arte e o social, mas também a presença de uma feira de negócios fortíssima, porque vender é vital. Escoar a manufatura associada à percepção de tendências é o caminho”, revela.
O repórter e apresentador GNT Fashion Caio Braz faz coro com Marco Antonio: “É esse equilíbrio da exposição de produtos com a firula social e o caráter comercial que fortalece o Minas. Considero esse formato bacana, ainda que acredite que, nas semanas de moda em geral, seja preciso destacar melhor a participação das mídias digitais. Acho que a força de consumo contida nessas ferramentas ainda está mal explorada”.
Figurinha tarimbada da noite e também da cena fashion, Johnny Luxo sabe que moda e comportamento andam de braços dados num nível digno de irmãs siamesas. Ele, que viu profundas transformações, nos últimos 25 anos, tanto no mundinho underground como na seara do estilo, tem uma opinião bem formada sobre o assunto: “Hoje em dia todo mundo quer vender, óbvio, mas formação de imagem também é estratégia para isso. Mas a boa notícia é que, mesmo com a crise, o setor vive de experimentações porque é aberto a novidades, e é preciso dar vazão a novas empreitadas que possibilitem a visibilidade de retorno comercial. A moda é um livro aberto com muita coisa ainda para ser escrita”, filosofa.
Para a jornalista de voz firme, escritora, blogueira tatuada, mãe dedicada e profissional cheia de atitude Cris Guerra – mistura de bonequinha de luxo com fabulous dominatrix que une ideias verborrágicas com doçura digna do Sr. Wonka – tem muito Oompa Loompa no pedaço: “Falta dosar muitas coisas. A dificuldade de acesso de alguns setores do público especializado aos desfiles, por exemplo, é algo que precisa ser repensado. Senão, se faz um evento para quem? E, por exemplo, nada contra as blogueiras, elas têm seu valor, claro, mas você não acha que a importância dada a elas hoje em dia vai além da conta, negligenciando outras camadas de informação de valor imprescindível? Isso para mim é um reflexo de o quanto os eventos de moda precisam passar por ajustes”.
Já a consultora de moda Giovanna Penido ressalta a adequação do Minas Trend como referencial de caminho: “Gosto dessa dosagem onde vemos business como espaço para network e sociabilização. Tudo isso, coroado com alguns fashion shows, dá a tônica daquilo que um evento de moda precisa ser”.
O fashion designer Adriano Carvalhais, diretor criativo da Lacorte, é adepto dos bigodes trabalhados a la Belle Époque, assim como Ronaldo Fraga. Mas, ao contrário dos apresentadores de espetáculos desse período, o burlèsque não tem vez com ele, muito menos na moda: “Todo mundo quer vender, vender, vender. Todos querem exibir, exibir, exibir. Okay, duas faces da mesma moeda que, se não estiverem juntas, não faz sentido. Os eventos de moda precisam ter essa noção clara de realidade”.
Já a super top Daiane Conterato pensa que um choque de realidade é vital para todos os organizadores de semanas de moda, inclusive fora do Brasil: “Participo de todas as semanas de moda e vejo a recessão rolando solta. Não é só no país, mas no planeta. Fiz Nova York agora e estava fraco. Bom, o evento está até sem local, né? E isso lá, numa terra onde a praticidade de negócios é regra. Tudo precisa ser repensado e a hora é agora, quando existe crise”, conta moça, repleta de opinião elegante e sincera.
Para a diretora executiva do Sindijoias, Elaine Vasconcelos, é tempo de as associações e sindicatos operarem juntos: “Admiro muito o que se faz aqui em Minas. A Fiemg trabalha lado a lado com as associações de empresas e profissionais. O resultado pode ser visto aí, na forma como o evento dá certo. Começamos com 10 expositores de bijoux e semijoias e hoje temos 88. Alguma coisa boa acontece, não é mesmo?” O estilista e empresário Hector Albertazzi reforça essa visão: “Não existe crescimento sem incentivo à indústria nacional. Fato”.
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