Por que mulher se depila? Por que mulher ganha menos? Por que a menstruação é tão mitificada? Por que mulher não pode ser gorda? Esses são questionamentos abordados na série POR QUE MULHER feito pelo YouTube em parceria com a ONG Think Olga, que é voltada para o empoderamento feminino. O projeto aparece no canal ‘Nunca te pedi nada’ da youtuber Maíra Medeiros, de 32 anos. “Foi um trabalho feito apenas por mulheres. Esse programa faz as pessoas questionarem várias situações que já são normais, como falta de bolso nas roupas femininas. Várias meninas comentavam que elas questionavam certas coisas involuntariamente. A nossa liberdade é muito falsa. Posso fazer o que eu quiser, mas existem consequências como ser julgada ou, em situações extremas, estuprada. E o machismo não limita só a mulher, mas os homens”, aponta Maíra.
A rede social dela é voltada para o público feminino, de 11 a 35 anos, colocando em evidências assuntos de cunho feminista. É importante salientar que o movimento fala de igualdade social entre os sexos. “Várias amigas minhas me disseram que eu precisava criar um canal para falar um pouco sobre o que nós conversávamos. Uma delas me ligava de manhã, de tarde e de noite insistindo. Para ela parar de fazer isso, gravei um vídeo sem compromisso. Já falava sobre alguns assuntos polêmicos, mas não aprofundava. Vi muitas adolescentes de onze anos, por exemplo, se interessando pelo o que eu dizia. A partir daí, comecei a me perguntar o que a Maíra pequena precisava ter escutado para que ela crescesse melhor. Criei alguns assuntos bases e fundei, de fato, o canal”, explica Maíra sobre a inspiração que a levou a ter um portal como esse.
Com um ano e meio na rede, Maíra acumula 24 milhões de visualizações. É uma das principais influenciadoras relacionadas ao empoderamento e humor. Ela faz parte de uma corrente de feministas que ajudam na sororidade, ou seja, ao compartilhar suas questões, contribui para que jovens se informem mais sobre o tema. “É importante que você não tenha apenas uma fonte. Então, fico feliz quando a partir de mim uma menina vai procurar sobre o tema ou, ao contrário, chegam no meu canal porque fui indicada por uma amiga. É bom saber que faço parte de uma corrente bacana como essa. Me alegra saber que pessoas de diferentes idades querem ouvir o que tenho para falar. Antes, os grandes comunicadores eram, na maioria, homens, o que acaba ajudando a disseminar apenas um lado”, analisa.
A paulista aceitou o feminismo somente aos 27 anos quando começou a questionar alguns fatos que considerava injusto ao seu redor. “Quando eu entrei para a faculdade, o feminismo não era tão divulgado. Um dia estava navegando pelo Facebook e vi um post de uma menina falando sobre esse assunto e eu concordava com tudo que dizia. Nesse dia, percebi que era uma feminista e fui procurar mais sobre o assunto. Decidi não escolher uma vertente, sou isso e ponto”, conta. A partir desse momento, Maíra resolveu disseminar as informações que recebia e questionar atitudes que tinha antes. Ao abrir os olhos para este tema, Maíra diz ter reavaliado sua vida e percebido que situações que julgava normais eram casos extremos de assédio. “Você percebe que todas as mulheres ao seu redor, amigas e familiares, já passaram por algum assédio. Praticamente todas já foram estupradas, porque há formas diferentes disso acontecer. Um cara já transou com uma amiga minha que estava bêbada e, para ele, isso foi normal”, lamenta.
Infelizmente, a youtuber afirma que já teve muitas atitudes machistas durante sua vida. “Na escola, tinha um preconceito muito grande com as meninas bonitas e gostosas. Achava que elas precisavam ter algum defeito, porque eram muito inseridas nos padrões de beleza. Comecei a perceber que falava muita coisa sobre as mulheres que, se elas dissessem sobre mim, ficaria muito chateada. Hoje, fico me perguntando por que falei mal delas”, confessou. Hoje em dia, ao compartilhar o feminismo na rede, Maíra percebe que há muitas meninas novas que já participam do movimento. Isso mostra que a sua contribuição está dando resultado. “É bom que exista alguém para alertar essas jovens que elas vão passar por muitos preconceitos. Assim, vão crescer pessoas muito mais fortes e preparadas para o mundo profissional e social”, comenta.
Seu vídeo mais visto com mais de 3 milhões de visualizações é a paródia ‘Miga sua louca’, inspirada na música ‘Essa mina é louca’ da cantora Anitta. Na música, cita alguns comportamentos machistas que devem ser mudados na sociedade. “Chamei vinte meninas conhecidas do YouTube para participar. Nove me mandaram. Juntei todos com o meu e postei. Na época, eu e meu marido não sabíamos editar, demorou muito para ficar pronto. Assistimos tutorial de edição. Foi um horror! Nunca imaginaria que disso tudo sairia o vídeo mais visto do meu canal”. No entanto, Maíra conta que ficou assustada com a repercussão. “A música falava de coisas tão básicas, não achei que fossem curtir tanto, porque são ideias óbvias. Muitas pessoas me chamaram de feminazi. E diziam isso porque eu estava falando que o dever da mulher não era lavar a louça”, comenta.
Para ela, o feminismo é duro, mas necessário. Junto com as informações e questionamentos, as jovens percebem um mundo mais cruel. “Depois que você começa a ler sobre a liberdade sexual da mulher, sobre estupro e sobre aborto, por exemplo, um outro mundo aparece. Esse lugar novo não é bom, às vezes a gente se pergunta por que abriu os olhos. Mas é uma dor necessária. O que adianta ser feliz sem enxergar o mundo ao seu redor? ”, indaga. Ao ser despertada pelo movimento, Maíra passa a se defender de atitudes que antes se calava. Pelo machismo, precisou se privar de algumas coisas na vida. “Eu só vou em balada LGBT. Meu marido não gosta de festa e acabo indo com as amigas. Quando esbarro com algum hétero, passo cinco minutos explicando que sou casada e, por isso, não posso beijá-lo. Já pediram para ver aliança. Por que eu preciso provar para alguém que ‘tenho um dono’? Tenho que ouvir que, se fui para uma festa, estou ali para ficar com um rapaz. A última que fui, seguranças vieram separar uma briga minha com um homem. Porque eu não fico mais calada, me defendo. O cara tem que saber que está errado”, alerta.
Por ser sincera e expor suas verdades nas redes sociais, a influenciadora acumula alguns haters. Ela afirma que todos que se expressam negativamente são machistas e, por isso, prefere se calar. “Algumas pessoas não criam um canal, porque têm medo de ser criticado, mas precisam entender que em qualquer lugar vão ser julgados. Então, que sejamos censurados porque falamos o que pensamos. Para um hater, há cem escrevendo coisas boas”, lembra. O importante para Maíra é estar levando informação para seus seguidores e diz não se importar com a quantidade de visualizações. “O que me faz continuar é saber que a informação é a ferramenta número um da desconstrução. Se eu parar de me expor, os haters vão ter vencido e estou parando de levar conhecimento a todos do meu canal”, opina.
Formada em Publicidade e Propaganda, possui quase 500 mil inscritos em ‘Nunca te pedi nada’. Antes da fundação do canal, Maíra trabalhava, desde 2012, com criação de conteúdo para a internet. “Eu avaliava as redes e escrevia para blogs adaptando o conteúdo para outra mídia. É quase o mesmo caminho só que agora trabalho para mim mesma. É libertador”, assegura. Atualmente, dedica-se exclusivamente ao seu portal da internet. Por isso, prevê muitos projetos para o futuro, mas, por enquanto, prefere viver o momento. “Eu sou geminiana. Crio projetos o tempo todo. Já me pediram para escrever um livro, mas isso não quero. Se fosse para fazer algo assim, queria criar uma mensagem, algo que possa ajudar as meninas. Quero fazer palestras, mas preciso ter um embasamento. Meu sonho é continuar o POR QUE MULHER. Mas esse quadro é uma parceria do Think Olga com o YouTube, mas não posso continuar sozinha sem a autorização”, finaliza.
Artigos relacionados