Milton Nascimento e Criolo unem forças em show emocionante, mas político, no Vivo Rio, em releitura de clássicos e hits recentes


O artista paulista e o baluarte mineiro dividem o palco na turnê “Linha de Frente”, rompendo paradigmas como o de “rapper não canta”

*Por João Ker

O Vivo Rio foi o palco escolhido para os cariocas receberem a turnê conjunta de Milton Nascimento e Criolo, nesta sexta-feira (12/9).  O show, batizado “Linha de Frente”, marca um encontro histórico entre uma das maiores vozes da MPB e o maior rapper brasileiro surgido nos últimos anos. Depois de ter passado mal no palco e cancelado a última apresentação em São Paulo, Milton levou a noite com energia e entrosamento em uma parceria histórica para a música nacional, que rendeu tanto releituras de clássicos, como hits recentes e gravações inéditas.

Durante a noite, descrita como um “encontro de almas” em Belo Horizonte e como “um encontro de amigos e um ato político” por aqui, Milton e Criolo mostram que têm mais afinidade do que as pessoas podem imaginar a princípio. A participação social e política de ambos através da música – claro, mantidos os contextos históricos de cada um – é a espinha dorsal de um show que traça uma linha de semelhança nada tênue entre os dois repertórios, que ainda contou com uma ponta especial da cantora Julia Vargas.

No palco, Criolo desmasca o enigma de que “rapper não canta” e  entoa “Morro Velho” do Bituca, ao mesmo tempo em que este se aventura pelo repertório do outro e faz coro em “Mariô”. Mesmo com sucessos de ambos na setlist, o grande momento da noite é certamente o bis com Cálice”, em que cada um apresenta a sua versão, para a alegria do público formado por fãs distintos. A versão do paulistano, por sinal, já havia sido anteriormente mesclada à original pela voz do próprio Chico Buarque, em versão ao vivo.

Criolo canta “Cálice” a capella e Chico une as duas versões no palco

“Linha de Frente” é um espetáculo que vai muito além de criar novas versões para dois artistas queridos e admirados pelo público. É uma declaração tanto de Milton quanto de Criolo, que mostra um paralelo sociopolítico nada sutil entre a ditadura e os dias atuais. É também uma forma de descaracterizar o rap como uma música exclusiva da periferia, dando-lhe o devido reconhecimento entre nomes mais estabilizados no panorama musical do Brasil. E Criolo – que já coleciona uma performance com Caetano Veloso, um cover feito por Chico e agora uma turnê com Milton- se encontra à frente desse novo horizonte.

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Fotos: Vinícius Pereira