Leandro Vieira, carnavalesco campeão em 2016: “Temos que repensar a questão do enredo e criar temas que pensem o Brasil, um carnaval mais crítico”


Contratado pelo então presidente da Mangueira, em último ano de mandato, Leandro, em conversa exclusiva, contou: não sabe seu rumo ainda: “Estou aguardando o resultado da eleição para escolha da nova presidência, que acontecerá em meados de abril”

Carnavalesco, não. Operário do samba. É assim que, há dez anos trabalhando em função da folia do momo, Leandro Vieira se define. Estreante no grupo especial – após dar expediente no barracão da Caprichosos de Pilares – no Carnaval 2016, já chegou com pompa e circunstância: campeão pela Estação Primeira de Mangueira com enredo que já tinha na gaveta e achou “pertinente para o momento” e também para a verde e rosa de Jamelão (1913-2008), “Maria Bethânia, a menina dos olhos de Oyá”. Contratado pelo então presidente da agremiação Francisco de Carvalho, o Chiquinho da Mangueira, em último ano de mandato, Leandro, em conversa exclusiva com HT, contou: não sabe seu rumo – ainda. “Estou aguardando o resultado da eleição para escolha da nova presidência, que acontecerá em meados de abril”, disse.

Leandro Vieira ao lado de Maria Bethânia, cantora homenageada pela Mangueira em 2016 (Foto: Divulgação)

Leandro Vieira ao lado de Maria Bethânia, cantora homenageada pela Mangueira em 2016 (Foto: Divulgação)

Segundo apuramos, a permanência de Leandro – bem como a do próprio Chiquinho, que ainda não tem garantia alguma -, é dada como certa, independente de quem vencer o pleito, tamanha simpatia e desejo da comunidade verde e rosa. Por ele, fica. Segurança que ele já tinha nos meses que antecederam a glória na Marquês de Sapucaí. “Não senti frio na barriga, nem medo. Eu sempre fui um operário do carnaval, desenhei figurino, alegorias. Me mantive operário quando recebi o convite da Mangueira. Não pensei em momento algum que era o carnavalesco da escola. Como eu me mantive muito ocupado, porque fazer carnaval dá muito trabalho, não deu tempo de me preocupar”.

Leandro não conta com assistente para desenvolver o trabalho à frente de uma agremiação. O que não impede de arranjar tempo para matutar enredos e guardá-los na gaveta – prática convencional entre os colegas de profissão – para soltá-los no momento certo, como foi o caso no sobre Bethânia. “Esse último é um que eu já tinha guardado, por exemplo. Tenho vários”, contou. Um enredo tipo dos sonhos? “Um que repensasse a estrutura do carnaval moderno”, responde, para na sequência explicar o papo cabeça. “Temos que repensar a própria questão do enredo, da pertinência de um tema. Temos que poder fazer coisas que despertem questionamentos, que falem e pensem o Brasil. Quero fazer algo que apresente um carnaval mais crítico, tanto na cultura, quando na história do país”.

O carnavalesco em momento de criação (Foto de acervo pessoal cedida ao O Dia)

O carnavalesco em momento de criação (Foto de acervo pessoal cedida ao O Dia)

O caminho para realizar o sonho, ele parece já ter encontrado. “Eu acho que esse enredo, por mais que fosse sobre Bethânia, levantou questões brasileiras no que diz respeito à religião, à maneira como se convive em harmonia. A questão de como o catolicismo o candomblé podem conversar bem. Existem maneiras de você tratar a cultura brasileira de uma forma mais rica e não olhando para padrões internacionais. O Brasil é culturalmente muito rico e as escolas de samba são porta-vozes disso tudo”. Quando questionado pela reportagem sobre o fato de a Polícia Civil do Rio de Janeiro abrir inquérito para investigar suposta fraude no carnaval 2016, Leandro Vieira desliza: “Eu sou um carnavalesco muito inteirado ao meu trabalho. E o que eu faço me ocupa demais. Eu gosto de ler, de pensar, me ocupar com livros, com desenhos. Eu sei muito pouco a respeito disso”.