*Por Brunna Condini
Aos 41 anos, Mariana Xavier tem se sentido cada vez melhor com a versão da mulher que se tornou. Reconhecida profissionalmente, amando e sendo amada – pelo ator Diego Braga, seu namorado há dois anos – e se adorando como nunca, a atriz avalia sobre as mudanças de hábitos de uns anos pra cá, que fizeram toda diferença na sua energia e disposição: “Me cuido, me exercito por amor à minha vida e isso muda tudo. Penso no bem-estar e na saúde. Não tenho essa perspectiva rasa, preconceituosa e nociva que se disseminou associando a prática de atividade física sempre e somente à estética, emagrecimento e punição, por exemplo. Me amo e me aceito como sou, e justamente por isso não me abandono”.
É a essa permissão de ser exatamente o que se é que ela celebra no ensaio exclusivo que vemos nesta matéria. Em tempos duros, procurar inspiração em momentos de leveza é preciso. Tanto que, após quase dois anos de pandemia e às vésperas de retornar a um set para a gravação de um longa inédito da Netflix, e aos palcos, em seu primeiro monólogo “Antes do Ano que Vem”, a atriz desejou fazer fotos em um ensaio de…liberdade. É isso mesmo, nem moda e nem algo qualquer. E como é isso, Mariana? “Fiquei encantada com o trabalho do fotógrafo Ronald Santos Cruz, conhecido por registrar através de suas lentes a beleza e a felicidade dos corpos negros, como forma de expressão e protesto, enfatizando também a alegria destes corpos. Quis fazer novas fotos que simbolizassem esse meu momento de mais auto-amor e liberdade”, conta. “As fotos dele te abraçam. Fiz no susto, quase sem maquiagem, praticamente me produzi e foi ótimo. Me diverti, deixei fluir e me entreguei ao olhar artístico dele. São fotos com alma”, conta, sobre as imagens exclusivas desta matéria, realizadas na Praia dos Amores, na Barra da Tijuca.
Muito franca, Mariana comenta sobre o cenário atual: “Precisamos de boas notícias, bons momentos, de respiro. Tem muita gente procurando consumir desgraça, isso não faz bem. Não sou alienada, mas tenho filtrado muito. Nunca precisamos tanto de leveza, até porque quem resistiu a essa pandemia até agora está à beira de um surto, não é mesmo? (risos)”. E completa, sobre o ensaio que a inspirou: “Ele conseguiu captar coisas que são inegociáveis para mim hoje em dia, o que sou e como sou, e que justamente por isso, consigo transmitir para as pessoas. Não mudei minha essência mesmo com tudo que conquistei nos últimos anos. Fico muito orgulhosa e otimista de ver gente como o Ronald, esse profissional pernambucano de 23 anos que tem esse olhar. Fico encantada de ver essa nova geração que já se olha com mais amor, se aceita, que honra a própria história, ancestralidade, acredita no próprio potencial. Fiquei muito feliz com essas fotos. Espero que ele brilhe muito, porque é incrível no que faz”.
Emoção à flor da pele
A atriz começa a filmar na próxima semana uma nova produção da Netflix, que ainda precisa ficar em segredo. Mas o que ela não esconde é a alegria de voltar a um set. “Como eu realmente me exponho nas redes sociais, mostro minha intimidade, sou de verdade, não estou defendida por uma ‘personagem’. Então, estava com saudade de viver a dramaturgia. Afinal, escolhi essa profissão para poder viver várias vidas em uma só encarnação”, diverte-se. “Foram quase dois anos sem filmar. Cheguei a me questionar se ainda sabia fazer isso (risos). E tem a lembrança do Paulo (Gustavo) muito forte. Meu último trabalho de dramaturgia foi em ‘Minha mãe é uma Peça 3′, com ele. Só de falar isso a voz embarga, porque não tem como não pensar. Parece que é mentira, é difícil acreditar que a gente perdeu o Paulo pra essa doença”.
E conclui: “E no meio disso tudo, tem também a coisa de continuar o legado dele. Digo que herdei muito do amor que as pessoas têm pelo Paulo. Então, sigo fazendo as pessoas se divertirem. Acho que era o que ele queria que a gente fizesse. Mas posso dizer que voltar a filmar está aflorando muitas emoções neste momento”.
Além do longa, Mariana volta ao projeto do monólogo ‘Antes do Ano que Vem’, com direção de Lázaro Ramos e Ana Paula Bouzas, projeto que precisou ser interrompido ano passado quando lesionou a perna em uma queda. “E veio a pandemia. Cheguei a desanimar de fazer esse trabalho agora, por ser um monólogo, em um momento que estou com saudade de estar com gente. Mas acredito que a temática da peça tomou outro sentido com as pessoas com seus transtornos emocionais potencializados. Acho que este espetáculo vai trazer um acolhimento e uma diversão que vai fazer bem ao público. Ganhou outra profundidade”, avalia, sobre o texto que tem como mote a imprevisibilidade e estreia 4 de março no Teatro da Unimed, em São Paulo. “Começamos este projeto na raça, tirando dinheiro do bolso para fazer, mas neste tempo conseguimos patrocínio para a temporada em São Paulo. E estamos a procura de um patrocinador para a do Rio de Janeiro”, anuncia.
Tudo e muito mais
De malas prontas para São Paulo, ela comenta sobre a mudança. “Vai ser até o fim do ano, para o filme. E ano que vem tem a peça e outro filme por lá. Eu o Diego tivemos uma convivência muito intensa neste dois anos. Porque logo que começamos a namorar ele entrou de licença por conta de um transtorno de pânico. Depois, eu quebrei a perna e fiquei em casa. Então, desde o princípio, um de nós sempre tinha muita disponibilidade de tempo para o outro. Daí veio a pandemia e moramos juntos por alguns meses. E depois que Diego foi para o apartamento dele, estamos sempre um na casa do outro. Agora vamos ter a distância aí no meio, já que ele é ator, mas também é professor e voltou a trabalhar presencialmente, e tem guarda compartilhada dos filhos, então a logística não é fácil. Ao mesmo tempo, tudo que passamos até aqui solidificou o relacionamento”.
E fala abertamente sobre seus medos, inclusive os que julga ‘irracionais’: “A gente cresce ouvindo aquela frase limitante: ‘não se pode ter tudo’. E aí, pensamos: vai dar merda em alguma coisa (risos). Se eu tive 10 anos com a minha vida profissional despontando, mas a afetiva estava péssima, tudo bem, porque afinal, ‘não se pode ter tudo’. Se estava tudo bem com o trabalho, a vida amorosa estava mal e tudo bem. E de repente, vivo algo maravilhoso na vida amorosa, que nem sabia que era possível. E agora, ter as duas coisas andando bem? Pinta paranoia, a gente acha que vai dar ruim em algum lugar (risos). Ainda bem que tem terapia”.
A vida como feed aberto
Mariana afirma que precisou transformar a forma como gera conteúdo nas redes sociais no período. “Sempre me cobrei muito de ter algo super relevante o tempo todo para dizer, mas não preciso mais provar pra ninguém que tenho conteúdo. Reavaliei minha relação com a internet, tentando equilibrar um pouco mais”, observa. “A atmosfera já está muito pesada, então precisamos nos dar alívio, e no meu caso, também ser esse alívio. Então, no meu feed vão ter vídeos da minha vida, outros de mero entretenimento e vão ter vídeos com conteúdo, críticas embutidas. Muita gente que não consegue perceber a piada no meio, a posição politica. E também faço questão de fazer críticas abertas a esse governo, que é quando recebo um monte de ataques bolsominions, mas já fico preparada. Eles engajam que é uma maravilha (risos). Tenho procurado ter uma estratégia de direcionar a minha energia, a minha criatividade, para o que está funcionando, mas sem perder a minha identidade como artista e cidadã”.
E pondera: “Tem coisas tóxicas, mas também tem muita coisa boa na internet, que edifica. Escuto muitos podcasts. É como se eu estivesse tendo conversas profundas com amigos. Têm uns que adoro, como o ‘Autoconsciente‘, da Regina Gianetti, que é quase uma sessão de terapia, quando estou muito acelerada. E quando estou mais lúdica, sensível, escuto o ‘Para dar nome às coisas‘, da Natalia Sousa. Enfim, tem coisa boa, é só procurar”.
Liberdade
Quem vê Mariana Xavier linda e com esse sorriso escancarado nas fotos desta matéria, nem imagina que a atriz já teve dificuldade em sorrir. “Usei aparelho por duas vezes. Fiquei com os dentes muito tortos por conta dos sisos, e nesta época tinha vergonha de sorrir. Lembro que eu calculava o ângulo do meu sorriso, porque dependendo de como me pegassem, me incomodava muito. Deu trabalho pra ter esse sorriso aqui (risos)”, revela. “Engraçado, que hoje quando penso no sorriso, não vejo só a questão estética. Tenho a capacidade de olhar para o sorriso de uma pessoa com dentes ‘imperfeitos’ e ver beleza quando tem alma nele. Hoje percebo, que na época, o fato de ter um sorriso esteticamente imperfeito para os padrões era só uma das coisas pareciam não fazer eu me encaixar. Hoje o fato de sorrir sem pensar em ângulos é libertador. Quando passamos a ter um olhar generoso sobre nós mesmas, inevitavelmente temos para o outro”.
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