*Por Brunna Condini
Larissa Maciel anda com o coração no Rio Grande do Sul. Nascida e criada em Porto Alegre, a atriz tem se envolvido inteiramente nas campanhas em auxílio ao povo gaúcho, desde que a devastação tomou conta de grande parte do estado em razão dos temporais e cheias que atingem a região desde o final de abril. A imensa mobilização nacional que se formou para dar assistência à população, tem reafirmado nossa fé na humanidade, no entanto, Larissa observa: “Tem os dois lados. Reforça a certeza de que tem muita gente boa no mundo, capaz de fazer o bem. Mas ao mesmo tempo, não dá para fechar os olhos para o tanto de gente ruim que aparece julgando, criticando, fazendo pouco do esforço alheio. Grita aos olhos o Congresso e o Senado tentando passar medidas que desmontam e fragilizam as leis ambientais, que devem mais do que nunca ser fortalecidas. O que está acontecendo foi previsto por ambientalistas faz pelo menos uns 30 anos. Hoje existe conhecimento e tecnologia para recuperar áreas degradadas, para despoluir rios, para reformular as cidades de forma a torná-las mais sustentáveis”. E frisa:
O que falta é vontade política, é priorizar a questão ambiental. É encarar a gravidade do que está acontecendo. Tivemos secas absurdas, ondas de calor e agora enchentes nunca vistas. Infelizmente não vai parar aí. Não temos mais tempo – Larissa Maciel
Ela, que saiu de Porto Alegre aos 30 anos, quando foi descoberta pela TV, mais especificamente por Jayme Monjardim, para dar vida à mãe do diretor, a icônica cantora Maysa (1936-1977), na minissérie ‘Maysa – quando fala o coração’ (2009), fala da família, incluindo seus pais, que ainda estão por lá:
“Minha família paterna, materna e meus sogros moram lá. Felizmente estão todos bem, em segurança. Não precisaram deixar suas casas. Apenas uma prima teve que ser resgatada de bote. Ela e seu cachorrinho. Meu irmão e minha cunhada estão fazendo um trabalho importante como voluntários, assim como a maioria das pessoas que conheço. Todo mundo se envolveu de alguma forma, e está fazendo o que está ao seu alcance para ajudar quem precisa. E são muitas pessoas, então tem muito a ser feito. É impressionante como todos se colocam à disposição para ajudar com o que podem no momento. A pessoa que sabe arrumar barcos, a que sabe contar história, a que entende de logística, a que conecta as pessoas. A sociedade civil teve que se organizar muito rapidamente e conseguiu. A parceria entre governo e civis está funcionando”.
Larissa diz, que desde a tragédia, sua vida praticamente parou. “Estou sempre pensando no que está acontecendo no Sul. E fiquei muito dispersa esses últimos dias, difícil me concentrar nas coisas. Quem tem família no Rio Grande do Sul, e está longe, sabe do que eu estou falando”.
A gente pode imaginar o tamanho do sofrimento, mas só quem está lá vendo, ouvindo, sentindo o cheiro, olhando nos olhos de quem sobreviveu e vendo o trauma, tem a real dimensão. A gente sabe que eles estão lá, passando por isso. Quer abraçar, quer acolher, mas não dá. Então daqui, estou fazendo o que posso. Ajudando na organização de campanhas, divulgando informações importantes, fazendo doações, enfim… tentando acalmar o coração com ação – Larissa Maciel
Muito tem se falado que o evento é climático, mas a responsabilidade é política, pela falta de ações de prevenção, por concessões de interesse político que afetam o público, o meio ambiente…. O que pensa disso, como quem veio de um estado tão dilacerado hoje pelas chuvas? “É inegável a negligência política que acontece há muitos anos. Sempre tratou-se o planeta como fonte inesgotável de recursos a serem explorados. Embora todos os avisos tenham sido dados, e continuem sendo feitos, os negacionistas fazem um trabalho forte e incansável para manter esse tipo de relação com o planeta. Só que não dá mais. Seremos todos atingidos, todos vivemos na Terra. Ela é uma só, interligada, numa relação constante de causa e efeito. No fim, como bem vimos nessa tragédia, não é o dinheiro que importa”.
A atriz veio morar no Rio de Janeiro há 16 anos, construiu uma carreira no audiovisual, casou com o empresário André Surkamp, com quem teve a filha Milena, de 10, mas não se afasta de suas raízes. “Profissionalmente foi muito importante vir morar no Rio. Aqui, é um dos polos culturais do nosso país. Depois de tanto tempo aqui, até ‘carioquei’ um pouco. Tenho uma filha carioca, amigos, e construí uma vida aqui, mas os laços com o Rio Grande do Sul permanecem. Continuo indo mais ou menos a cada três meses para lá, passar tempo com a família e rever as amigas”, diz.
Larissa fala das mulheres que a inspiraram e potencializaram. “Minha linhagem feminina é muito forte e bonita. Mulheres admiráveis. Minha família paterna é de Encantado (completamente destruída), no Vale do Taquari, região que foi primeiramente afetada. Todo mundo conhecia a força e a coragem da Dona Linda, minha avó. Minha família materna é do Sul do estado, da região de Rio Grande, para onde as águas estão indo. Minha bisavó era parteira e colocou no mundo centenas de bebês. Minha mãe, sempre trabalhou por sua independência e liberdade, e sempre acreditou na força do coletivo. Eu honro as histórias delas e repasso tudo que aprendi para a minha filha. Tenho um enorme orgulho da nova geração da nossa família”. E fala diretamente para as mães gaúchas:
Uno o meu coração ao das mães que estão sofrendo, por todas as perdas, pela insegurança e pelo temor do que há por vir. Mães são pessoas preocupadas, e imagino como está a cabeça dessas mulheres nos abrigos… é muito difícil – Larissa Maciel
No momento, além de ‘respirar’ os acontecimentos do que se desenrola em terras gaúchas, ela também se esforça para ‘respirar’ teatro. “Estou batalhando para fazer o espetáculo do livro da Liana Ferraz, ‘Um prefácio para Olívia Guerra’. Quem vai adaptar é a Adriana Falcão. Estamos buscando patrocínio no momento. Fui completamente atravessada por essa história, e pelo que tenho acompanhado da repercussão do livro, não estou sozinha. A narrativa fala muito ao público feminino, tratando com sensibilidade e poesia temas pautados pelas mulheres, e que são pertinentes a toda sociedade. Estou bem apaixonada”, anuncia, com exclusividade.
Larissa termina o papo, fazendo um apelo, mas pelo coletivo, do Rio Grande do Sul: “Vai levar tempo para a água baixar. Quando baixar, as pessoas não terão para onde voltar. São cidades inteiras destruídas. Tudo foi afetado. Pelo que vi, até ontem dos 497 municípios apenas 72 não tinham sido afetados. É praticamente um estado inteiro submerso. Então, a ajuda vai continuar sendo urgente. As necessidades vão mudando. Agora a temperatura deve cair, então será preciso roupas de frio e cobertores, depois muito material de limpeza, vai levar tempo…”. A atriz tem feito um trabalho bacana com um grupo, dos pontos de coleta aqui no Rio de Janeiro, até pontos de entrega no Rio Grande do Sul. “É o @artistaspeloriogrande. Confiram lá”.
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