*Por Brunna Condini
Ela está disponível para experimentar. Habitualmente mais reservada, Luciana Gimenez anda querendo se mostrar mais, se deixar conhecer de perto pelo público que a acompanha há anos. A apresentadora do Super Pop celebra 22 anos à frente do programa e não descarta ‘navegar por outros mares’. Recentemente, Luciana disse que toparia até aventurar-se pela dramaturgia. Nesta entrevista exclusiva, ela também revela que, em 2023, vai lançar um documentário sobre sua vida com a versão nunca antes detalhada de tudo o que enfrentou quando mídia e sociedade souberam da gravidez do seu filho Lucas Maurice Morad Jagger, hoje com 23 anos, fruto do relacionamento com Mick Jagger. Franca, a apresentadora também fala sobre envelhecimento e etarismo, contando que congelou óvulos e que não descarta até um novo filho, embora não seja um plano. “Não sei se teria outro filho e da minha barriga, embora tenha tido duas gravidezes ótimas (de Lucas, 23, e Lorenzo, 11). Meus filhos vieram ao mundo de parto normal, tudo certo. Mas são dois anos da sua vida, um grávida e mais um para voltar ao normal. Então, eu não sei se gestaria de novo. Talvez com uma barriga solidária”, diz Luciana, aos 53 anos, namorando há um ano e dez meses o empresário Renato Breia. “O melhor dessa relação é que a gente se diverte bastante. Já casei, então está bom como estamos, gostoso. Ele é leve e sou um pouco mais intensa, mas temos um relacionamento bem calmo”.
Gimenez comenta sobre os últimos anos, e de tudo o que precisou lidar para chegar ao amadurecimento e postura atuais. Hoje, a apresentadora reforça não abrir mão do protagonismo nos rumos de sua trajetória. “As pessoas têm uma ilusão que minha vida é perfeita. Não é. Trabalho, ganho meu dinheiro, nunca fui sustentada. Tem coisas que não entendo. Estou na televisão há 22 anos e nunca ganhei um prêmio. Sou uma boa apresentadora. Fui chamada para trabalhar pela ABC dos Estados Unidos, a maior emissora do mundo, que pertence ao Grupo Disney. Não tem nenhum outro apresentador no Brasil que foi. Mas sinto que existe um preconceito, talvez por acharem que a minha vida é fácil”.
Desconstruindo Luciana
Ela dá detalhes sobre o documentário que pretende descortinar sua trajetória até aqui: da modelo que começou aos 13 anos, passando por toda polêmica em torno do seu envolvimento com Jagger, até os últimos 20 anos como apresentadora. “Decidi fazê-lo, porque, finalmente, em vez de ser ‘coadjuvante’, deixando as pessoas dizerem o que querem, resolvi falar. Tem uma produtora por trás, mas só vou fazer mesmo se o negócio sair do meu jeito. Quero poder falar de tudo o que passei. Muitas mulheres passam pelo o que vivi, mas por se tratar de mim, talvez as pessoas parem para assistir e atentem para como podem machucar as pessoas. Não vou fazer esse documentário por vaidade, pretendo mostrar a vida de uma mulher que, entre outras coisas, sofreu pra caramba. Talvez através dessa relato, as pessoas criem alguma empatia. Precisamos ser mais empáticos uns com os outros. Sofri muita coisa quieta por mais de 20 anos. Tanto que só há pouco tempo consegui a retratação pública de um senador que me perseguiu”.
Congelei óvulos, mas não sei se teria outro filho e da minha barriga, talvez com uma barriga solidária – Luciana Gimenez, apresentadora
Luciana não menciona o nome do senador em questão, porque segundo ela, é uma história que deseja deixar no passado. Mas conforme já foi noticiado, é Jorge Kajuru (Podemos – GO), processado por danos morais, após ofendê-la quando dava uma entrevista. “Eu desculpei, não quero mais saber, virei a página, mas foi uma coisa bem dolorida. Chorei muitas vezes durante esses anos, porque você sente que a justiça não está sendo feita, não fez nada para que falassem de você. A pessoa que é famosa paga um preço alto. Sou, antes de tudo, um ser humano. Só por que trabalho na televisão, não sou diferente de ninguém. Não estou aqui sendo vítima, coitada. É só um desabafo sobre algo que nunca falei antes. Mas já foi”.
Já sofri com etarismo. Não me colocaram em certas capas por conta da minha idade, acredite – Luciana Gimenez, apresentadora
A comunicadora destaca ainda, que a produção vai ter um material rico, já que sempre teve por hábito, guardar tudo que é publicado sobre ela. “Tenho tudo catalogado, todas as capas. Muita coisa da época que eu estava morando fora, são 15 anos de histórias. Tenho caixas e caixas de jornais ingleses. Se tudo correr como a gente quer, o documentário sai no segundo semestre e vem junto com uma série de palestras por todo o Brasil”.
Investindo em multiplicidade
Essa história de querer trabalhar como atriz é real? “Eu nunca fiz novela, mas faria. Tenho DRT, procuro fazer tudo certinho mesmo. Você sabe o que é engraçado? Porque eu falei até com uma pessoa que trabalha em dramaturgia na Globo, e ele me disse: “Você é super boa, deveria tentar”. Acho que a profissão de atriz é complexa, não é fácil, como nada na vida, tem que estudar, investir. O que me atrai é que você consegue viver outras vidas, dentro da sua própria. E, se for inteligente, talvez consiga também aprender coisas bacanas com as experiências dos personagens que viveu”, observa.
A pessoa que é famosa paga um preço alto. Mas, antes de tudo, sou um ser humano. Só por que trabalho na televisão, não sou diferente de ninguém – Luciana Gimenez, apresentadora
Existe um reposicionamento de carreira acontecendo e pode ser que venha uma novela, é isso? “Pode ser, sim. Também quero fazer cinema”. E revela se sairia da Rede TV!, emissora que trabalha há mais de duas décadas: “Todo mundo me pergunta isso. Eu tenho um carinho imenso, gosto muito de trabalhar lá, mas é óbvio que se tivesse um convite interessante, poderia sair. Não estou na Rede TV! por falta de outras oportunidades, porque até tive, mas nunca me interessaram. Essa emissora sempre foi um lugar de muita paz para trabalhar, gosto muito das pessoas. Mas se viesse uma oferta bacana, para fazer algo diferente, poderia topar. Eu e o Marcelo (Marcelo de Carvalho, sócio e vice-presidente da RedeTV!) somos separados e temos uma amizade incrível. Torcemos um pelo outro. E sou profissional. Estou na emissora pelo meu trabalho e porque existe retorno”.
Luciana fala do que motivou seu desejo de reinvenção: “Acho que a vida tem que ser interessante. Quando a gente fica na mesmice, pinta um certo tédio. Não dá para ficar esperando as coisas rolarem. Temos que fazer acontecer, então eu estou nesse momento. Depois da pandemia todo mundo mudou um pouquinho. No meu caso, eu acho que saí de uma ‘ostra’. Saí realmente daquela capa de proteção que tinha criado para mim. Tem sido tudo bastante desafiador”, afirma.
Todo mundo me pergunta se eu sairia da Rede TV!. Tenho um carinho imenso pela emissora e adoro trabalhar lá, mas é óbvio que se tivesse um convite interessante, poderia topar – Luciana Gimenez, apresentadora
“Comecei a me abrir mais, porque sempre fui muito fechada. Isso foi até uma maneira de me proteger, porque depois que eu tive o Lucas fui muito atacada, nunca quis dar palanque para as pessoas falarem de mim, por isso ficava quieta. Mas vejo que isso me prejudicou, porque quando você não fala de você, também não fala as coisas legais a seu respeito. Estreitando a relação com o público, tenho sentido um carinho enorme, uma troca boa. Sinto que essa energia que eu estou soltando, está reverberando de uma forma maravilhosa. Essa mudança crucial na minha vida foi bem consciente: as pessoas brincavam e falavam besteiras ao meu respeito, dizendo que eu não falava português direito, por exemplo. Sou uma mulher inteligente, culta. Nunca rebati. Até por não servir a carapuça, só que se você não fala nada, as pessoas talvez achem que é verdade. Essa transformação veio na hora certa, não estaria preparada antes. Veio com o amadurecimento”.
Perseguição e preconceito
“Sofri muito quando fiquei grávida do Lucas. Estava assistindo o documentário do príncipe Harry com a Megan Markle e pensei: me identifico com isso, salvo as devidas proporções, claro. Na época, fui expulsa do meu apartamento em Londres, sentei no avião indo para Austrália, e a diretora do editorial de um tablóide sentou ao meu lado. Fugi da Austrália, fui perseguida, tive de sair do prédio que eu morava em Nova York. Dei à luz ao meu filho com dois seguranças na porta , tive de sair fugida do hospital. Fora gente me acusando de coisas que eu nunca fiz. Tive crises de pânico e, quando mudei para o Brasil, foi uma época bastante dura. Hoje vejo Lucas e percebo que a personalidade dele foi moldada por uma mãe que tinha medo de se expor. Então, ele é um menino extremamente reservado. Não faz publicidade, e já teve ofertas de grandes marcas. Até a educação do meu filho foi moldada com o medo pairando. Tinha que fazer acordo com algumas revistas para não perseguirem o menino no colégio. “Fiz o que achei que era o certo. O protegi para ninguém fazer nada de ruim com ele. Só que é uma meleca, né? Você tem que se proteger sem ter feito nada de errado. Sou uma boa mãe, boa profissional, boa pessoa. Hoje exijo respeito. O mesmo que eu dou para as pessoas”.
Tive que processar gente que entrou na escola do meu filho e o colocou em capa da revista por preço da mensalidade. Nunca falei disso – Luciana Gimenez, apresentadora
Assédio
“Passei perrengues absurdos por ser uma mulher alta (1,82m), tida como sexy. Foram ataques de todas as formas, assédio de todos os tipos. Eu tinha 11 anos quando ouvi pela primeira vez a palavra ‘tesão’ e fui perguntar para minha mãe o que era. É uma loucura você ter que lidar com isso, porque os homens não lidam. Isso também vai moldando sua personalidade. Era pai de amiguinho, gente na rua, fotógrafo que prometia benefícios na carreira de modelo se eu cedesse às investidas dele. Desde muito cedo entendi que eu não ia me curvar para isso, porque não tenho estômago. Não fico com ninguém por interesse, sou amorosa, acredito nos sentimentos, no amor”, divide.
Por conta de assédio, já processei gente na Alemanha, quando morava em Munique. Tinha 18 anos e um cara me segurou pelo braço, se masturbou na minha perna no metrô. Fui para o tribunal. Isso é outra coisa que eu nunca contei. Ganhei o processo, ele foi preso. Minha entrega para esse mundo são dois meninos maravilhosos, que vão tratar as mulheres com todo carinho e amor. Eles são incríveis, respeitosos, feministas, esse é o meu maior legado – Luciana Gimenez, apresentadora
Envelhecimento
Não é segredo para ninguém que Luciana não aprecia os efeitos do envelhecimento. “É uma coisa minha, não tem nada a ver com etarismo. Tenho uma cobrança grande comigo mesma”. Ela faz questão de esclarecer: “Já sofri com etarismo. Não me colocaram em certas capas por conta da minha idade, acredite. Isso é um tipo de preconceito inaceitável. Eu dizer que não gosto de ficar mais velha, é um problema meu, vou tratar na terapia, se quiser. O que não pode é direcionar isso para o outro. Todos vamos ficar velhos. Não tem remédio, não tem como parar. A alternativa não é boa, é morrer. Adoraria fazer como no ‘O Retrato de Dorian Gray’ (risos) – obra de Oscar Wilde, que fala de um jovem que faz um pacto para ter a juventude eterna enquanto o quadro com seu retrato é que envelhece – mas não é possível. Se estivermos vivos, ficaremos velhos. Só acho uma loucura as pessoas colocarem pessoas mais maduras de lado”.
E finaliza: “Não curto a ‘carcaça’ envelhecendo. É difícil fisicamente, mas, mentalmente, você fica muito mais apta, inteligente, sagaz, corajosa. Você pensa: sou um avião perto do que eu era no passado, uma menina tímida e acuada que tinha medo de falar. Hoje consigo me posicionar. Olha, daqui há dez anos estarei sem filtro! Mas do meu ponto de vista, envelhecer dói. Até por que vou ter que injetar isso e aquilo, fazer botox, tem prazo de validade, faz de novo. Busco me sentir bem. Mas vejo meninas indo ver isso aos 20 anos e penso: “Vocês são loucas!”. Com essa idade eu nem sabia que existia dermatologista (risos), fui descobrir aos 40″.
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