Karol Conká: “Estava me sentindo insegura, ‘uó’ por dentro”, diz em programa de saúde mental no seu Instagram


A rapper investe no formato de série de entrevistas no IGTV com o intuito de investigar o tema saúde mental na primeira temporada. Após a dor causada com o ‘cancelamento’ por sua participação no reality da Globo, Karol vem investindo em autoconhecimento e em ressignificar a passagem em sua vida: “Quando assisti, fiquei com raiva de mim. Hoje consigo falar disso com algum humor. Mas fiquei muito mal. Eu dei motivos, mas isso não chega nem perto do ódio que se instalou. Não cometi nada que me fizesse criminosa e foi assim que me senti, que fui tratada. Não é para minimizar minhas atitudes dentro da casa, mas é para refletirmos: será que não tem uma bagagem de racismo nesse hate? Temos que debater, mas sem o ódio coletivo, No meu caso foi muito fácil apedrejar”

*Por Brunna Condini

Após sua tortuosa passagem pelo BBB21 Karol Conká vem investindo em uma mudança de imagem, tanto física, quanto na carreira. Além disso, ela parece também vir buscando mais o caminho da escuta e do diálogo. Depois do documentário da Globoplay ‘A vida depois do tombo’, ela lançou seu novo programa ‘Vem K’, no seu IGTV. Na primeira temporada da atração, a rapper abordou a batalha humana em equilibrar a saúde mental. Lembrando que curitibana enfrentou um período difícil após sua participação no reality da Globo, tendo sido eliminada com 99,17% dos votos, recorde de rejeição da história da atração: “Esse programa é um espaço que abri onde vamos falar sobre temas atuais e assuntos importantes, necessários”.

Karol estreia o novo programa 'Vem K' em seu IGTV. Na atração, a rapper vai abordar sua batalha em equilibrar a saúde mental e trará convidados para tratar do tema (Foto: Lana Pinho)

Karol estreia o novo programa ‘Vem K’ em seu IGTV. Na atração, a rapper vai abordar sua batalha em equilibrar a saúde mental e trará convidados para tratar do tema (Foto: Lana Pinho)

No primeiro episódio, já disponível no Instagram, Karol conversou com a psicanalista Maria Homem, professora da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), que explicou por que a terapia ainda é tabu e fala sobre a importância de refletir sobre a nossa saúde mental, examinar a própria vida. “É o primeiro momento que me abro desta forma e olho mais com profundidade para dentro de mim. Vou tirar dúvidas minhas, que devem ser as mesmas de tantas outras pessoas”, declarou. “Esse tipo de papo é muito importante para a minha vida pessoal no momento, e também para todos, diante do momento que o mundo atravessa, com essa pandemia”.

Serão seis episódios ao todo, com cerca de dez minutos cada, e para a cantora, o programa faz muito sentido dentro da sua trajetória: “Sempre tratei de temas tabus, seja através das letras que componho, seja nos projetos editoriais aos quais me associo, e não poderia deixar de ser assim no meu primeiro projeto de conteúdo 100% próprio”. E pontua sobre o tema da primeira temporada: “Estou vivendo intensa e profundamente esse processo de entendimento das minhas feridas psíquicas, e o quão importante é cuidarmos de nossa saúde mental. Essa tomada de consciência é tão transformadora que seria até egoísmo meu não dividir isso com as pessoas e ajudá-las a ver que, diferente de mim, não é preciso que elas cheguem a situações limite para resolverem se cuidar”.

"Esse tipo de papo é muito importante para a minha vida pessoal no momento, e também para todos, diante do momento que o mundo atravessa, com essa pandemia" (Foto: Lana Pinho)

“Esse tipo de papo é muito importante para a minha vida pessoal no momento, e também para todos, diante do momento que o mundo atravessa, com essa pandemia” (Foto: Lana Pinho)

Nos próximos episódios, a artista, que deseja com o projeto também ampliar suas formas de expressão, vai falar de diferentes abordagens na psicanálise com Héder Bello; de Fenomelogia, com Renan Carletti; de Psicologia Junguiana, com Bruno Mota; e terapia cognitivo-comportamental, com Carolina Bernardo. Além de abordar temas como acolhimento, ansiedade, pandemia e relações raciais e saúde mental.

Curando

Em entrevista recente a Santiago Spartakus, em seu canal no Youtube, Karol falou da sua passagem pelo Big Brother Brasil e as consequências disso. Quando perguntada pelo influenciador sobre não ter tido apoio de pessoas negras, ela afirmou que isso doeu, sim, mas lidou com tudo como uma reflexão. “Apoio é o mínimo que a gente espera. O mínimo de compreensão daqueles que vivem as mesmas coisas que a gente”. Para ela, pessoas brancas são perdoadas com mais facilidade na sociedade.

"Cometi um grande erro de não controlar as minhas emoções, a minha ansiedade. Mas me senti descartada" (Foto: Lana Pinho)

“Cometi um grande erro de não controlar as minhas emoções, a minha ansiedade. Mas me senti descartada” (Foto: Lana Pinho)

“Cometi um grande erro de não controlar as minhas emoções, a minha ansiedade. Mas me senti descartada. Obviamente que tiveram pretos que me escreveram, mas foram poucos. E algumas pessoas nem querendo trazer a público o apoio a mim. Fico me questionando o porquê de tudo isso, porque a gente é tão duro com a gente mesmo. Mas eu não tenho medo, sou muito corajosa. sou corajosa para enfrentar as aventuras da vida, para fazer cagada, para reconhecer, e transformar isso em algo produtivo, não só para mim, mas para as pessoas que me acompanham”.

Karol seguiu avaliando o processo que a trouxe até aqui. “Dentro do reality me faltou humildade, empatia, companheirismo, e em alguns momentos, até uma pitada de humanidade. Mas consegui olhar para dentro e identificar o porquê fiquei daquele jeito. E fiquei pensando, se eu estivesse aqui fora, vendo uma outra artista preta que admiro, que são várias aqui no Brasil, passando a mesma situação, eu jamais participaria do linchamento. Ou exigiria o cancelamento,  o definhamento desta pessoa, porque eu também sou uma artista, também sou mulher preta. Não desejaria isso para ninguém. Não conseguimos carregar tudo nas costas, ser ‘intactas’ o tempo inteiro, e é na hora que caímos, que vemos quem está ou não. Quem realmente age com aquilo que prega. O que mais entristece é ver que não estamos tão firmes quanto pensamos, e o quanto demos um gostinho na boca dos racistas. Eles foram os que mais aplaudiram vendo os pretos ‘se quebrando'”.

O que mais entristece é ver que não estamos tão firmes quanto pensamos, e o quanto demos um gostinho na boca dos racistas. Eles foram os que mais aplaudiram vendo os pretos 'se quebrando'" (Foto: Lana Pinho)

O que mais entristece é ver que não estamos tão firmes quanto pensamos, e o quanto demos um gostinho na boca dos racistas. Eles foram os que mais aplaudiram vendo os pretos ‘se quebrando'” (Foto: Lana Pinho)

Na entrevista, a rapper também analisou como tudo isso reverberou. “Eu sou descartável? Nós não precisamos perder minha voz ou da Lumena ou de qualquer outro preto que errar. Muitos ainda vão errar, mas não precisamos descartar quem erra, podemos pegar pela mão e dizer: “olha aqui, vou te mostrar um outro caminho, de cura, porque você não pode ser um desperdício”, é o que eu faria”, afirma Karol. E finaliza: “Vamos combinar, ali eu estava me sentindo muito insegura, ‘uó’ por dentro e não queria que ninguém notasse. Fiquei insuportável. Acho que foi tudo. O lance da pandemia. Eu fui muito provocativa. Estava amargurada, virada no azedume. Quando assisti, fiquei com raiva de mim. Hoje consigo falar disso com algum humor. Mas fiquei muito mal. Eu dei motivos, mas isso não chega nem perto do ódio que se instalou. Não cometi nada que me fizesse criminosa e foi assim que me senti, que fui tratada. Não é para minimizar minhas atitudes dentro da casa, mas é para refletirmos: será que não tem uma bagagem de racismo nesse hate? Temos que debater, mas sem o ódio coletivo, No meu caso foi muito fácil apedrejar”.