Maiores nomes da música se unem para ajudar Leny Andrade: ‘Me sinto feliz e nunca cantei porcaria’, diz a diva do jazz

*Com Brunna Condini

Quem é rainha não perde a majestade. Aos 78 anos recém completados em 26 de janeiro, Leny Andrade, diva do jazz e uma das maiores intérpretes do gênero do nosso país é a ilustre participante da nossa série ‘O Que Tenho Vivido?’. E precisa da sua ajuda, leitor! A cantora está extremamente agradecida pela união de 17 nomes do Olimpo da nossa música que farão a live especial pela arte e para Leny Andrade, hoje, às 21h, no YouTube do Blue Note Rio e São Paulo, terá renda revertida que possa ajudar na manutenção dos cuidados com a cantora. A jazz woman tem todo o acolhimento no Retiro dos Artistas, mas a aposentadoria é ínfima para manter os cuidadores que estão full time com ela.

A ação solidária contará com participações especiais de Cesar Camargo Mariano, Cris Delano, Carlos Lyra, Quarteto do Rio, Joyce Moreno, Paula Morelenbaum, Jaques Morelenbaum, Maucha Adnet, Wanda Sá, Gilson Peranzzeta, Mauro Senise, Roberta Sá, Roberto Menescal, Ivan Lins, Mônica Salmaso, Teco Cardoso e Marcos Valle. “Me emociona muito ver os amigos se mobilizando. Esses então… são muito lindos em fazer isso para mim. E, depois, é todo mundo muito talentoso, de primeira linha”, diz, comovida. “São mais de 50 anos de carreira. Parei de contar (risos). Mas digo que a emoção quando subo ao palco ainda é a mesma e com aquele frio na barriga. O sentimento que vem quando eu canto nunca mudou”, pontuou nossa Leny Andrade.

“Sou uma pessoa que gosta de viver com simplicidade. Muitas coisas me fazem feliz, como beber meu café puro, gostoso, por exemplo. A vida é boa” (Reprodução Instagram)

A artista conversou com a gente direto da sua casa no Retiro dos Artistas, em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio, onde está morando desde o início de 2019, quando deixou o apartamento alugado em Botafogo. À época foram os mesmos amigos e Stepan Nercessian, que  está à frente do Retiro dos artistas que articularam a mudança. E ela nos contou: “Tudo tem sido maravilhoso aqui. O ambiente é extremamente agradável. Tudo gira em torno da cultura e da paz”. A adaptação não foi algo que a incomodou. Muito pelo contrário. “Existe muita vida e amor aqui dentro e eu gosto de chamar o local de condomínio. Sou tratada feito rainha. Aqui nos servem as melhores refeições e diversas vezes por dia. Tudo é feito com bom gosto e muito carinho”, ressaltou a cantora.

Com a humildade e a sabedoria dos grandes gênios das artes, ontem, ela voltou a frisar: “Eu me considero feliz. Sou uma pessoa que gosta de viver com simplicidade. Pequenas coisas me fazem feliz, como beber meu café puro, gostoso de manhã, por exemplo. A vida é boa”. Leny já foi vacinada contra a Covid-19 como outros moradores do Retiro. Com seu olhar solidário e de quem acredita ainda no ser humano, ela diz que, depois da pandemia, nada mais será como antes. “As pessoas começaram a olhar mais para as outras. Esse vírus veio para revolucionar a cabeça da gente, de quem se abrir. Já tomei a segunda dose da vacina. A sensação é boa, de dever cumprido comigo e com o mundo”.

Uma das maiores cantoras intérpretes do jazz, Leny Andrade soube dar a mão ao próximo e agora colhe o que plantou” (Reprodução)

Leny Andrade é internacionalmente conhecida pelo legado de uma vida inteira levando aos quatro cantos do mundo o melhor da nossa música e também interpretando canções dos imortais do jazz. Em 2019, ela comemorava o trabalho em um novo disco e uma carreira que reúne mais de 30 títulos e dezenas de parcerias. Sempre fez questão de ressaltar adorava fazer ecoar sua voz nas noites: “Sou uma cantora de casa noturna e tenho apreço por isso. Em todos os locais onde já me apresentei, fui bem recebida e muito bem tratada”, disse.

Elegante, sempre mostrou o potencial da força da mulher sem precisar de frases estereotipadas. “Quando comecei a carreira, eu ia a todos os lugares acompanhada pelo meu pai, pois era menor de idade. Ele sempre esteve por perto. No decorrer do percurso, eu conquistei meu espaço com respeito. Mas eu sei que os avanços conquistados pelas mulheres dentro e fora do palco foram árduos e ainda há muito por fazer. O amor do público é uma riqueza sem fim para mim”.

A cantora contou ainda, o que costuma fazer antes de cada apresentação: “Nunca tive rituais. Mas não bebo. Não bebo para cantar, por exemplo. E rezo para o meu anjo da guarda. O resto, é uma maravilha, é aproveitar”.

A cantora no lugar que mais gosta de ficar, o palco: “Rezo para o meu anjo da guarda. O resto, é uma maravilha, é aproveitar” (Arquivo/Reprodução)

Afeto e acolhida

E para a alegria de todos Leny Andrade participará da live. Que músicas não podem faltar? “Ah, são tantas. Uma vida cantando músicas e esses parceiros… tão talentosos”. E depois de uma pausa, ela começa a cantar um trecho de ‘Batida Diferente’, de Durval Ferreira, e sucesso desde a bossa nova, nos anos 60, com sua voz: “Veja como bate engraçado o meu coração assim/Bate realmente sincopado/Vem ouvir aqui/Mas bem pertinho de mim”. O coração da repórter bateu forte do outro lado da linha. E a cantora continuou: “Se do coração batida diferente faz você vibrar/Eu vou lhe mostrar que o meu coração/Tum tum tum tum tum pode variar”.

E acrescentou: “Também quero cantar ‘Beijo Distraído’, do Durval Ferreira e da Regina Werneck”.

E vamos voltar à intimidade de Leny Andrade, no Retiro dos Artistas. Ela conta que se sente acolhida no espaço. “Moro em uma casa boa, de dois quartos, tenho ar condicionado, me tratam muito bem. Faço atividades físicas, como pilates, que adorei. Sou recompensada por morar aqui. Me tratam super bem. São minha família hoje”, divide a cantora, que perdeu a mãe e o irmão há algum tempo e não teve filhos.

“Olho para a minha carreira e vejo que não cantei porcaria. Não cedi às tentações para que eu gravasse o que não queria” (Arquivo/ Reprodução)

A artista revela ainda que tem nas acompanhantes Valéria Balbino e Rosana Dutra duas amigas. “Não vivo sem a Valéria. E ela trouxe a Rosana, que é maravilhosa. A Valeria conhece tudo que gosto, é mais que uma companhia. No meu dia a dia gosto de assistir novelas, além das atividades aqui. Tenho gostado de uma que passa cedo, alguma coisa do Caribe (‘Flor do Caribe’). É uma história bonita”.

Leny e acompanhante Valeria Balbino: “Não vivo sem a Valéria. Ela conhece tudo que gosto, é mais que uma companhia” (Arquivo pessoal)

A dona das interpretações mais singulares na nossa música e do jazz contabiliza: “Olho para minha carreira e gosto. Não cantei porcaria, nem cedi às tentações para que eu gravasse o que não queria. Escolhi o que cantar, sempre pude. E isso é um privilégio. Tenho tantas recordações maravilhosas. Uma vez na Rádio Nacional, as fãs do Cauby (Peixoto), e da Linda e da Dircinha Batista me pegaram no colo. De adoração. Acho que não existe carinho melhor que o do fã. Ele vem diferente, bate em nós em um lugar especial. Continuo a mesma Leny, aquela aquariana que gosta de juntar as pessoas e que vai cantar até quando der. Enquanto conseguir, vou seguindo”.

E nós, acompanhando, diva.