Letícia Datena se destaca no jornalismo esportivo, fala de machismo, do casamento recente e do apoio ao pai


Entre o mundo da moda e o do jornalismo esportivo, Letícia Datena, filha do apresentador Datena, contabiliza mais de 20 anos de profissão e, nesta entrevista exclusiva, recém chegada da Grécia com o marido, Rogério Oliveira, ela fala sobre os planos na vida pessoal e profissional. E também sobre a escolha dos caminhos que reforçam sua identidade e os comportamentos preconceituosos ainda existentes no jornalismo esportivo. Além de comentar sobre as pretensões políticas do pai. “Conheço meu pai e sei que ele tem um ideal de vida visando ajudar as pessoas. Na verdade, sempre teve. Ele enxerga a política como uma ferramenta para isso. Acho louvável. Sei que a motivação dele é genuína”

*Por Brunna Condini

Ela é filha de dois ‘peixes’ do jornalismo, mas vem trilhando, destemidamente, o seu caminho, com assinatura própria. Aos 35 anos, Letícia Datena, filha do apresentador José Luiz Datena e Mirtes Wiermann, contabiliza 20 anos de trajetória profissional, entre as carreiras de modelo e de jornalista esportiva. Ela conversou com o site direto da sua casa em São Paulo, tendo chegado há poucas horas da lua de mel na Grécia com seu marido, o nutricionista Rogério Oliveira. “Estamos juntos há 11 meses. Já estávamos morando juntos e decidimos casar. Fizemos uma cerimônia pequena, para poucas pessoas, que deu o mesmo trabalho do que se fosse para 200 (risos). Foi ótimo e tiramos uns dias de folga, tem sido um ano de muito trabalho. Nos conhecemos através de um amigo em comum, meu personal, na academia”, conta. “Desejamos filhos, mas não para agora, mas está nos planos”, revela. 

A jornalista Leticia Datena acaba de se casar, e fala sobre os planos daqui para frente, na vida e na profissão (Foto: Alex Lyrio)

A jornalista Leticia Datena acaba de se casar, e fala sobre os planos daqui para frente na vida e na profissão (Foto: Alex Lyrio)

Letícia já voltou a trabalhar na sequência dos dias de folga, na atividade que uniu sua paixão por estar em meio à natureza com o esporte: ela é apresentadora oficial da Stock Car há quase duas temporadas, apresentadora do ‘Automais’, no BandSports, além de atuar como repórter em matérias sobre os bastidores da Stock Car em programas da TV Bandeirantes. A jornalista ainda é colunista de automobilismo do portal da Forbes. “Sempre gostei de adrenalina. Além disso, amo a natureza. E o rali é um esporte praticado nela, envolve muitas viagens, tem a aventura. Então, essa escolha tem a ver com o meu estilo de vida. Também tem essa coisa de trabalhar em condições extremas, com muito calor ou muito barulho, gosto disso, de desafio. E as coberturas automobilísticas são sempre muito desafiadoras, dinâmicas. Adoro o barulho dos carros (risos). A Stock Car é um dos campeonatos mais competitivos do mundo. Nunca sabemos o que vai acontecer, é imprevisível”.

Letícia Datena e Rogério Oliveira: "Estamos juntos há 11 meses. Já estávamos morando juntos e decidimos casar" (Reprodução/ Instagram)

Letícia Datena e Rogério Oliveira: “Estamos juntos há 11 meses. Já estávamos morando juntos e decidimos casar” (Reprodução/ Instagram)

Sendo mulher e atuando já com reconhecimento no meio do esporte e do jornalismo, ela comenta sobre os desafios. “No início não te dão muita moral. No meu caso, quando comecei no automobilismo, no Chile, era a brasileira, que falava com sotaque, que ninguém conhecia, e ainda sendo mulher. Foi mais difícil por muitos fatores. Quando cheguei no Brasil, já estava com o currículo bacana na área. Fui a primeira pessoa brasileira a participar de transmissões oficiais do campeonato mundial de rali, fiz isso em inglês. Vemos pouquíssimos jornalistas brasileiros trabalhando fora do país, em outra língua, para um grande conglomerado estrangeiro, vemos correspondentes. Estudava muito, sou perfeccionista. Estudava oito horas por dia de rali, fiz isso durante uns três anos. Tinha todos os números, estatísticas. Fui ganhando credibilidade como a menina estudiosa, que se preparava. Não acho que sou melhor do que ninguém, mais inteligente, mas sou extremamente esforçada”, analisa.

Letícia Datena em campo, na transmissão de automobilismo: "No início não te dão muita moral" (Reprodução/ Instagram)

Letícia Datena em campo, na transmissão de automobilismo: “No início não te dão muita moral” (Reprodução/ Instagram)

“Acho que a melhor resposta para atitudes machistas é fazer um bom trabalho, trazendo informação de qualidade, admitindo quando não sabe alguma coisa. Adoro trabalhar com pessoas que sabem mais do que eu, pergunto mesmo. Você nunca pode achar que sabe demais, porque aí sua qualidade cai. Hoje em dia trabalho com colegas sensacionais, que me respeitam muito. E se alguém faz algum tipo de comentário infeliz, não tem coragem de fazer hoje em dia na minha cara (risos)”.

Letícia recorda ainda um episódio inaceitável de uma sociedade que avança a duras penas contra o sexismo: “Trabalhei como modelo muitos anos, então aprendi a lidar com certas coisas. Mas, no passado, tive uma cobertura esportiva, e não vou expor ninguém, em que um apresentador foi bem complicado. Várias apresentadoras não quiseram participar do seu programa, porque ele não deixava elas falarem, ficava expondo-as ao vivo. Fui a única que durei neste programa”, relata.

"Acho que a melhor resposta para atitudes machistas é fazer um bom trabalho, trazendo informação de qualidade, admitindo quando não sabe alguma coisa" (Foto: Alex Lyrio)

“Acho que a melhor resposta para atitudes machistas é fazer um bom trabalho, trazendo informação de qualidade, admitindo quando não sabe alguma coisa” (Foto: Alex Lyrio)

“Mas faço psicanálise há 10 anos, falei muito com a minha terapeuta sobre isso, e ela me orientava. E outra, aprendi a não levar para o lado pessoal, mas foi uma situação complicada. Graças a Deus foi algo isolado para mim, mas era um apresentador, em um projeto que era importante, e ele ficar constantemente me descredibilizando, tentando não me escutar ou diminuir minha opinião, era difícil. Além de ficar fazendo brincadeiras idiotas no camarim. Apesar disso, posso dizer que não me afetou, mais pelo fato de ter ido preparada, orientada. Mas com muitas mulheres isso acontece, e elas precisam ficar quietas, senão não trabalham mais. Por outro lado, posso dizer também que trabalhei com homens sensacionais na minha trajetória”.

"Minhas escolhas, tem mais a ver com as minhas realizações pessoais, com os meus desafios, do que com o que as pessoas vão achar de mim" (Foto: Alex Lyrio)

“Minhas escolhas, tem mais a ver com as minhas realizações pessoais, com os meus desafios, do que com o que as pessoas vão achar de mim” (Foto: Alex Lyrio)

A mulher bonita, ainda é desacreditada profissionalmente? “Sim. Sabe o que acontece? Quem não conseguiu estar onde você está, sempre vai achar uma desculpa. Muitos falam: “Ah, ela está lá porque é mais bonita do que eu” ou “Beleza dá audiência, por isso ela está lá”. Mas entra por um ouvido e sai pelo outro. Sabemos que esse tipo de comentário é descabido, uma mentalidade que vai ficando para trás. E para trás, também fica quem tem essa mentalidade. Temos que olhar para frente”.

E acrescenta: “Minhas escolhas têm mais a ver com as minhas realizações pessoais, com os meus desafios, do que com o que as pessoas vão achar de mim. Acho meio besta você viver baseado na aprovação alheia. Estudo Cabala, psicanálise, e aí vira uma questão de olhar para dentro e perceber o que me faz feliz. A realização de um projeto, uma conquista profissional, me deixa muito mais feliz do que a quantidade de likes que eu recebo”.

Admiração e parceria em família

É especulado que José Luiz Datena saia mesmo candidato ao Senado nas próximas eleições, pelo PSC. Ser filha de um pai que ‘dá a cara à tapa’, e pretende ingressar na política, te causa alguma apreensão? “Conheço meu pai e sei que ele tem um ideal de vida visando ajudar as pessoas. Na verdade, sempre teve. Ele enxerga a política como uma ferramenta para isso. Acho louvável. Sei que a motivação dele é genuína”, diz Letícia.

José Luiz Datena e a filha Letícia: "Ele é um cara com um caráter irretocável. É um pai sensacional" (Reprodução/Instagram)

José Luiz Datena e a filha Letícia: “Ele é um cara com um caráter irretocável. É um pai sensacional” (Reprodução/Instagram)

“Ele é meu pai, vou apoiá-lo no que quiser, nada disso me causa apreensão. Claro que acho muito difícil você se envolver e trabalhar com política hoje em dia. Mas meu pai se expõe e vive em um universo muito complicado há muitos anos. Da mesma forma que tenho meus objetivos de vida, ele tem os dele, então o que quiser, para mim, está bom. Quero que ele seja feliz, e se for através da política, sei que tentará fazer o melhor. Ele é um cara com um caráter irretocável. Trocamos muito, somos próximos. É um pai sensacional. Podem pensar que é muito bravo, mas é um amor”.

Caminho próprio

Letícia trocou a vida de modelo pelo jornalismo, e apesar de se orgulhar do legado dos pais, o caminho a encontrou em uma escolha totalmente particular. “Saí de casa com 15 anos para trabalhar, mas sempre com os meu pais me acompanhando. Eles só deixaram que fizesse isso, porque eu queria muito, e confiavam em mim. Mas é óbvio, que tive que me virar sozinha no mundão. Com 16, saí do Brasil em uma época que não havia redes sociais, waze, google maps, era trampo para me virar. Então acho que essa força, coragem que tenho, vem muito da minha história de vida, e a bagagem como modelo foi determinante. Tive que me defender sozinha. Acho que o medo paralisa as pessoas. Tenho muito mais medo de perder oportunidades do que de receber algum ‘não’ na vida”, afirma.

"Tenho muito mais medo de perder oportunidades do que de receber algum 'não' na vida" (Foto: Alex Lyrio)

“Tenho muito mais medo de perder oportunidades do que de receber algum ‘não’ na vida” (Foto: Alex Lyrio)

“Trabalhei como modelo dos 15 aos 26 anos. Morei em oito países modelando. Com 18, tive minha primeira experiência na TV a convite da Marlene Mattos. Fui repórter de um programa da Band. E mesmo sendo filha de pais jornalistas, nunca havia pensando em trabalhar na área. Mas sempre gostei de escrever, tive a experiência, ainda como modelo, de ter uma coluna em uma revista sobre turismo e comecei a colocar os pés no jornalismo. Em 2014, tive a oportunidade de cobrir a Copa do Mundo pelos canais Fox Sports. Nessa época, já pensava na transição da vida de modelo para o jornalismo esportivo. Cobri futebol uns anos pela Fox Sports, e fui morar no Chile. Não entendia nada de futebol chileno, e surgiu uma oportunidade no automobilismo, que é um nicho forte por lá.  Trabalhei no campeonato mais importante de rali do país. Precisavam de uma apresentadora que falasse inglês e espanhol fluentemente. Me indicaram e fui. Cobri minha primeira competição porque sabia falar duas línguas que aprendi trabalhando como modelo (risos). Mas sabia muito por alto sobre reli nesta época. Fui entender como funcionava e me apaixonei, fiquei no campeonato três anos. Me achei no automobilismo. Estou amando”.

A apresentadora fala da sua paixão pelo jornalismo esportivo: "Acredito que a verdadeira riqueza, é fazer o que amamos" (Foto: Rafael Puglisi)

A apresentadora fala da sua paixão pelo jornalismo esportivo: “Acredito que a verdadeira riqueza é fazer o que amamos” (Foto: Rafael Puglisi)

E conclui: “Tenho objetivos de vida, sou a pessoa da listinha de Ano Novo. A vida fica mais fácil se você planeja, mas também sabendo aproveitar as oportunidades que surgem fora isso. Mas gosto de planejar. Meu primeiro apartamento comprei com 21 anos, com meu trabalho de modelo. Sou feliz com o jornalismo, sabe? Desejo continuar me destacando cada vez mais. Quem sabe até ter um programa para falar de esportes, atingir um público maior. Acredito que a verdadeira riqueza, é fazer o que amamos”.