*Por Brunna Condini
Ele é ator, locutor, diretor, professor e astrólogo. E, aliás, um super astrólogo, requisitadíssimo durante a pandemia. Marcos Breda celebra 40 anos de trajetória na dramaturgia e 35 na astrologia. Workaholic assumido, ele revela dormir cerca de quatro horas por noite. “Faz falta dormir, né? (risos). Ando um bagaço, porque tenho trabalhado bastante. E gosto. Sempre produzi muito”, diz o ator, aos 61 anos. “Nos últimos meses, peguei pesado com a astrologia, porque como ator foi mais devagar. Para você ter uma ideia, comecei a fazer mapas astrológicos por vídeo chamadas em agosto do ano passado, e dela para cá já fiz 370 neste formato. Como eu era professor de inglês, atendo gente nos Estados Unidos, na Inglaterra, Canadá e até na Islândia. Acredito que as pessoas procuraram mais práticas oraculares nesta pandemia e não só a astrologia. Estamos vivendo um período de muitas incertezas, desorientação, então as pessoas estão indo de Karl Marx (1818 – 1883) a Iemanjá, recorrendo a tudo”, comenta Breda, que também estará na próxima novelas das 18h na Globo, ‘Além da Ilusão‘, e, no teatro online, a partir de janeiro, com ‘Touch‘, de Gustavo Paso.
E recorda sobre o caminho na astrologia: “Comecei a estudar em 1976, em São Paulo, quando eu dividia apartamento com o Caio Fernando Abreu (1948 – 1996), que além de ser um grande escritor, era um grande astrólogo. Sou da época em que não existia aplicativo para fazer cálculos astrológicos, era tudo à mão. Tenho no meu arquivo mais de 220 mapas que fiz a mão na época”.
Panorama do Brasil
O ator conta que os astros apontaram para os tempos desafiadores que vivemos. “Escrevi em meu Instagram, na primeira semana de janeiro de 2020, que tínhamos chegado a poucos dias da conjunção de Saturno e Plutão em Capricórnio, que aconteceu pela última vez 1518, e marcou o início do genocídio dos povos americanos pelos invasores europeus. E se você já acha isso suficientemente assustador, também mencionei que na metade de março – quando foi a explosão da covid-19 – Júpiter e Marte se juntariam à essa ‘festa estranha com gente esquisita’. Não sabia se seria um meteoro que nos atingiria, mas sabia que seria algo desta magnitude”, lembra.
“Depois, no final de 2020, as pessoas começaram a afrouxar o distanciamento, achando que a pandemia estava acabando, e eu disse que ‘não’. Saturno está em quadratura com Urano, então haveriam três batidas em 2021: fevereiro, julho e dezembro. Foram as ‘ondas’ da Covid. Agora, entre Natal e Ano Novo, teremos o ‘pico’ da quarta e última onda, que vai durar até o início de fevereiro, quando tudo começa a melhorar, lentamente. Em abril, vamos poder dar por encerrado esse terror, pelo menos falando da Covid como pandemia”, avisa.
A pedido do site, Marcos Breda também comenta a configuração política do país: “Será um momento de grande pancadaria. O cenário só começa a clarear lá para o final de 2022, entrando 2023 e aí por diante, quando Plutão sai de Capricórnio e entra em Aquário. É neste período que a ‘guinada’ do populismo para extrema direita começa a arrefecer. Mas ainda teremos muitos capítulos lamentáveis deste show de horrores”.
Abuso não é arte
Preparadora de atores exaltada por muitos profissionais no meio audiovisual, Fátima Toledo passou a receber críticas ferrenhas e até acusações sobre seus métodos de trabalho. A ONG Respeito em Cena criou o manifesto ‘Abuso não é Arte‘ sobre o assunto, que conta com a adesão de centenas de artistas, entre eles Paulo Betti, Daniel Dantas e Denise Weinberg – que começou o movimento declarando que sofreu abusos físicos e psicológicos na época da preparação de um filme. “Também fui um dos signatários deste abaixo-assinado. Já deixei de entrar em processo de seleção de alguns filmes quando soube que teria que passar pelo crivo desta senhora. Pelo o que me conheço, iria me aborrecer no primeiro dia. Me poupei disso”, relata Breda.
“Quando era mais novo, já engoli muitos sapos, mas de muitos anos para cá não engulo mais. Acredito que prazer é a palavra chave do ofício. E é uma profissão em que é dificílimo sobreviver ao longo de décadas. É aquele ditado: “o pessoal aplaude a pinga que a gente bebe e não vê o tombo que a gente leva”. Tudo joga contra. Você trabalha muito para ganhar relativamente pouco, na média. As pessoas acham que a gente vive no Olimpo, que a gente ‘mama’ nas ‘tetas’ da Lei Rouanet. Quando escuto isso, saio do sério. Então, trabalhar no paradigma da dor, do desprazer, do desrespeito, da agressividade, não curto. Palco e set são lugares de confiança, prazer”.
Sobre atores que apreciam o trabalho de Fátima Toledo, como Wagner Moura, que trabalhou com ela em cinco longas, entre eles ‘Tropa de Elite‘ e em ‘Marighela‘, ele frisa: “Eu respeito o Wagner Moura, é um amigo, uma pessoa muito querida. Curto muito o trabalho dele, mas me reservo o direito de discordar neste assunto. Já passei por todo tipo de processo que você pode imaginar. E esse da dor pode funcionar para algumas pessoas, não para mim”.
Arte, filhos e velocidade
São 45 peças de teatro, mais de 30 filmes e de 40 trabalhos na TV e uma super habilidade ao volante como piloto de kart. “Levo a sério essa história de ser piloto também. É uma vida paralela (risos), tenho até equipe, uniforme. Corro há 18 anos. Se fosse resumir, diria que sou ator, astrólogo e piloto. Faço tantas coisas, trabalho tanto que fico me perguntado como tive tempo de ter filhos”, diverte-se.
Ele é pai de Jonas, 19 anos, que faz faculdade de design gráfico, e de Daniel, 15 anos. “Daniel já trabalha como ator desde os 7 anos. Fez o ‘O Rico e Lázaro’ (2017) comigo na Record. Foi demais. E já fez algumas peças e ano passado, fez seu primeiro longa, em que fazemos pai e filho também na ficção. No próximo filme dele, faço o seu coadjuvante, pode? Tem coisa melhor?”.
Trabalho duro, a mesma alegria na descoberta de um iniciante, muita satisfação, poucas expectativas e pés no chão. Breda não se preocupa que muitas vezes a escolha de um ator se dê por sua popularidade nas redes sociais. “Os likes de hoje são as cartas que eram enviadas à emissora no passado. Isso também media popularidade, retorno que o ator poderia dar. Não mudou e não me importo. Os mecanismos são análogos, mas o mercado funciona desta maneira. Você pode gostar ou não. Mas se você se propõe a trabalhar nesta profissão, tem que saber quais são as regras do jogo hoje. E aprender a lidar com isso, de acordo com seus parâmetros profissionais, éticos, claro. Têm projetos que eu negocio, outros, não. Fui construindo um código de ética ao longo do anos. Eu posso ainda não saber direito como é ser um ator, mas sei direitinho como é não ser”.
E completa: “Não dependo só do trabalho de ator para viver, tenho a astrologia que também paga as minhas contas, me dou ao luxo de dizer alguns ‘nãos’ quando acho que o trabalho não vai valer à pena. Adoro ficar em casa fazendo meus mapas também. Olha que sorte! Na minha trajetória aprendi que mesmo diante das maiores dores, tenho uma carta na manga, o maior prazer: faço o que amo. E isso me sustenta na noite mais escura”.
Artigos relacionados