*Por Brunna Condini
Marcella Rica anda feliz com tudo que vem acontecendo em sua vida, pessoal e profissionalmente. Noiva da atriz Vitória Strada desde de janeiro, com quem se relaciona há três anos, ela reconhece que tudo estar tão bem é raro. “É o relacionamento mais saudável no sentido de encaixe que já tive. É meio ridículo de falar, mas chega a ser algo meio Disney (risos)”, entrega. “A Vi é muito nova e eu vinha com mais bagagem, alguns receios. Ela não. É muito surpreendente positivamente tudo que aprendo com ela. Somos muito parceiras e estamos bem felizes. Passei por coisas que ela não passou, ainda bem. Já tive a insegurança que se descobrissem que namorava mulheres eu não teria mais trabalho interpretando. A Vi não é a primeira atriz que namoro. Já fui ao Prêmio Contigo naquele esquema de uma chegar primeiro e a outra uma hora depois para não desconfiarem. Agora, eu e Vitoria concorremos ao mesmo prêmio e ganhamos como Casal do Ano, olha isso. Para as pessoas pode parecer uma bobagem, mas para mim é muito simbólico. É evolução e ver o mundo andando para frente”.
Ela conversou com o site direto da produtora e fez graça sobre a pergunta recorrente nas últimas entrevistas: para quando é o casório com Vitória? “Somos duas librianas com Vênus em Virgem (risos), somos parecidas em muitos aspectos. Temos muitas dúvidas e somos muito perfeccionistas. Demoramos a tomar certas decisões”, diz, acrescentando: “Sério, não marcamos a data, porque ainda estamos na pandemia, em um momento sem saber muito o que vai acontecer para tomar certas decisões. Não temos pressa, já moramos juntas, temos tempo para decidir. Estamos esperando as coisas se acalmarem e ainda questionamos o tamanho desse casamento. Se vai ser algo mais reservado, no estilo da Vitória, por exemplo. Ou no meu estilo, que sou do tipo: ou a gente casa no cartório e vai viver, viajar ou é aquela história, sou produtora: não me venha com ‘eventinho’, respeita a minha história (risos). Mas vamos decidir por algo que faça as duas felizes. É um momento muito nosso, de celebração, porque já nos sentimos casadas”.
Feliz no amor e no trabalho que vem desenvolvendo na Rica Conteúdo, sua produtora audiovisual, Marcella conta que tem trabalhado sem pausa. E não se queixa. “Nos últimos meses, a empresa cresceu muito. Tanto que estamos indo para outro espaço na Barra da Tijuca. No início da pandemia foi assustador, porque os trabalhos diminuíram, claro. Daí fomos abrindo mais para projetos no digital. Então hoje, além das campanhas publicitárias, estamos gerindo redes sociais, como as da Claudia Raia, Vitória (Strada), Giovanna Antonelli, do Jarbas Homem de Mello e da Heloisa Périssé. Temos o braço de produção audiovisual, que é o nosso carro-chefe e o da gestão de redes sociais”, detalha a produtora, formada em cinema e atriz desde os 11 anos.
E, apesar do foco no trabalho como produtora, ela não descarta voltar a atuar. “Na última novela que fiz, na Record, ‘Topíssima’, já senti dificuldade de conciliar o crescimento da produtora com as gravações. Começamos a entrar mais no mercado publicitário, campanhas com menos flexibilidade de agenda. O cliente já fica muito em função da agenda da artista, então nós que vamos fazer a campanha temos que oferecer isso. Trabalhamos muito com a Giovanna Antonelli, por exemplo, e ela está gravando a nova novela das sete, está com a agenda apertada. Comecei a entender que eu teria que fazer escolhas para a empresa crescer”, analisa ela, que já realizou por sua produtora trabalhos com Grazi Massafera, Cauã Raymond, Isabelle Drumond e Ingrid Guimarães, entre outros artistas.
“Na pandemia, fiz a série ‘Filhas de Eva’ como atriz e foi uma experiência ótima. Foi rápido, uma obra fechada, consegui me planejar e fui feliz, entendi que, de repente, projetos mais curtos pra mim neste momento são ideais para não deixar de atuar, que é algo que amo e sinto saudade. Mas dá uma alegria muito grande ver a empresa crescer. Me envolvo em tudo, amo dirigir, é um lugar de conforto para mim. Como atriz tinha outros desafios, lugares de desconforto muitas vezes pela exposição. Aqui consigo mergulhar na entrega do que gostaria que as pessoas vissem. Não me vejo parando de atuar e nem preciso. Sempre fui múltipla. Quando atuava já tocava como DJ, fazia assistência de direção. Só que esse período é muito importante para a empresa, de expansão, então preciso estar muito por aqui, ser seletiva. Já fui convidada para fazer novela neste meio tempo, mas pra mim fica muito difícil agora. Mas atuar é uma paixão”.
Amor bom
Paixão ela tem também por Vitória e se declara: “É meu encontro da vida. Tive relacionamentos bacanas, sou amiga de alguns e algumas ex, mas eu e a Vi não brigamos, temos muita harmonia. Enxergamos os defeitos uma da outra, mas são tão administráveis, que se tornam até divertidos. Ela é muito leve e eu tenho uma dinâmica de trabalho muito séria, ela traz alegria para minha vida. Temos muita parceria, humildade para aprender uma com a outra. Também temos a sorte de ter um encontro familiar muito bom, minha mãe é apaixonada por ela e a família da Vi me acolheu de uma forma linda. E era novidade pra eles. Minha mãe já tinha essa vivência comigo de outros relacionamentos com mulheres e nunca foi uma questão na minha família. Mas essa vivência familiar, como tenho com a Vitória, nunca tive em outros relacionamentos e é muito gostoso, é uma comunhão”.
Marcella diz que tem consciência da responsabilidade em poder inspirar através da sua relação. “Nunca fui uma pessoa com tanta voz na comunidade. Não tinha a vivência de trocar tanto com as pessoas, o ativismo. Ainda acho que falta um caminho longo para me chamar de ativista, mas acho que a gente enxergou algo no meio do caminho e foi natural. Eu e Vitória fomos meio que ‘jogadas aos leões’, estávamos entendendo o relacionamento ainda, quando jogaram na mídia. Pensamos então em contar a nossa história, do nosso jeito, para ficar tudo muito claro e tranquilo que não tínhamos nada a esconder. Só queríamos que fosse leve. Pensamos que se desejamos naturalizar o discurso, de que isso não deve ser tratado de forma nenhuma com diferença, também não queríamos fazer disso uma grande coisa. Mas entendemos no meio do caminho, que ainda não conseguimos ter esse posicionamento. Precisamos fazer um certo barulho, até que esse dia chegue”.
E analisa: “Damos muitas entrevistas falando sobre nosso relacionamento, falando de representatividade, de inspiração para outras pessoas, se isso não fosse importante, nem faríamos esse tipo de entrevista. Ninguém entrevista alguém hétero e pergunta como é para a comunidade você falar de ser hétero, não é mesmo? Ou perguntando como ele inspira as pessoas sendo hétero? (risos). Então, entendemos que precisamos aproveitar esse espaço. Muita gente sofreu, foi julgada, ‘apedrejada’, para que hoje a gente possa ter ido ao Faustão falar que estamos noivas, posar na capa de revista e receber elogios por isso. Claro, que reforço que tem muito privilégio aí e nos vemos numa missão mesmo. Num propósito autêntico, que nasceu, e também vamos trilhar esse caminho para os nossos filhos, pra quem vier depois. Vejo a Nanda (Costa) e ela é um reflexo de que a minha família e da Vitória é possível. A Nanda sempre foi uma mulher que abriu caminhos. Somos amigas há muito tempo e sempre assisti ela indo, para entender os passos. Então, hoje é um pouco da minha missão e da Vitória: aproveitar a nossa visibilidade e naturalizar cada vez mais o amor. E não só o nosso ponto de vista sobre o nosso ‘mundinho colorido’. Mas sobre tudo que de fato precisa ser falado. Ainda temos muito o que aprender e dividir. A Vi mais que eu, que chegou agora (risos)”
Dirigindo no futuro
Aos 29 anos, Marcella Rica também planeja ‘filhos’ que sejam obras audiovisuais. “Acredito que o caminho vai escolhendo a gente. A minha vida inteira foi assim. Nunca pensei em ser atriz, quando era mais nova queria ser jogadora de futebol. Até ir na aula de teatro da Lorena Comparato, que é minha irmã, crescemos no mesmo prédio. Tinha 10 anos e pirei nessa de viver outra pessoa. Falei pra minha mãe que queria aquilo e fui fazer”, recorda.
“Com 13 anos já estava na rua de repórter do Fantástico, era a única pessoa da minha idade na Globo Jornalismo. Com a atuação também foi assim, me viam em um trabalho e me levavam para outro e eu ia. Com a empresa, os clientes gostam e vão indicando. Acredito muito nos caminhos de Deus, no que ele tem pra gente. A hora que eu tiver que experimentar essa outra versão dirigindo, isso vai se apresentar para mim, vai rolar. Quero falar de amor, relacionamentos. Com temáticas LGBT também, sem dúvida nenhuma. Por ser um primeiro filme, puxaria para uma vivência mais profunda. Não só de relacionamento, mas de encaixe social. Isso é pulsante em mim. E a vontade de trazer uma dramaturgia que traga alguma reflexão, transformação”.
E ‘joga no universo’: “Estou me preparando pra isso, inclusive, com experiência. Como atriz já tenho uma vivência de set muito boa. Isso me ajuda na logística como produtora, que ainda preciso vivenciar mais. Quando for fazer um projeto de dramaturgia quero poder fazer com essa bagagem e uma estrutura bacana. Admiro por exemplo a Barbara Paz e como ela começou esse caminho autoral. As angústias artísticas continuam aqui. Antes eu colocava pra fora atuando e agora também quero experimentar outras formas de contar histórias, mas tem tempo, quero fazer isso sem ansiedade. Sem a angústia que tinha que ter vivido isso antes dos 30 anos (risos)”.
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