Foi na unidade de Duque de Caxias – a pioneira de uma linda história – que Rosilane Jardim lançou a nova coleção da Karamello, inspirada na “Mãe Natureza”. O local não poderia ser mais descritivo, já que a marca, assim como sua fundadora, nasceu e se desenvolveu bem ali: no centro do município da baixada fluminense. Rosilane e sua Karamello conquistaram seu lugar no mundo, mas os pés são fincados nas raízes, como a empresária faz questão de destacar. “Nasci, cresci, me casei e trabalho em Caxias todos os dias. Esse lugar foi que me deu a possibilidade de enxergar o mundo. Quero que a Karamello seja vista como uma marca agregadora. Estar em Duque de Caxias e fazer um evento aqui é fundamental para que as pessoas vejam minha raiz”, disse ela, que faz questão de levar moda de qualidade para a baixada. “É um lugar onde as pessoas não tem tantos eventos legais e eu queria trazer gente e mostrar que é uma cidade de pessoas interessantes. Não tem que ter barreiras, podemos fazer coisas legais em qualquer lugar. É só uma questão de ponto de vista. Longe é um lugar que não existe, é assim que eu penso. A Karamello reflete essa mudança de comportamento que as pessoas precisam ter. Não precisamos nos limitar a um espaço geográfico”, defendeu.
Aliás, limites não existem para a marca que faz questão de ser sempre democrática: “Vendo do PP ao GG e estou em todos os cantos da cidade. Não quero separar as pessoas, pelo contrário, gosto de agregar. Não acho que existe ‘a moda da baixada’ separada. O que a Karamello começou há dez anos aqui, nessa loja, foi proporcionar acessibilidade de informação para as pessoas. O consumidor estava sedento, precisando de ajuda e o que fizemos foi o que muitas marcas renegavam, porque não querem ter esse histórico de consumidores na baixada. Mas eu me orgulho disso, aqui tem muita gente legal e é a minha essência”, disse Rosilane, endossada por Michelle Teodoro, da sua equipe de estilo. “A Karamello gera emprego na baixada, é muito importante isso e a marca tem esse posicionamento. A Rosilane é de Caxias e ela gosta de dar oportunidade para quem é da baixada. Eu mesma, cheguei na marca como assistente de estilo e três meses depois já estava como estilista. Isso independe de eu ser da baixada, negra ou qualquer outra característica. A Rosilane enxergou meu talento e dinheiro nenhum paga isso”, ressaltou.
E Rosilane sabe de sua importância: “Já entendi que é uma missão e não posso me abater com as dificuldades. Temos o poder e ele precisa ser explorado. Quando a gente quer algo, 50% já alcançamos porque queremos e os outros dependem do quanto nos empenhamos. Aqui na Karamello nós queremos alcançar cada vez mais pessoas. A moda pode segregar e discriminar, mas também tem poder de unir, é contraditória. Sou profissional da moda mas não entendo a minha profissão como uma agregadora de coisas excêntricas e fúteis. Ela é gerador de emprego, de questionamentos, é o posicionamento que as pessoas podem ter através do que vestem. Esse é o caminho que eu escolhi na moda. Agregar, somar”, destacou ela.
Um caminho florido. Literalmente, aliás. A nova coleção, inspirada pela “Mãe Natureza”, é quase que uma ode às mulheres já que o corpo feminino é perfeitamente conectado com o ambiente ao redor. Mas, mais do que isso, serve para lançar uma luz na questão da preservação ambiental. “A coleção tem a essência da marca. É colorida, com estamparias, eu misturo tudo. O fundamental dessa coleção é a reflexão sobre a natureza que nós não cuidamos. A indústria têxtil, de maneira geral, explora tudo, mas, ao mesmo tempo, vivemos disso. Ao mesmo tempo, trouxe para a coleção muitas fibras naturais, algodão orgânico, linho, a própria viscose, que também é uma fibra natural. Quisemos trazer esse entendimento que a Karamello tem como DNA seus três pilares: conforto, qualidade e felicidade. Isso já é o que eu faço, mas quis reforçar, porque cuidar da natureza também faz parte. Quisemos fazer um tributo a algo que não morreu, mas está quase, e chamar atenção para isso”, contou.
Ou seja: para Rosilane, a moda tem como obrigação servir de engajamento social. “É uma forma de comportamento e todas as questões tem que ser faladas. Fizemos nossa convenção na floresta da Tijuca para que eu trouxesse para a minha equipe uma reflexão. Nós estamos no Rio de Janeiro e temos uma floresta que gera oxigênio para essa cidade. Cerca de 80% da minha equipe não conhecia esse lugar. É surreal morar nessa cidade e não saber o que temos. Essa é uma coleção que a gente fala de pertencimento. Precisamos pertencer aos espaços, entender que eles podem nos ser favoráveis, mas que precisamos cuidar deles. Quando falamos de tudo isso através de um produto atemporal, que é o que eu faço, é muito sutil, mas acho que a minha cliente está entendendo”, analisou.
E como! Juliana Luna, sócia do Project Tribe, que incentiva o empoderamento feminino idealizadora do Projeto 5, um coletivo de moda que propõe uma forma mais colaborativa de vestir e criar sensações graças ao seu DNA de referências multiculturais conquistadas ao longo da vida, é cliente fiel da marca e analisou: “A homenagem à natureza é genial. Realmente perdemos essa conexão. A mulher é muito conectada com a natureza, nossos ciclos menstruais são coordenados com ciclos lunares e isso influencia no nosso humor e na forma como nos expressamos para a sociedade. Nós nos desconectamos disso. Fazer uma homenagem à natureza é nada mais, nada menos, do que reconhecer sua feminilidade”, disse ela, que se apaixonou pelas cores e estampas da coleção “Mãe Natureza”. “A criatividade do colorido e da mistura de texturas é linda. É muito legal ver uma marca que nasceu na baixada ter esse destaque e continuar criativa e ousada. Ela faz com que as mulheres se sintam assim, é parte de uma comunicação. A moda é uma mensagem e é bom ver que marcas como a Karamello tem esse tipo de atitude”, elogiou ela, que, após morar em diversos países ao redor do mundo, destacou a ousadia de Rosilane em lançar uma coleção em Duque de Caxias. “É corajoso da parte da Rosi, porque as pessoas têm uma visão de que a baixada não tem tanto valor. Reconhecer o valor desse lugar é uma atitude nobre e manda uma mensagem clara para a moda: de que a marca se desenvolveu, cresceu e nasceu aqui e está forte e firme nas raízes. Gosto de quem tem orgulho de onde veio”, disse.
Carol Rabello, jornalista e cliente da marca, também ressaltou a conexão com a natureza na nova coleção. “Vivemos em uma época tao difícil para a sustentabilidade que ver, de fato, alguém colocar isso em prática ainda mais no mercado de moda que trabalha com coisas tão poluentes é incrível. Levantar essa questão e executá-la, de fato, é muito legal e valoriza a economia criativa”, afirmou. Moradora do Méier, Carol elogiou o lançamento fora do eixo da Zona Sul da cidade. “Começar a quebrar padrões de eventos na Zona Sul é um passo importante para a luta de tantas pessoas por representatividade”, destacou ela, que se apaixonou por diversas peças da nova coleção. “É totalmente dentro da proposta que a Karamello sugere, de handmade, evocar a natureza. A cartela de cores é muito interessante. Eu achava que não gostava de tons pastéis e estou amando”, revelou.
Débora Matulevicius, uma das estilistas da marca, se despede do cargo que ocupa há dez anos após o lançamento dessa coleção. “Estou saindo com o coração tranquilo, mas arrasada. Cheguei na Karamello e era só eu, foi surgindo todo mundo e posso dizer que a marca sempre foi muito pé no chão. Cada dia era um novo passo e realmente está conquistando seu lugar ao sol. A Rosilane é empreendedora e tem um coração incrível. Tudo o que aprendi foi com ela e realizei muitos sonhos dentro da empresa”, destacou ela, que está de mudança para o Canadá. “Eu comecei na Karamello há dez anos como assistente e fazia tudo. O objetivo da Rosilane é criar as pessoas dentro da empresa para crescerem e prosperarem. Todos galgam dentro da Karamello, na fábrica também é assim”, disse. A coleção “Mãe Natureza”, assim como todas as outras, foi acompanhada de perto por Rosilane. “Ela sempre fala do inconsciente coletivo, mas já não busca mais onde todos buscam. Ela pensa naquilo, escolhe todos os temas da coleção pessoalmente e desenvolve com muito carinho. É a Rosi quem aprova cada produto, tudo é feito muito de perto para a cliente dela”, contou.
Michelle Teodoro bate na mesma tecla de Debora: “A Rosi é a cabeça pensante de tudo isso. Quisemos falar do ser natural e de como a natureza nos inspira. A Karamello já trabalha há algum tempo – é muito difícil, realmente não é fácil querer ser uma marca que siga todos os padrões de assertividade, não ser tão poluente, não degradar o mundo – mas nós apostamos demais nisso. Tanto no reaproveitamento máximo dos tecidos, descarte de material, investir em tecidos orgânicos que sabemos que são feitos na linha de sustentabilidade. Acho que toda a cadeia da moda está evoluindo e a Karamello se posiciona de forma bacana em relação à sustentabilidade”, disse ela, que, novamente, endossou a questão da integração na baixada. “Ter uma loja perto do seu cliente já é muito bacana, da pessoa ter acesso próximo, comprar perto de casa, não gastar combustível. Tudo isso já é um elo sustentável”, analisou ela, que trabalha na área de desenvolvimento de acessórios. “Mas todo mundo faz tudo. Na Karamello a gente aprende muito sobre produção, estoque, arremate, a engrenagem da moda como um todo. É legal porque você desenvolve e pensa em um produto e consegue acompanhar todo o trajeto dele. Para o estilista, é muito importante esse contato e ver a engrenagem e como a roda gira é fundamental”, afirmou.
De fato, a marca se conecta com todo tipo de pessoas e linguagens. “E queremos expandir ainda mais as conexões. Meu próximo passo, em breve, é abrir uma loja em São Paulo. Mas o desafio maior da Karamello é fazer as pessoas que pensam diferentes se sentirem iguais. Já entendi que eu posso fazer isso. É difícil, mas posso ser um canal de associação de pessoas. Não gosto de gente se desconectando, meu papel como marca é reunir gente interessante e que juntos possamos fazer uma grande transformação. Falta amor e parceria no mundo e a Karamello quer dar sua parcela desses valores importantes para uma sociedade que quer evoluir”, defendeu Rosilane. Com sua loja cheia após uma tempestade no Rio de Janeiro, ela sabe: vem conseguido cumprir seu objetivo com louvor: “Estou muito feliz. As pessoas se empenharam muito para estarem aqui, porque choveu realmente muito. Mas todo mundo que veio, veio porque queria muito estar. Isso é motivo de muito orgulho. Gosto de saber que a gente consegue mexer no inconsciente das pessoas. Quem está aqui fala a minha língua, entende esse universo e tem mensagens importantes para transmitir”, contou. A gente sabe.
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