Luana Xavier, neta de Chica Xavier, alerta: “É a força coletiva que vai nos tirar desse buraco de desesperança”


A atriz, apresentadora e praticante da umbanda – Sacerdotisa da Irmandade do Cercado de Boiadeiro – é herdeira do terreiro de Chica, em Sepetiba, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, e fala de 2021 espiritualmente e dá dicas para o ambiente em casa ficar mais leve. Luana também comenta sobre o seu papel na série ‘Sessão de Terapia’, que estreia na Globoplay ainda no primeiro semestre, e revela sobre a passagem da avó: “Tem dia que a saudade aperta de um jeito que eu chego a sentir dor física mesmo. Logo depois da sua passagem, ela apareceu em sonho muitas vezes para mim. Inclusive um dia antes de eu começar a filmar a série. Eu tenho certeza que ela estava me dando a benção para que eu fizesse esse trabalho. Minha avó era minha guru, não só espiritual, como artística também”

Luana Xavier, neta de Chica Xavier, alerta: “É a força coletiva que vai nos tirar desse buraco de desesperança"

*Por Brunna Condini

Amém para quem é de amém. Axé para quem é de axé. E viva a existência da pluralidade de crenças e religiões! Passado o Dia de Reis, significados e simbologias ao redor do mundo dão conta que a partir da data manifestam-se a epifania, o entendimento e muitas revelações. E seja qual for a religião ou conjunto de crenças, é ‘jogar no universo’ que não nos falte saúde, amor, prosperidade e dinheiro. Assim seja! Luana Xavier, neta da grande atriz Chica Xavier (que morreu ano passado), é também atriz, apresentadora e praticante da umbanda – Sacerdotisa da Irmandade do Cercado de Boiadeiro – e herdeira do terreiro de Chica em Sepetiba e sabe bem disso através da sua fé e tradição familiar, tanto que vem compartilhando com seus seguidores desde o início de 2021 dicas e até simpatias para mais serenidade, prosperidade e axé.

“Minha avó Chica sempre teve um encanto pelo Dia de Reis, porque foi quando ela chegou no Rio de Janeiro, vinda de Salvador, na Bahia, para começar uma vida aqui” (Foto: Ernesto Xavier)

Luana recorda as lembranças que tem com a matriarca relacionadas aos rituais do período. “Minha avó Chica sempre teve um encanto pelo Dia de Reis, porque foi nesse dia que ela chegou no Rio de Janeiro, vinda de Salvador, na Bahia, para começar uma vida aqui. Isso foi em 1953. E, além da simpatia com a romã que ela trouxe como herança de lá, sempre teve um carinho muito grande pelos Reis Magos, porque entre eles tem um Rei Negro, que é o Baltasar. Meu avô, o ator Clementino Kelé, no final dos anos 1960, fez um trabalho em que se vestia de Baltasar e andava em cima de um camelo por alguns bairros do subúrbio do Rio. E o mais interessante dessa nossa ligação familiar com a data é que meu irmão, Ernesto Xavier, e meu primo Oranyan, os únicos netos homens de Chica e Kelé, também interpretaram o Rei Baltasar em representações de Natal na escola. A simpatia da romã, por exemplo, lembro de ver vovó fazendo desde que eu era criança, inclusive nós temos um pé de romã em nossa casa aqui em Sepetiba”, conta.

Os avós Clementino Kelé e Chica Xavier com Christina, mãe de Luana, no colo (Arquivo pessoal)

Ela herdou dos avós a veia artística e espiritual e faz questão de levar esse legado adiante, tanto, que salienta sempre para seus fãs e seguidores, que em qualquer coisa que desejem ou façam, não pode faltar fé. Portanto, de nada adianta fazer mentalizações, rituais ou simpatias desejando uma existência melhor se você não acredita de todo seu coração que isso pode se concretizar. “Tudo está ligado à fé. Eu digo sempre isso no meu Instagram. Ensinei todos os passos da simpatia neste início de ano e ainda assim as pessoas me faziam perguntas sobre detalhes que não interessavam muito. Gente, o mais importante de tudo é fazer com fé. Tudo o que a gente deposita fé dá certo. Sem dúvida esse é um dos maiores ensinamentos que vovó me deixou: “Faça com fé”. E como com ela sempre deu certo, eu sigo isso sem pestanejar”.

“Um dos maiores ensinamentos que vovó me deixou: “Faça com fé”. E como com ela sempre deu certo, eu sigo isso sem pestanejar” (Acervo pessoal)

Fé: ‘Acreditar sem qualquer tipo de prova ou critério objetivo de verificação’, um dos significados desta palavra minúscula, mas carregada de potência. É preciso combater sempre o preconceito e a intolerância religiosa e mais do que nunca, após um ano que nos desafiou de todas as forma imagináveis, respeitar quem deseja colocar sua atenção e energia em algo que acredita ter o poder de transformar, de guiar e aliviar o sofrimento. Para Luana, a fé não costuma falhar e ela aproveita para comentar um pouco sobre este 2021, sob o olhar da umbanda.

Vários umbandistas e e adeptos ao candomblé já disseram que este ano é regido por Oxalá e Oxum. O que isso quer dizer? “Tem um debate bem grande do povo de axé que é sobre essa questão da regência. Porque Orixá não é como signo. Orixá tem participação na vida de quem o cultua. Então, se a pessoa não cultua orixá, a regência espiritual do ano não vai ter muito impacto na vida daquela pessoa”, esclarece. “Mas o que eu posso dizer é que Oxalá é nosso pai maior. A ele devemos um respeito muito grande. E por mais que ele vista branco e traga sempre uma mensagem de paz, tempo regido por Oxalá é tempo de luta também. Então, certamente ainda teremos trincheiras importantes para enfrentar esse ano. E Oxum é a senhora do ouro, da beleza, da fertilidade. Oxum é mãe, dessa que nos pega no colo para amansar nossas dores. Ter a proteção de Oxum é sem dúvida uma dádiva”.

Luana com os avós Clementino Kelé e Chica Xavier, e o irmão Ernesto: família de fé (Acervo pessoal)

O que podemos esperar deste 2021 que já começa ‘quente’? “Eu vou no clichê: ‘não adianta mudar o ano, se você não mudar suas ações’. Entramos em 2021 ainda vivendo uma pandemia mundial e com muitas incertezas sobre a erradicação desse vírus. O Brasil segue atravessando um momento político muito tenso também. Tudo à nossa volta está dizendo para a gente desistir! Mas aí eu vou para a segunda recomendação, que parece também clichê: ‘somos brasileiros e não desistimos nunca’. O que acho que pode contribuir para que enxerguemos uma luz no fim do túnel é o entendimento de que somos seres inseridos no coletivo. A gente não pode olhar só para o nosso umbigo. Não existe democracia se a gente pensar individualmente. Então é a força coletiva que vai nos tirar desse buraco de desesperança”.

Luana com a mãe, Ernesto, o pai, e Ernesto Xavier, o filho (Acervo pessoal)

Muito ligada à unida família, a atriz se divide entre seu apartamento e a casa de Sepetiba em que a família mora e onde fica o terreiro. “Minha família é meu alicerce. No nosso ‘asilo’, nome carinhoso que eu criei para esse nosso conglomerado, estamos em aproximadamente 10 pessoas. É uma casa colada na outra com porta de passagem entre todas. Passamos Natal e Réveillon aqui sem receber visitas. E eu tenho ido muito pouco no meu apartamento que, na verdade, é um investimento de alguns anos feito pelos meus pais para facilitar a minha vida e do meu irmão já que Sepetiba é um bairro bem distante do Centro do Rio e dos nossos locais de trabalho e estudo. Às vezes, eu vou lá fazer live de trabalho já que internet aqui em Sepetiba é tipo sorteio: às vezes funciona, mas na maioria das vezes, não”, pontua.

Como tem lidado com a saudade da avó Chica? Já teve notícias dela no plano espiritual? “Tem dia que a saudade aperta de um jeito que eu chego a sentir dor física mesmo. E tem dia que eu acho que vou chegar na cozinha e me deparar com ela preocupada se o almoço vai dar pra todo mundo comer e repetir. Sem dúvida, a dor da partida de vovó foi a maior que já senti na minha vida. Logo depois da sua passagem, ela apareceu em sonho muitas vezes para mim. Apareceu, inclusive, um dia antes de eu começar a filmar a série ‘Sessão de Terapia’, do Globoplay/GNT. E, no último dia de gravação, também. Eu tenho certeza que ela estava me dando a bênção para que eu fizesse esse trabalho, que foi o primeiro que fiz sem ela aqui. E minha avó era minha guru, não só espiritual, como artística também. Então, senti muita falta de conversar com ela sobre a construção da personagem. Mas lá de longe ela deu vários pitacos que eu bem sei (risos)”. E completa: “Eu sigo a Beth Goulart nas redes sociais e depois da partida da rainha Nicette Bruno, percebi que ela está em um processo muito parecido com o meu. Postando fotos, vídeos com a mãe, falando muito dela. O que eu posso dizer é que esse processo do luto foi fundamental para mim. Eu chorei, gritei, revi vídeos incessantemente. Acho que a gente tem que esgotar mesmo nossos sentimentos. Deixar que eles saiam pelos nossos poros. E eu garanto, que depois de um tempo, essa dor vai ressignificando aos pouquinhos”.

Luana e a avó: “Tem dia que a saudade aperta de um jeito que eu chego a sentir dor física” (Acervo pessoal)

Luana, as pessoas têm sentido a vida cada vez mais pesada nestes tempos. Existe algo que possa ensinar para começar a ser feito como hábito neste começo de ano para dar uma aliviada? “Uma coisa que eu indico e que é sem contraindicações é incenso. Quem tem aquele incenso que mistura alecrim, benjoim, alfazema e outras ervas e pode esquentar carvão, colocar no turíbulo e passar pela casa,  é ótimo . Mas quem não tem esse arsenal, pode vez ou outra acender um incenso de palitinho ou aquele conhecido ‘palo santo’ que isso ajuda muito a equilibrar as energias”.

O que podemos esperar da Luana neste 2021? “Luana está firme e forte na missão de dar continuidade ao lindo legado deixado por Chica Xavier. Então esse ano, na fé de Iansã, vai ser overdose de Luana. Série, filme, novela e tudo mais que os protocolos da OMS me permitirem fazer (risos). Mas o que está de martelo batido é a estreia de ‘Sessão de Terapia’, onde interpreto a personagem Giovana e que será lançada ainda no primeiro semestre desse ano no Globoplay”, anuncia.