*Por João Ker
Para quem esteve sábado (28/6) na Casa Fenomenal, o som de Diplo e a piração da plateia pareciam algo incapaz de ser superado. Mas, quem teve a chance de assistir, na noite deste domingo (29/6), a performance do cara com o seu parceiro Walshy Fire, enquanto os dois incendiavam a cobertura do Hotel Budweiser, em plena orla de Copacabana, tocando como o duo Major Lazer, conseguiu participar do melhor espetáculo proporcionado pelo evento até agora, em um nível de empolgação que transcendia qualquer barreira supostamente imposta pelas paredes do prédio.
A noite começou com o som gradualmente morno dos The Twelves, que até conseguiram animar o público um pouquinho antes de caírem em um vácuo de instrumentais letárgicos que deixou as pessoas se balançando meio que no piloto automático enquanto esperavam pela atração principal da noite. O bufê havia parado de circular desde as 20h e, como nem as mais belas das moças conseguiam tirar sequer um acepipe da cozinha, alguns convidados aproveitaram o mormaço musical para descer em busca de alguma sustança que forrasse sobretudo a alma. Nem as Bud Girls, dessa vez confusamente caracterizadas em uma mistura de Minnie Mouse com gueixa – que deixaria os mais conservadores espumando de raiva pela apropriação cultural – estavam conseguindo empolgar.
Com alguns minutinhos de atraso muito bem recompensados pela apresentação, o Major Lazer subiu ao palco depois das 22h e a plateia, sabe-se lá de onde – talvez pela quantidade de energético Fusion disponível – se acumulou em frente ao palco elevado e começou a pular de maneira insana, enquanto os dois DJs e produtores comandavam a farra lá de cima. Já nas primeiras batidas, eles jogaram apitos customizados para a plateia e o barulho ensurdecedor da música se misturou aos vários assovios de plástico que foram se propagando noite adentro. Isso sem falar em um grupelho de gogo girls que saracoteavam lascivamente no set, transformando a noite e uma espécie de mil e uma noites, sem jasmines, mas repleta de Valescas.
A palavra de ordem da festa foi ostentação: do corpo, da música, da vida e do álcool. Claro, sempre mantendo um certo nível de decoro. A mando de Diplo e Walshy, a plateia pulava, assoprava, descia até o chão e levantava as mãos para o alto. As dançarinas oficiais do Major Lazer deram um show à parte, com um rebolado de dar inveja muita brasileira por aí. No sobe e desce, as partes pudicas quase encostaram a laje umas inúmeras vezes.
Vídeo produzido no dia pelo Major Lazer, ao som de “Jah No Partial”
Lá de cima, a dupla levantava bandeiras com o símbolo do grupo e os slogans “Free The Universe” e “Lazers Never Die” (ambos títulos de seus registros de estúdio), mensagens que parecem superficiais a princípio, mas que se encaixavam muito bem com o clima da noite. Afinal, qual o melhor lugar para celebrar a onipotência jovial do que em uma cobertura privada na orla de Copacabana – capital mundial da falta de decoro, cujas esquinas são capazes de transformar qualquer red light area em uma extensão de um pensionato para seminaristas -, durante a Copa do Mundo e em meio às famosas e eletrizantes batidas do funk brasileiro tocadas por um dos grupos mais importantes da cena eletrônica mundial?
Boa parte do público que estava ali era fã de verdade do Major Lazer, o que podia ser comprovado a cada música autoral que eles tocavam e que o público acompanhava cantando, como “Jah No Partial”, “Watch Out For This”, “Bubble Butt” e a tão querida e hypada “Get Free”. Houve chuva de dólares customizados com o símbolo do duo, mais apitos e papel picado, mas o auge da festa foi quando, liderados e comandos por Diplo, vários homens e mulheres tiraram suas camisas e rodaram no alto, tipo de The Week. Se a visão daquele Deus grego loiro e fenomenal (Diplo, quem mais?) não fosse motivo suficiente para se despir, a plateia arranjou um pretexto melhor: alguma alma abençoada teve a brilhante ideia de rodar a Budweiser junto com a camisa e esse foi o tiro de largada para que uma chuva de cerveja caísse sobre quem estava na pista. Nem as toalhinhas de rosto jogadas pelos DJs deram conta de secar a chapinha das meninas e, como quem está na chuva é para se molhar, elas preferiram entrar no clima a ficarem do lado de fora. Dizem até que alguma empresa cosmética nacional anda pensando em lançar, a partir daí, a milagrosa escova de cevada.
Quem está familiarizado com o trabalho de Diplo e do Major Lazer provavelmente já conhece o “movimento” Express Yourself que não, não tem nada a ver com a música da Madonna. Essa é simplesmente uma desculpa para os caras incentivaram e propagarem a “arte” de fazer twerk pelo mundo e, como estavam em pleno Rio de Janeiro, é óbvio que eles não perderiam essa oportunidade. Lá de cima, eles mandaram que o público abrisse uma roda na pista de dança e, cercadas por câmeras e instigadas pelas dançarinas oficiais – agora com bandeiras do Brasil amarradas na cintura – as mulheres mais corajosas soltaram a cintura e fizeram uma batalha épica rebolado, mexendo a booty frenética e descontroladamente. Rumores de que essas gravações vão para o próximo videoclipe oficial do grupo, mas isso ainda precisa ser confirmado.
E foi assim a noite insana do Budweiser Hotel. Clássicos do funk também passaram por lá, como as cinco velocidades do Créu e o keep calm de Valesca e seu Beijinho no Ombro. Como todos os gringos, o Major Lazer é apaixonado pelo Brasil e ficou claro o porquê: o sentimento é recíproco. Afinal, não é todo dia que uma turma de VIPs se disponha a tomar banho de cerveja, tirar a camisa, fazer topless, descer a púbis até o cimento e rebolar até o chão na frente de uma câmera, né? A missão de “free the universe”, pelo visto, está indo muito bem, obrigado.
Fotos: Zeca Santos
Artigos relacionados