*Por Brunna Condini
Eterna musa do carnaval, Luma de Oliveira já espalhou aos quatro cantos que desfilar não é mais uma opção. Considerada a ‘dona da Avenida’ durante muitos anos de folia- principalmente entre os anos de 1987 a 2009, quando ‘reinou’ em escolas como a Portela, Caprichosos de Pilares e Viradouro – ela considera seu ciclo em desfiles finalizado com sucesso. Luma curtiu a Sapucaí este ano de camarote e diz que não sente saudade de outros carnavais.
Acredito que se tem saudade de algo que ficou muito no passado, e que de nenhuma forma, a gente expresse ou vivencie. Não é o meu caso, porque continuo com as grandes amizades que fiz no samba. Ainda estou neste mundo e quando vou para a Avenida assistir, é uma forma de participar, não assisto quietinha em um canto – Luma de Oliveira
Discreta como de costume, ela também fala ao site sobre os planos de uma possível biografia. “A ideia do livro surgiu no início da pandemia, em 2020. Mas considerei necessário amadurecer a ideia, pensar em uma equipe bacana para me ajudar a realizar. Tenho refletido sobre esse projeto. Não que esteja descartando escrever, mas um ponto crucial de reflexão, tem sido se esse livro vai fazer diferença na minha vida e de quem ler. Decidi pensar melhor sobre isso, porque para fazer mais do mesmo, não acho que valha a pena”, pondera, deixando dúvida e muita curiosidade no ar.
Sua última presença riscando a Marquês de Sapucaí foi pela Portela, como rainha da bateria no desfile de 2009. Por isso, o público até esperou vê-la este ano na azul e branca de Madureira que celebrou seu centenário na Sapucaí, trazendo musas de outros carnavais, mas não rolou. Ao que parece, Luma não quer mesmo saber mais de desfilar.
Levando em consideração que comecei a sair em alas da Portela aos 16 anos, desfilo há muito tempo. Já fui ‘rainha’ de várias escolas, até atrás da bateria já sai, na Mangueira. Também fui enredo na Estácio de Sá, então acho mesmo que esse meu ciclo já foi todo muito bem feito. Tudo tem um início, um meio e um fim. Acho bom que aconteça desta forma – Luma de Oliveira
E recorda: “É impossível destacar um desfile. Foram muitos e cada um é único. Mas tem uma situação marcante que passei, por minha escolha, para estar na avenida. Em 16 de dezembro de 1995, meu filho mais novo, Olin, nasceu. Então, em dois meses fiz um cronograma muito fechado, para que pudesse amamentá-lo e conseguisse estar no carnaval. Foi possível fazer o desfile e voltar correndo para ficar com ele. Dei toda atenção ao meu filho e toda atenção à bateria. Foi inesquecível”.
Aos 58 anos, Luma é considerada uma das mulheres mais bonitas do Brasil, desde sempre, e fala, sem melindres, sobre como tem lidado com o passar dos anos: “Acho uma perda de tempo ficar pensando nisso. Seja pensar no tempo que passou ou o que vai vir, então não me ocupo dessa questão. Até porque tem coisas que se você coloca a sua energia, acaba não vivendo, não realizando o que deseja. Não penso no passado, no que poderia ter feito ou não. E em relação ao futuro, não me jogo muito para lá, porque meus planos sempre foram de curto e médio prazo. Vivo muito o hoje, para ter uma melhor qualidade do tempo em que estou”.
Tão longe, tão perto
“O que me orgulha nessa trajetória com o samba, é o amor, que é genuíno, aí você se entrega. As pessoas começaram a me ver nos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, mas o meu amor por carnaval é muito mais antigo. Já desfilava em bloco de rua aos 6 anos. É uma história que só se consolidou com o tempo. Tenho muito orgulho também das amizades maravilhosas que fiz com os artistas do samba. Eu nunca larguei a mão deles e eles nunca largaram a minha. Um fato relevante é que na pandemia tudo o que pude fazer para ajudar as pessoas, fiz. Fizeram um projeto para ajudar os mestres-sala e porta-bandeiras e arrematei em um leilão uma bandeira assinada por todos eles. Me envolvi em outros projetos também, que não vem ao caso ficar divulgando. No samba falamos assim: ‘eu sou, porque nós somos’. Estou mesmo sempre por perto”, diz, citando a frase da filosofia sul-africana Ubuntu.
De rainha para rainha
Longe dos desfiles, mas sempre de olho no carnaval, Luma declara: “Acho que uma rainha de bateria que mais se destaca é a Evelyn Bastos. Ela está há 10 anos à frente da bateria da Mangueira e a acho completa. Samba com propriedade, é lindíssima, tem muita luz, é segura. Ocupa muito bem o seu espaço e ainda por cima, é presidente da Mangueira do Amanhã. Na minha opinião, tudo isso faz com que ela seja gingante na avenida”.
Ativista da causa animal
Com amor declarado aos animais, em 2021, ela adotou no Instituto Onça-Pintada (IOP), uma onça chamada Coragem. Luma se sensibilizou com a história da felina, que foi resgatada ainda bebê, já órfã e bem debilitada. Ela adotou Coragem e se prontificou a financiar os cuidados com o animal. “Levantei essa bandeira para ajudar na preservação das nossas onças, porque é uma pauta importante e urgente. Dentro desta causa, existem todos os animais que precisam do nosso cuidado e respeito, mas o foco nas onças, é porque é uma espécie silvestre que pode entrar em extinção em muito pouco tempo. Então, faço questão de conversar com as pessoas sobre o tema. A conscientização é fundamental”.
Artigos relacionados