*Por Brunna Condini
Luiza Brunet é uma potência e vem se dedicando a impulsionar outras mulheres a encontrarem sua força interior. Ícone como modelo nos anos 1980, a empresária também foi atriz e, de uns anos pra cá, vem inspirando ao construir sua trajetória como ativista pelo direito das mulheres. Se destacando nesse espaço, Luiza também se viu em outro tipo de evidência recentemente, quando sua filha, Yasmin Brunet, esteve confinada no Big Brother Brasil 24. Nesta entrevista exclusiva, Luiza opina sobre realities, jornada combatendo a violência de gênero e disseminando informação Brasil e mundo afora, e também celebra a chegada dos 62 anos em maio próximo. “Meu balanço até aqui é muito positivo. A maturidade traz sabedoria, escolhas mais assertivas. O fato de eu ter reavaliado toda a minha história, passado por uma série de violências, fez com que justamente essa reinvenção acontecesse de forma natural e verdadeira, porque foram violências que eu sofri desde muito jovem até a vida adulta”, avalia.
O feminismo não odeia os homens, mas protege as mulheres – Luiza Brunet
De olho no BBB enquanto Yasmin esteva na casa e sempre atenta para defender a filha de acusações e agressões nas redes sociais, Luiza diz se participaria de um reality show:
Jamais participaria de um reality. Acho que é um tipo de exposição, na minha opinião, extremamente desnecessária. Nunca me disponibilizaria a aceitar qualquer valor econômico, em qualquer TV para isso, porque acho muito humilhante você estar todos os dias ali sendo avaliada por uma sociedade que julga, mas também comete crimes – Luiza Brunet
E acrescenta: “Já fui convidada para um reality que acho um pouco pior do que esse (risos), e disse que não participaria. Mas são escolhas individuais, essa é minha opinião e ela provavelmente vai ser questionada quando esta entrevista for publicada, porque aqui no Brasil você não pode falar nada. Se falar ‘A’ é ‘B’, e vice-versa. Mas enfim, quem está lá acha que vai sair milionário, ganhar visibilidade, se tornar famoso. E o reality não deixa de ser uma forma de conseguir isso, mas a que preço? Não sei se vale a pena”.
Sobre BBB24 e Yasmin
A respeito da experiência da filha, que foi a 12ª eliminada desta edição do reality da Globo, após ficar dois meses confinada, sofrer comentários machistas e críticas em relação a alguns comportamentos, Luiza divide. “Evidentemente fiquei mais aliviada com a saída dela do BBB por conta da sua saúde. Ela teve visivelmente compulsão alimentar, está com um lipedema, então se um filho está com a saúde comprometida, eu, como mãe, não posso ficar tranquila. Independente de qualquer coisa que possa acontecer na casa, a prioridade é a saúde sempre. Vide a Vanessa Lopes que precisou sair de lá para tratar um problema que poderia ter se tornado ainda mais sério. Então, temos que intervir, opinar em certos momentos, acho muito bom que Yasmin tenha saído para poder se cuidar mais”.
Luiza 62: ativista e mulher de seu tempo
Vítima de violência doméstica na infância e durante uma relação, em 21 de maio de 2016 (três dias antes de completar 54 anos), Luiza sofreu mais uma agressão e denunciou. De lá para cá, tem sido uma importante voz e uma inspiração para quem passou por algo do tipo. Prestes a completar 62 anos, em maio, ela comemora a mulher que se tornou desde o episódio que motivou sua luta coletiva. “O principal ganho disso tudo é o meu reconhecimento como ativista brasileira, como uma mulher que compartilha a sua experiência, movendo outras para que entendam que precisamos passar nossa vida a limpo e recomeçar uma nova história. Isso é super possível, a partir do momento em que tomamos essa decisão. Então, muitas mulheres movidas pela minha trajetória e pela forma como levei esse problema tão crônico no Brasil, que é a violência doméstica na idade madura, acabaram denunciando o que viviam por conta da denúncia que fiz”. E conclui:
Isso é algo muito simbólico para mim. Tudo é uma conquista muito grande, infelizmente, da forma que foi. Mas hoje em dia, me sinto num lugar de experiência, de reconhecimento e de tentar promover uma nova condição para as mulheres. É preciso ter coragem de expor isso, se dedicar ao tema como tenho me dedicado, indo nos lugares, conversando e trocando com as pessoas. Acredito que todo mundo pode fazer a diferença no mundo. Como sociedade civil, podemos olhar para todos os lados e perceber que sempre tem alguém que precisa de apoio – Luiza Brunet
Símbolo de mulher linda, elegante e corajosa, Luiza desconsiderou entrar para a vida política de forma partidária.
O que faço já acredito ser política humanitária. Falo com todos os órgãos, desde a OAB até o Tribunal de Justiça, o Ministério Público e tantos outros. Fora do Brasil, falo com o Consulado Brasileiro, dou palestras em faculdades, são muitas ações e isso é política – Luiza Brunet
A ativista comenta ainda o que tem visto por aí em suas andanças. “Tanto para brasileiras aqui e fora do Brasil, quanto para imigrantes, percebo que a condição da vítima ainda não é valorizada como é preciso. Muitas mulheres pouco sabem identificar o que seria uma violência contra elas, os dados continuam alarmantes. Esse meu empenho em promover boas ações é para justamente levar dados, dizer que, infelizmente em 2023, o índice de subnotificação das vítimas que não registraram as suas violências foi grande. Sabemos que a maior parte das mulheres já sofreu algum tipo de agressão, abuso, mas não reconhecem, têm vergonha ou medo de se exporem. Quando olhamos para os números, é pavoroso: até outubro de 2023 foram registrados 1.127 casos de feminicídio. É preciso ainda olhar pra isso de forma mais minuciosa. A violência de gênero no Brasil mata muitas mulheres todos os dias”.
O longo e necessário caminho
Defendendo a ampliação das ações de combate e das políticas públicas para erradicar esse tipo de violência, Luiza aponta caminhos. “Minha bandeira é promover o reconhecimento do direito das mulheres. Muitas não sabem nem o que é isso. Só 20% delas conhecem os pilares da Lei Maria da Penha, que completou 17 anos e é tão importante. Também desconhecem as políticas públicas em relação ao tema. Hoje participo de várias ONGs, institutos, como o ‘Nós por Elas’, que fez a campanha do ‘sinal vermelho’ nas mãos contra a violência doméstica durante a pandemia. Ele se tornou uma política pública tão importante que fomos para lugares da Europa e Estados Unidos promover esse suporte para as mulheres”, expõe.
“Acredito que precisamos de mais campanhas de conscientização para as mulheres, mas também para os homens. Não vejo a bandeira do direito das mulheres ganhar a força que precisa se não tiver essa conversa junto com os homens. É preciso que existam políticas públicas em torno de toda a sociedade civil. A questão é também educacional, quanto mais educação, mais reconhecimento de direitos. Com educação, queremos ser grandes, estudar, conquistar, mas quando isso não existe muitas mulheres ficam à margem da desigualdade social e se sujeitando a homens agressivos porque não têm independência. As mulheres precisam ocupar todos os espaços de poder para que a igualdade de gênero seja realmente conquistada. Voz na sociedade, dentro da família, no trabalho, temos esse direito”.
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