*Por Brunna Condini
O Rio de Janeiro vive a expectativa de receber, pela décima vez, um dos maiores festivais musicais do planeta, o Rock in Rio, entre os dias 2 e 11 de setembro, no Parque Olímpico, na Zona Oeste do Rio. Às vésperas do megaevento, conversamos com Maria Alice Medina, considerada a ‘mãe’ do festival, já que estava casada com Roberto Medina, responsável pela idealização do RIR, e testemunhou todo processo de produção do início. Com um trabalho reconhecido para além da existência do selo que movimenta o cenário musical, ela é autora de ‘Do Rock a Compostela: às vezes se ganha, às vezes se aprende‘ (2018), no qual faz um registro dos 20 anos de imersão pelos místicos caminhos de Santiago de Compostela, sendo inclusive palestrante e consultora para quem deseja fazer a jornada. “Continuo Peregrina a Compostela, e quero escrever outro livro, agora sobre o Caminho Português de Santiago”, anuncia.
Investindo em autoconhecimento, espiritualidade e fazendo o bem ao próximo, Maria Alice também tem como objetivo dar visibilidade a projetos que podem fazer do mundo um lugar melhor. “Gosto de ser útil, em qualquer situação e qualquer segmento. Sei conectar e agregar pessoas. Tenho um network gigante, e principalmente, gosto de gente”. E nesta seara, sua mais nova empreitada é ser ponte para o Instituto ZENcancer – Saúde Integrativa em Oncologia se expandir em Portugal, lugar que mora. “Me encantei com a coragem e compartilhamento deste projeto”.
“Até que um dia, disse para ele: ‘Escuta, se não está conseguindo fazer pela cidade, inventa um negócio para fazer pelo país e vamos embora’. Ele passou a noite em claro pensando, e quando acordei me chamou: “Já sei o que vamos fazer: o maior festival de música do mundo”. Aí eu perguntei: ‘E como é que faz isso?’. Ele respondeu que não sabia, mas iríamos descobrir. Começamos a ir para as rádios nos inteirar sobre quem interessava às pessoas, porque Roberto era um homem que nem dançava e nem escutava muita música (risos). É um homem que admiro e tenho orgulho de ter uma relação de amizade até hoje, mas não entendia de música na época, e por isso, foi em busca do que precisava. Fomos também atrás da TV que estaria disposta em transmitir, e da terra, para abrigar o evento. Foi aí que ele começou de fato a construir melhor a ideia do Rock in Rio. Viajamos para Nova York e Los Angeles, ficamos 60 dias fora. Alugamos outro quarto no hotel, fizemos de escritório, levamos maquetes, tentamos descrever a estrutura para os empresários que chamávamos, para que entendessem como o evento era magnânimo, dez vezes o tamanho do Maracanã, algo gigante mesmo. Isso era em agosto, e quando dizíamos que o festival seria para janeiro de 1985 no Brasil, ninguém achava possível. Ficamos um mês levando todo tipo de ‘nãos’. As coisas não andaram bem de início”.
Como a Artplan (hoje Grupo Dreams), empresa de Medina, não tinha muita intimidade com o cenário musical na época, a não ser por ter realizado um show com Frank Sinatra em 1980 para 175 mil pessoas, com estrutura inédita por aqui, ele estava penando para convencer os empresários das bandas a embarcar na empreitada. “Até que um dia, estávamos em Los Angeles e o Roberto estava bem chateado, porque as coisas não estavam andando como imaginávamos. E eu disse: “O evento já está acontecendo, já temos quatro pessoas que acreditam neste projeto aqui (eles estavam acompanhados de dois diretores da empresa na época). Esse festival pode não acontecer exatamente como você idealizou de início, mas vai acontecer”. Foi aí que tivemos a ideia de pedir apoio ao Lee Solters, empresário do Frank Sinatra, já que ele tinha credibilidade de sobra, e sabíamos do que éramos capaz. Foi convocada uma coletiva e pudemos apresentar o projeto. O primeiro que fez contato dizendo que gostaria de participar foi o Jim Beach, empresário do Queen. E a gente já tinha uma negativa anterior dele. Bom, depois desse ‘sim’, vários outros vieram. Voltamos um mês depois para o Brasil com todos os contratos assinados”.
O caminho que leva a outros mundos
Formada em Educação Física, Maria Alice decidiu fazer outra faculdade, desta vez de Fisioterapia, logo após o segundo Rock in Rio. “Eu e Roberto tínhamos uma parceria de vida muito poderosa, só que acho que fomos ficando muito diferentes. E depois do sequestro dele, em 1990, quando voltou inteiro, salvo, graças a Deus, as diferenças entre nós ficaram mais evidentes. Foi um momento de aprendizado geral e percebi que ali não era mais o meu lugar. Fui estudar novamente, porque não sou do shopping, estava madame, mas nunca fui madame. Sempre fui uma pessoa de ter amigos de todos os tipos e lugares, gosto de estar com pessoas, e de buscar caminhos que façam sentido para mim”, divide.
“Me encontrei na faculdade de Fisioterapia, fiz cinco pós-graduações, e fui trilhando uma trajetória com muito embasamento. Tinha 50 anos, e minha conversa com ele foi assim: “Ainda dá tempo de sermos felizes. Nos respeitamos e amamos para o resto da vida, mas não dá mais para ficarmos juntos, não faz mais sentido”. Nos separamos e segui minha trajetória na fisioterapia preventiva, foram 16 anos de consultório.
Quando estava bem estruturada, eu que já havia lido os livros de ‘O Diário de um Mago’ e ‘O Alquimista’ do meu amigo Paulo Coelho há alguns anos, tive muita vontade de estar em um lugar de busca pessoal. O desejo de estar sem ‘máscaras’, em um lugar pleno. Então, me dei 45 dias de mochila no Caminho de Santiago de Compostela. Tinha 51 anos e havia me separado há um ano. Na véspera, jantei com Paulo e a mulher dele, minha querida amiga, a Christina Oiticica, para pedir as bençãos. Ela até fez o prefácio do meu livro. Concluir o caminho foi uma vivência tão verdadeira, uma entrega com tanta profundidade, que é indescritível”.
De lá pra cá, foram 13 chegadas a Santiago, e o caminho todo concluído três vezes. “O livro é resultado da minha paixão pelo caminho, todos os registros são do meu celular, da minha viagem de 2016, e conta um pouco como eu era. Fala de como era o rock lá em casa, e entra no caminho. São mais de 200 fotos, os textos são todos meus. É um livro lúdico, não é autobiográfico e nem um guia para o caminho”, diz. Quais foram os principais aprendizados com o Caminho de Santiago? “Que é fundamental prestar à atenção aos sinais da vida, assim como precisamos estar atentos as setas amarelas do Caminho. Elas nos mostram como chegar ao nosso objetivo, com humildade e solidariedade. E é preciso lembrar, que o caminho de cada um de nós nunca termina”.
Ela compartilha ainda, as práticas para tentar ser sua melhor versão por aqui. “Minha busca espiritual começou muito antes da da primeira peregrinação. Sou devota de Siddha Yoga, que tem como Mestra Gurumay Chidvilasananda. Também sou espírita Kardecista. Esta minha conexão com o Universo me faz estar mais em contato comigo mesma. E a atenção para o autocuidado, vem da certeza de que a saúde é o bem mais precioso. Me alimento bem, faço exercícios físicos, tento fazer escolhas pessoais sempre a meu favor, apesar de ter muita dificuldade em dizer ‘não’. E sempre fui muito transparente em atitudes, verdades e colocações em quaisquer segmento onde me envolvi. Isso também ajuda a ter saúde”, avalia.
Embaixadora do bem
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