Luiza Brunet se declara aos filhos em cartas exclusivas, desabafa sobre violência infantil e reflete sobre maternar


Com a proximidade do Dia das Mães, no próximo domingo (12), dedicamos o mês para matérias que exaltam o maternar em sua pluralidade. Na série ‘Tudo o que eu queria te dizer’, convidadas compartilham suas experiências, fazem reflexões e escrevem cartas diretamente para seus filhos. Luiza, mãe de Yasmin Brunet, 36 anos, e de Antônio Fernandez, 27, revisita a chegada dos dois ao mundo, deixando falar alto o que gostaria que ficasse registrado em suas memórias afetivas. A ativista e palestrante também divide a importância da maternidade em sua trajetória. “Sempre quis ter filhos, na verdade queria ter muitos filhos. Acho que foi o exemplo da minha mãe, que ficou grávida oito vezes, mas acabou perdendo dois filhos muito jovem. Nunca entendi como uma mãe suporta a perda de um filho, ainda mais de dois. Justamente porque a maternidade é uma coisa tão especial, tão esperada. Os filhos são a nossa extensão, o nosso legado. Esse desejo dessa continuidade insana de poder perpetuar a nossa história”. Luiza irá a Orlando falar em um congresso “como vítima da violência que sofri na primeira infância, e dos casos de denúncia de mulheres que recebo, abusadas, na infância e na adolescência. Vai ser um evento grande, com gente do mundo todo”

*Por Brunna Condini

Prestes a completar 62 anos em 24 de maio, Luiza Brunet está no auge da sua potência feminina. Ou em um dos seus ‘auges’, já que somos todas feitas de muitas versões nossas ao longo da vida. Empresária e ativista, mãe de Yasmin Brunet, 36 anos, e de Antônio Fernandez, 27, ela fala com exclusividade para nossa nova série, ‘Tudo o que eu queria te dizer’, na qual nossas convidadas compartilham as alegrias e os desafios da maternidade, e falam com seus filhos, através de cartas, para que possam ler hoje e tê-las no futuro, como um registro de afeto para a posteridade.

Aqui, Luiza analisa seus sentimentos íntimos sobre maternar. “Eu sempre quis ter filhos, na verdade queria ter muitos filhos. Acho que foi o exemplo da minha mãe (Alzira), que ficou grávida oito vezes, mas acabou perdendo dois filhos muito cedo, um com dois dias de vida e outro com nove meses. Foi muito sofrimento em casa por conta dessa perda. Nunca entendi como uma mãe suporta a perda de um filho, ainda mais de dois. É uma dor que eu não consigo nem dimensionar o tamanho. Justamente porque a maternidade é uma coisa tão especial, tão esperada. Os filhos são a nossa extensão, o nosso legado. Esse desejo dessa continuidade insana de poder perpetuar a nossa história. Porém, muitas mulheres preferem optar por não ter filhos, e isso deve ser respeitado, não deve ser uma questão. Falo de mim, que desejei muito ser mãe”, divide.

Luiza Brunet se declara aos filhos, falando das alegrias e dificuldades da maternidade, e revisitando sua história com eles (Foto: Reprodução Instagram)

Luiza Brunet se declara aos filhos, falando das alegrias e dificuldades da maternidade, e revisitando sua história com eles (Foto: Reprodução Instagram)

Luiza fala com paixão da agenda do ativismo que encara como missão. “Tenho algumas viagens internacionais para participar de eventos para a comunidade brasileira nos Estados Unidos e na Europa. E vou participar novamente de um evento grande na FIFA para falar sobre violência de gênero e outros assuntos. A temática foca na violência contra a mulher, mas vai além disso, quebrando paradigmas. Além disso, tem o convite que recebi para falar em Milão e em Roma. Também vou passar uns dias novamente na fronteira da Venezuela com o Brasil, com a Michelle Barron, gerente sênior de Programa da OIM (Organização Internacional para as Migrações), por conta desse meu interesse pela questão imigratória, que é grande”.

Luiza Brunet em uma das suas palestras pelo Brasil (Foto: Reprodução Instagram)

Luiza Brunet em uma das suas palestras pelo Brasil (Foto: Reprodução Instagram)

Sobre se envolver em projetos relevantes e que levem informação para o Brasil e mundo afora, ela completa: “Faço parte de uma organização contra o tráfico de pessoas, violência doméstica e violência infantil, situada em Orlando. E agora vai acontecer o congresso internacional científico e acadêmico de prevenção e combate à essas violências, na Flórida, na primeira semana de novembro. Esses são temas importantes e que precisam de mais atenção. Falo como vítima da violência que sofri na primeira infância, e dos casos de denúncia de mulheres que recebo, abusadas, na infância e na adolescência. Vai ser um evento grande, com gente do mundo todo. Pelo Brasil, faço eventos toda semana. É isso que me move hoje”.

Luiza Brunet com os filhos Antônio e Yasmin : "Sempre quis ser mãe" (Foto: Armando Borges - Acervo)

Luiza Brunet com os filhos Antônio e Yasmin : “Sempre quis ser mãe” (Foto: Armando Borges – Acervo)

Carta para Yasmin

“Yasmin,

Você foi uma criança muito desejada, amada desde o momento que eu soube que estava grávida. Aliás, eu estava no auge da minha carreira de modelo, aos 26 anos, morando em Nova Iorque, trabalhando demais, e fiquei muito feliz quando soube da sua gravidez. Fiz um teste em casa mesmo e fiquei muito emocionada de saber que seria mãe pela primeira vez. 

A minha gravidez foi linda, eu estava me sentindo maravilhosa, bonita, saudável, me cuidei demais, mas no parto não tive dilatação, então passei por um processo doloroso, de muito medo, mas você nasceu saudável e foi maravilhoso te segurar pela primeira vez nos meus braços. Ter um filha era um sonho desde criança. Eu amava brincar de boneca, era uma menina caipira do interior, da roça, e poder te pegar no colo, anos mais tarde, como se fosse uma boneca, foi algo extraordinário. Fiquei tão alucinada pela maternidade que não quis ajuda, não quis babá, cuidei de você sozinha. Também te amamentei durante muito tempo.

Yasmin Brunet ainda criança, ao lado da mãe, Luiza (Acervo pessoal)

Yasmin Brunet ainda criança, ao lado da mãe, Luiza (Acervo pessoal)

Tinha todos os cuidados para que você fosse uma criança saudável, forte. Eu tinha muito cuidado com a sua alimentação, te levava para o balé, para tomar o banho de sol na praia. Minha filha, você era mesmo uma bonequinha. Lembro que eu te levava para a escola de bicicleta todos os dias. Você era minha menininha, minha Yasmin. E quando olho pra trás e vejo toda dedicação que tive à maternidade, tenho certeza absoluta que tudo valeu a pena.

Você se transformou em uma mulher muito forte, consciente. Todos os preceitos que te ensinei, absorveu muito bem. Se tornou independente desde cedo. Aos 16 anos, pediu para morar fora do Brasil e deixamos. Tive que ter coragem para te emancipar, entendendo que aquilo seria importante para sua autonomia, sua independência emocional, para te fortalecer, para você sentir-se única como é, sem comparações comigo, coisa que já acontecia na época.

Você morou durante 12 anos em Nova Iorque e fez sua carreira, sua história. Fugindo um pouco daquele estereótipo de ser filha de uma mãe conhecida, super modelo, empresária e tal. Sei que esse processo foi de muita cobrança para você e te acho extremamente corajosa por ter ido em busca do seu próprio caminho. Tenho muito orgulho de quem se tornou, da sua determinação, potência, da sua essência, que é sua marca. E desejo que quando ler essa carta, possa entender um pouco melhor o quanto a maternidade pode ser maravilhosa e dolorosa, principalmente quando precisamos nos desvincular dos filhos, como tive que fazer com você durante um período, respeitando a sua construção de uma identidade própria. Então, saiba que meu respeito e admiração por você são enormes. Te amo imensamente. Conta comigo na vida sempre, minha filha”.

Yasmin e Luiza Brunet hoje (Foto: Reprodução Instagram)

Yasmin e Luiza Brunet hoje (Foto: Reprodução Instagram)

Carta para Antônio

“Antônio,

Você foi uma gravidez sonhada. Eu literalmente sonhava que estava grávida. Eram sonhos em que eu aparecia com uma barriga enorme e descobria que estava grávida de um menino. Na vida real, eu não conseguia ficar grávida. Demorei mais ou menos 10 anos para engravidar de você. Até que um dia, passando férias em Ibiza no verão, descobri sua gravidez. Quando soube que era um menino, foi outro sonho realizado, já que eu queria muito ter um casal de filhos.

Na sua gravidez estava muito saudável, me senti novamente maravilhosa, plena. Estava com 37 anos, no auge da beleza como mulher e amadurecendo. Ter você nessa idade, meu filho, já me fez quebrar padrões no que dizia respeito a ter um filho numa idade mais madura. Eu estava entrando nos 40 e tendo essa “injeção” de vitalidade com você nos meus braços, foi uma experiência indescritível.

Também tomei um susto no seu nascimento. Foi um parto complicado, você ficou na UTI, tive muito medo de te perder, meu filho. Foi ressuscitado, estimulado, tive que cuidar de você com muito zelo, porque foi preciso. Foi necessário muito acompanhamento, exames, você sabe disso. Claro que seu bem-estar estava em primeiro lugar, então por um período, abdiquei da minha própria vida, carreira, para ficar de olho em você, tinha receio de que ficasse com sequelas. Minha dedicação era total à sua recuperação, na questão da alimentação, das terapias, do tempo que passava contigo e de todo cuidado que precisava ter com sua integridade física. Mas você foi um menino muito gostosinho, gordinho, risonho, brincalhão. E bem precoce, independente de todos os problemas que enfrentou.

Luiza Brunet e o filho Antônio (Acervo pessoal)

Luiza Brunet e o filho Antônio (Acervo pessoal)

É bem verdade, que não foi uma criança exatamente calma, então deu um certo trabalho. Era inquieto, uma criança TDA e isso solicitava bastante atenção e paciência. E sempre estive ao seu lado tentando entender suas demandas da melhor forma possível e te dando muito amor e incentivo. E tudo valeu a pena, meu filho.

Você cresceu e também quis sua independência muito cedo, aos 18 anos. Conheceu a Marcela, em São Paulo, e já se tornaram inseparáveis, foram morar juntos. Que bom que pude proporcionar a liberdade de você viver sua vida com sua parceira! Me separei do seu pai (Armando), quando você tinha apenas 8 anos, e sei que demorou um certo tempo para digerir isso. Acho que também por isso, quis construir sua própria família tão cedo. O amor que sinto por você é imenso, mas o amor que te vejo sentir, também me ensina demais.

Meu filho, você se transformou em um homem admirável. É disciplinado, consciente. Chamamos de ‘menino velho’, aqueles meninos que têm pensamentos e comportamentos de um homem mais maduro, sabe? Você é inteligente, esperto, tem seus amigos, mas é muito casa, família, sua esposa. Admiro você ter buscado sua independência emocional, sua independência financeira, seus estudos, sua própria vida.

Antônio e Luiza Brunet nos dias de hoje (Acervo Pessoal)

Antônio e Luiza Brunet nos dias de hoje (Acervo Pessoal)

Acredito que tanto você, quanto sua irmã, foram influenciados por mim nesta busca por um caminho próprio. Conto a minha história para vocês desde que eram pequenos. A história de uma mulher que se emancipou, que lutou, que conquistou seu espaço. Acho que levaram isso para suas vidas. É através dos pais que as crianças conhecem o mundo e a si mesmas, e que bom que deu certo com você e sua irmã!

Espero que quando ler essa carta, saiba que valeu muito a pena ter mais um filho na idade madura. Aprendi com os acertos, mas muito mais com os erros que cometi. Aprendi que precisamos de paciência e perseverança para criar nossos filhos. E que vale muito se dedicar à educação, com amor e respeito. Você só me dá alegrias e sou feliz de ser sua mãe. Você é meu filho perfeito para mim. Estaremos sempre juntos. Te amo”.