*Por Rafael Moura
Com um traço único e mais de 50 anos de prancheta, o ilustrador José Luiz Benício da Fonseca, o Benício, é uma lenda viva na publicidade brasileira. Famosíssimo no meio por inúmeras peças publicitárias, por desenhos de figuras femininas dignos de fazer os homens melarem a cueca e pelos mais de 300 cartazes de filmes brasileiros, incluindo os antológicos “A Super Fêmea”, “Dona Flor e Seus Dois Maridos” e todos da franquia “Os Trapalhões”, o artista agora empresta seu traço inconfundível à Cicero, em uma noite de autógrafos na Blooks Livraria, em Botafogo. Explica-se: a marca é fabricante dos badalados cadernetinhas de capa dura que fazem a alegria do povo fashionista e dos jornalistas antenados.
Claro que as lindas mulheres onipresentes em sua obra não poderiam ficar de fora nesta primeira coleção de bloquinhos. Logo de cara, ele inseriu no projeto um time de fêmeas que são a cara do pecado, com destaque para sua magistral idealização da beleza feminina, a dublê de espiã e sexy girl Brigitte Montfort, dotada de cabelos negros, fulminantes olhos azuis e curvas mais perigosas que a Serra da Mantiqueira, estrela absoluta daqueles livrinhos de bolso que povoavam o imaginário masculino nos anos 1960/1970. Brigitte é um daqueles típicos casos de mulher criada à base de nanquim e aquarela líquida, mas capaz de levar qualquer marmanjo de carne e osso à pura perdição. Perto dela, Jessica Rabbit não passa de uma freirinha inocente, daquelas que toca violão em encontros de jovens promovidos pela Igreja.
Mais que uma simples coleção, a linha de moleskines é um verdadeiro tributo à feminilidade arrebatadora e à obra do mestre Benício. “O maior ilustrador do Brasil veio dos cartazes… Sempre que os via ficava perguntando quem era, então descobri que ele ainda estava na ativa e rapidamente pensei numa forma de eternizar esse traço como uma grande homenagem”, conta Cícero Pedrosa, um dos donos da marca.
Pianista na adolescência, o ilustrador abandonou a música para se dedicar inteiramente ao desenho em uma carreira de mais de meio século, pontificada por milhares de capas de livretos de bolso, mais de 300 cartazes do cinema nacional e centenas de capas de disco, além de anúncios de publicidade e ilustrações de livros.
“Eu descobri o desenho como uma das minhas grandes paixões e me dediquei demais… São mais de 50 anos de prancheta, então fico muito feliz com esse reconhecimento. O que eu faço é fruto e produto da minha dedicação ao desenho”, conta Benício, orgulhoso.
Começando na carreira como aprendiz de desenhista em Porto Alegre com apenas 16 anos, transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1953, passando a trabalhar nos departamentos de arte de agências de publicidade e na antiga Editora Rio Gráfica que, anos mais tarde, virou a Editora Globo. Benício chegou a ilustrar histórias em quadrinhos, mas nunca se considerou apto para isso. A partir de 1961, começou a trabalhar para a McCann Erickson Publicidade e fez importantes trabalhos para a Coca-Cola e Esso, entre outras.
No fim de 2012, a editora Opera Graphica lançou “E Benício criou a mulher …”, do jornalista Gonçalo Junior, que conta a trajetória pessoal e profissional do artista, trazendo mais de 200 ilustrações feitas por ele para diversos veículos ao longo das décadas. O livro é uma obra atualizada, revista e ampliada de “Benício – Um perfil do mestre das pin-ups e dos cartazes de cinema”, do mesmo autor, lançada em 2006.
Em tempo, a marca acaba de lançar dois bloquinhos da linha “Cícero Moda”, que vem com um gabarito de croqui, com o traço elegantíssimo da diretora criativa do Cantão, Lanza Mazza.
Fotos: Derek Mangebeira/ divulgação
Serviço:
Formato: 14×21 cm
Sugestão preço: R$ 40,00
Contato: (21) 2201-2155
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