Marcos Breda aponta camadas de etarismo na profissão e diz o porquê compartilhou alta do tratamento da depressão


O ator, que esteve até julho na novela ‘Rainha da Pérsia’, na Record, reconhece que o etarismo é uma questão que permeia o trabalho artístico no audiovisual e mais crítico, quando falamos da TV. Com 43 anos de trajetória, Breda tem muito a dizer, e por isso mesmo, é o nosso convidado da vez da série ‘Que saudade de você na TV’, que acima de tudo, exalta a trajetória de atores veteranos e também quer ouvi-los sobre o mercado hoje. Nesta conversa, ele fala sobre a sobrevivência na arte, sua multiplicidade, os projetos, a recuperação de um acidente de moto com múltiplas fraturas e a alta de um tratamento de 12 anos contra a depressão. “Fiz o post no Instagram falando do fim do meu tratamento, claramente como uma tentativa de ajudar as pessoas. A pior época da depressão em todos esses anos foi justamente de 2022 até o final de 2023, quando, além dos meus problemas pessoais, objetivos, tive que lidar com níveis de dor insuportáveis durante muito tempo. E a dor é uma coisa enlouquecedora. Foi nessa época que tive que aumentar a dosagem do antidepressivo, porque estava fazendo uma cirurgia atrás da outra, daí vinha a dor”

Marcos Breda aponta camadas de etarismo na profissão, fala dos projetos e diz porque compartilhou a alta do tratamento para uma depressão

*Por Brunna Condini

Com 43 anos atuando como ator e há 38 como astrólogo, Marcos Breda, aos 64 anos, dispara: “Amo trabalhar e, felizmente, trabalho não tem faltado, até porque sempre diversifiquei”. Ele é também locutor e diretor. Breda tem ainda a paixão pelas corridas de Kart, que nutre há 20 anos. Apesar da presença na TV, inclusive tendo estado no ar até julho com a novela ‘Rainha da Pérsia‘, na Record, o ator, que compartilhou em seu Instagram o fim do tratamento com antidepressivos após 12 anos, reconhece que o etarismo é uma questão que permeia o trabalho artístico no audiovisual e mais crítico quando falamos da TV. Por isso, o artista é nosso convidado da vez da série ‘Que saudade de você na TV’, que exalta a trajetória de atores veteranos e, acima de tudo, quer ouvi-los sobre o mercado hoje.

“O etarismo tem sido uma questão séria nos últimos tempos. Na verdade, ele sempre existiu, só está pior hoje. Visivelmente, você vê atores com idade para serem pais, sendo escalados para serem avôs, e atores com idade para serem avôs, não serem escalados para o papel. Isso é, claramente, um reflexo de uma sociedade que valoriza a juventude em detrimento da maturidade, da experiência”, analisa o artista que neste bate-papo falou também sobre a sobrevivência na arte, sua multiplicidade, os projetos, a recuperação de um acidente de moto com múltiplas fraturas (ele quebrou o fêmur, a clavícula direita e uma costela do lado direito) e a alta de um tratamento de 12 anos contra uma depressão.

Ser velho é quase como se fosse uma doença, como se fosse um defeito, quando, na verdade, o velho é o jovem que deu certo – Marcos Breda

Marcos Breda aponta camadas de etarismo na profissão, fala dos projetos e diz porque compartilhou a alta do tratamento para uma depressão (Foto: Reprodução/Instagram)

Marcos Breda fala de etarismo na profissão e diz porque compartilhou a alta do tratamento da depressão (Foto: Reprodução/Instagram)

E continua sua reflexão: “Ou seja, se você sobreviveu a ponto de conseguir envelhecer com dignidade, com saúde, você é um cara muito bem-sucedido e o importante não é a meta de chegada. Todos nós morreremos, evidentemente, a questão é como você chega até lá. Eu não sinto falta de trabalho por conta da minha idade, tenho 64 anos e continuo trabalhando como sempre. Mas isso também acontece porque diversifico muito os meus trabalhos. Não sou um ator só de televisão ou só de teatro ou só de cinema, faço tudo ao mesmo tempo e sempre vou fazer. Então, isso não é um problema, é uma solução”.

Mesmo ainda fazendo cirurgias para a recuperação de fraturas em decorrência de um acidente de moto sofrido em 2022, o ator conta: “Até o final deste mês devo começar a dirigir um espetáculo com textos de Caio Fernando Abreu (1948-1996) – o ator montou há um ano a peça ‘O Homem e a Mancha‘, que foi último texto de Caio, seu amigo pessoal, para teatro –  adaptados por Flávio Marinho, com previsão de estreia até o final de novembro. E, a partir de janeiro, começo a ensaiar outro espetáculo, desta vez, como ator”.

Marcos Breda em cena de seu último espetáculo: 'O homem e a mancha', último texto de Caio Fernando Abreu (Divulgação)

Marcos Breda em cena de seu último espetáculo: ‘O homem e a mancha’, último texto de Caio Fernando Abreu (Divulgação)

Tenho muita coisa pela frente. Nos próximos meses farei uma nova cirurgia no ombro, e terei sessões de fisioterapia para recuperação. E, além das peças, uma como diretor e outra como ator, também tem filme e uma novela para fazer no início do ano – Marcos Breda

Celebração à vida

Em agosto, Marcos Breda divulgou em se Instagram o fim do tratamento com antidepressivos após 12 anos. “Fiz esse post falando da depressão claramente como uma forma de tentar ajudar outras pessoas, desmistificando a questão da fragilidade. Ser frágil não é problema, você ficar doente não é problema. E, outra coisa, ninguém tem depressão porque é frágil, mas porque foi forte tempo demais. Não é problema ficar doente, a questão é não se dar conta de que precisa de ajuda. Nunca tive problemas em pedir ajuda, muito pelo contrário. E ajudo quem pede auxílio. Todos temos pontos fracos e fortes, é do humano. Durante todo esse tempo, 34 anos, eu convivi com a depressão fazendo psicanálise, um tratamento que continua sendo decisivo. Você tomar antidepressivo é apenas um paliativo”.

"Fiz esse post falando da depressão claramente como uma forma de tentar ajudar outras pessoas, desmistificando a questão da fragilidade" (Foto: Reprodução/Instagram)

“Fiz esse post falando da depressão claramente como uma forma de tentar ajudar outras pessoas, desmistificando a questão da fragilidade” (Foto: Reprodução/Instagram)

A pior época da depressão em todos esses anos foi justamente de 2022 até o final de 2023, quando, além dos meus problemas pessoais, objetivos, tive que lidar com níveis de dor insuportáveis durante muito tempo. E a dor é uma coisa enlouquecedora. Foi nessa época que tive que aumentar a dosagem do antidepressivo, porque estava fazendo uma cirurgia atrás da outra, daí vinha a dor – Marcos Breda

E complementa: “Mas as cirurgias foram dando certo, fui melhorando, e junto com a melhoria física, veio uma melhora mental, emocional, psíquica, subjetiva, e quando senti condições de estar fortalecido, e também com algumas questões antigas minhas resolvidas na psicanálise, fui deixando de sentir a necessidade dessa muleta física e metafórica, e fui entrando num processo de desmame, acompanhado pelo meu psiquiatra. Estou me sentindo ótimo, trabalhando pra caramba e com muitas possibilidades de futuro e presente”.

A felicidade como caminho

Com mais de 45 peças de teatro, de 30 filmes e de 40 trabalhos na TV, Breda conta se já sentiu alguma discriminação como base na sua idade profissionalmente. “Já senti etarismo dos dois lados dessa questão. Fiz testes para trabalhos em que me disseram que eu era jovem demais para um personagem, e já fiz testes onde me disseram que eu era velho demais. Isso é muito comum na vida de um ator, você ou é velho demais, ou é jovem demais, ou é alto demais, ou é baixo demais, ou é gordo demais, ou é magro demais. E vem sempre aquela velha expressão: “Ah, você não é o perfil do personagem”. Não me importo mais com isso, sinceramente. Já ouvi milhares de ‘nãos’ e já ouvi muitos ‘sins’. Sempre valorizei mais os ‘sins’ do que os ‘nãos’, porque de cada dez trabalhos, um vale a pena. A felicidade é a arte do possível, e o possível não é pouca coisa. E eu vejo, olhando para a minha trajetória, que trabalhei muito, até os meus filhos brincam comigo, falam assim: “Pô pai, seu currículo é gigante, como é que você arrumou tempo para fazer filho?”, diverte-se.

"Não sou um ator só de televisão ou só de teatro ou só de cinema, faço tudo ao mesmo tempo e sempre vou fazer. Então, isso não é um problema, é uma solução" (Foto: Reprodução/Instagram)

“Não sou um ator só de televisão ou só de teatro ou só de cinema, faço tudo ao mesmo tempo e sempre vou fazer. Então, isso não é um problema, é uma solução” (Foto: Reprodução/Instagram)

“Respondo para eles, que para fazer aquilo que a gente gosta e tem prazer, sempre arrumamos um tempinho. De todas as coisas que fiz na minha vida, a melhor coisa foi ser pai dos meus dois filhos, Jonas, que tem hoje 22 anos, e Daniel, de 18. Jonas é formado em Design Gráfico na PUC, é game designer, e Daniel está terminando o Ensino Médio e vai fazer vestibular para Artes Cênicas na Unirio. Os dois são o que existe de mais importante na minha vida”.

Marcos Breda ao lado dos filhos, companheiros inseparáveis, quando se recuperava de um acidente de moto (Foto: Reprodução/Instagram)

Marcos Breda ao lado dos filhos, companheiros inseparáveis, quando se recuperava de um acidente de moto (Foto: Reprodução/Instagram)