*Por Brunna Condini
Nunca a frase ‘não está fácil pra ninguém’ fez tanto sentido em uma época. A humanidade atravessa mais de um ano de pandemia do novo coronavírus e, apesar de não podermos considerar que ‘estamos todos no mesmo barco’ – já que alguns têm privilégios desconhecido por outros -, podemos afirmar que a saúde mental do coletivo vem pedindo atenção. Com uma nova onda de casos crescendo, as medidas de prevenção para Covid-19 ainda devem ser seguidas, mas o cuidado com o bem-estar psíquico também deve ser levado a sério. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país que apresenta maior prevalência de depressão na América Latina. É também o país mais ansioso do mundo. A instabilidade trazida pela pandemia também afetou a atriz Mariana Xavier. Em post recente no Instagram, ela compartilhou sua experiência, com o objetivo de esclarecer e ajudar outras pessoas com o relato.
Mariana acabou de ser vítima de mais uma fake news – circulou um boato através de um canal no Youtube que a atriz havia falecido em virtude da aplicação da vacina contra a Covid-19 e esse tipo de absurdo também contribui para um gatilho de ansiedade. “Eu descobri a notícia antes de muitos. Mas claro que se torna um gatilho de ansiedade diante de tudo que estamos vivendo. Essa notícia não é só irresponsável, é criminosa, porque existe muita desinformação rolando e as pessoas estão preguiçosas em checar os conteúdos. Não dei play no vídeo, mas teve gente que deu e disse que o conteúdo é verdadeiro, sobre outro assunto, mas a chamada é mentirosa, misturando duas notícias. E quem lê só a chamada entende que eu morri após ser vacinada”, desabafa. “Isso é de extrema gravidade nos dias hoje, quando segue rolando uma campanha de difamação da ciência e da vacina, esse tipo de notícia ganhar visibilidade é muito perigoso. Um desserviço completo. Além de gerar ansiedade e gastar energia para desmentir”.
Ansiedade x Tabu
A atriz recorda exatamente quando o primeiro episódio de ansiedade começou. “Foi em 2017 quando eu fazia ‘A Força do Querer’ e o ‘Dança dos Famosos’, simultaneamente. A primeira crise de ansiedade foi no metrô. Estava indo gravar a novela no Teatro Rival. Foi logo na semana após a polêmica do ‘Dança’, em que recebi uma nota que destoava das outras. A Carolina Kasting (que deu a nota) recebeu ataques descabidos, que eu jamais incentivaria. A ponto de eu ter que me manifestar. Também fui atacada porque as pessoas começaram a dizer que eu tinha incitado aquilo, imagina”, lembra.
“Estava no metrô e quando ele começou a encher, tive uma palpitação no peito, um misto de zumbido com abafamento no ouvido. Como se meus pensamentos estivessem fazendo centrífuga na cabeça. Os pensamentos ficam numa velocidade absurda. Tive também a sensação de vista embaçada. Quase um pré-desmaio. O metrô foi enchendo e fui sentindo tudo isso. E uma sensação de vulnerabilidade absurda. Parecia que a qualquer momento aquelas pessoas que estavam na internet poderiam entrar no metrô e me atacar. Me senti muito desprotegida. Foi muito ruim. Só depois entendi o que foi aquilo”.
E diz que, a partir desse dia, os episódios ficaram mais frequentes. “O ano de 2017, ironicamente, foi um ano de muita realização profissional. Realizei coisas que desejei muito, por muitos anos, que batalhei. Mas ele veio acompanhado do lado ruim da fama, que ninguém te conta. Existe uma glamorização muito grande da vida do famoso, do artista. Ninguém fala do lado ruim, do preço do sucesso. Fui empurrando, junto com o trabalho, mas me sentia muito cansada, parecia que nem o maior número de horas que dormia adiantava. Um desgaste muito grande. E, no início de 2018, eu não estava me reconhecendo. Eu que sempre fui uma pessoa muito independente e ativa. Na época fui diagnosticado com o que chama de Transtorno de Adaptação, que é uma dificuldade, resistência a se adaptar a um novo momento de vida. No meu caso, teve haver com o aumento de popularidade, essa coisa da fama, que me deu uma assustada, porque quem me conhece sabe que adoro manter minha vida na normalidade, andar de metrô, frequentar mercado popular. Na época, o médico achou que não precisava me medicar, já que eu estava fazendo terapia, cuidando da espiritualidade e fazendo atividades físicas”.
Mariana completa sobre o atual diagnóstico: “Uma das grandes questões da saúde mental é que as pessoas se sentem muito solitárias, não se sentem acolhidas, então me ajudou falar a respeito com quem estava ao meu redor. Depois de mais de um ano de pandemia, eu fui diagnosticada com Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) e o médico entrou com medicação. E posso dizer que foi a melhor escolha que fiz nos últimos meses, porque está me ajudando muito”.
Por que falar de ansiedade ainda é um tabu e por que é encarado como um transtorno menor em nossa sociedade? “Acho que desde sempre, falamos da ansiedade como uma coisa normal e até positiva muitas vezes. E em certa medida, ela te bota alerta, ativa, entusiasmada em relação à vida. Só que de uns anos para cá, temos uma série de elementos em nossa rotina em sociedade, que têm feito perdermos a medida disso. Temos nos desplugado do presente e alimentado a ansiedade. Estar ansioso é não viver no agora. Então perceber que a ansiedade não está nos movimentando em relação aos nosso objetivos, e sim, nos paralisando, não é tão fácil de perceber”, analisa. “Sou uma entusiasta da terapia, acho que deveria existir um programa social chamado ‘bolsa terapia’ (risos). O mundo seria bem melhor. O autoconhecimento é fundamental para percebermos esses nossos limites”.
O que não dizer a uma ansiosa ou ansioso? “‘Nossa, mas porque você está assim?’ Ou: ‘isso é besteira’. Não invalide o que ele está sentindo. Porque as vezes a crise de ansiedade acontece por um motivo específico e as vezes, não. Isso é que é assustador. A melhor coisa que você fazer por um ansioso, é respeitar o que ele está sentindo, se colocar a disposição para ajudar, para respirar junto. Tirar o foco da ansiedade, pode ajudar, mas sem minimizar, invalidar o que a pessoa está sentindo”, aconselha Mariana. “Quem está passando por isso na pandemia deve buscar ajuda. Dos amigos, da família e ajuda profissional. Sei que terapia, infelizmente, ainda não é acessível para todo mundo, é uma pena. Mas postei no meu Instagram, serviços gratuitos ou com valores reduzidos. Têm muitas universidades que oferecem terapia gratuita. Busque ajuda. É preciso reconhecer o problema para combater. Não vá empurrando para frente, porque pode ficar mais difícil de lidar e tratar”.
Revigorando
Ela acabou de completar 41 anos, segundo aniversário na pandemia e aproveitou para visitar o pai em Bom Sucesso de Itararé, em São Paulo, e recarregar as energias. “Gosto muito de passar os aniversários viajando. Ano passado foi em um pico de contágio, então passei em casa com Diego (Braga, namorado da atriz). Esse ano, conseguimos fazer uma viagem em que nos sentimos seguros. Precisávamos sair um pouco da rotina, claro que tomamos todos os cuidados necessários. Foi bom sair, já que a gente fica realmente muito isolado ainda”, conta a atriz. “Gostamos muito do contato com a natureza, me energiza. E pude também me desligar das redes sociais, é importante, porque demanda muito. É um equilíbrio difícil, porque as redes são uma parte fundamental do meu trabalho. Posso dizer que há algum tempo, elas pagam mais meus boletos do que meus trabalhos como atriz. Ainda mais na pandemia”.
E acrescenta: “Então, digo que é um equilíbrio difícil, porque tenho que me manter alimentando as redes sociais, estar presente, mas encontrar a medida para não ser sugada, é difícil. As vezes sinto o meu tempo escorrer pelos meus dedos quando estou no celular. É feito pra isso, né?”.
Saudade
Recentemente Mariana também postou um texto falando da saudade que sente de Paulo Gustavo, que fez toda diferença em sua trajetória. “Foi o olhar generoso e visionário do @paulogustavo31 pra mim e pro meu trabalho que mudou o rumo da minha carreira, mudou minha vida! Ele apostou no meu talento e confiou a mim a bênção e a responsabilidade de fazer a Marcelina, essa personagem que já era tão querida na imaginação de milhares de fãs dele… e esses milhares, com o passar do tempo, viraram milhões. Eu me lembro dele no início de 2013, antes de o primeiro filme chegar às telas do cinema, me surpreendendo com áudios empolgados no meio da madrugada: “Amooooor, tô aqui na edição! Tô passando só pra dizer que você tá foda!!!! Tá hilária, tá emocionante! Você vai amar! Tá ligada que sua vida vai mudar depois desse filme, né? Se prepara!”. Eu já vinha de uma longa jornada artística, mas sem dúvida foi “Minha Mãe É Uma Peça” que me projetou pro Brasil. Existe Mariana Xavier a.PG e d.PG. Nesses anos todos nós dois nunca criamos o hábito de nos falarmos com frequência, nunca frequentamos a casa um do outro, mas quando a gente se juntava, física ou virtualmente, a troca era de uma magia, de uma sintonia, de uma potência impossível de explicar! Eu sei que olhando sob a perspectiva humana, materialista, ver partir alguém tão incrível, aos 42 anos, de uma doença para a qual já existe vacina e que levou mais de 420 mil brasileiros, dá muita raiva! Mas me consola pensar que se tem uma pessoa que não desperdiçou um minuto nesse planeta, foi ele! A sensação que eu tenho é de que aquela hiperatividade, aquela energia ligada em 220 V, era pressa de viver, como se de alguma forma ele soubesse que não ia ter tanto tempo aqui. Sabiamente Paulo Gustavo não economizou nada!”, escreveu no Instagram.
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