*Por Brunna Condini
“Ser mãe é padecer no paraíso”, diz o ditado popular. Essa frase carrega em si a ideia da maternidade como algo ‘sagrado’, como se a mulher devesse vivenciá-la, mesmo nas agruras, de forma plena, sem queixas, e até resignada. Para Juliana Didone, e tantas outras mulheres que vêm jogando luz na maternidade real, como ela é, e não como deveria ser, ou seja, sem idealizações, a ótica é outra. Ainda bem, afinal cada uma é a melhor mãe que pode ser, não é mesmo? E movida pelo turbilhão de transformações que a chegada da filha Liz de 4 anos, acarretou em sua vida, a atriz fala do novo ‘filho’, ‘Diário de Mãe‘. O projeto é uma websérie de humor, que Juliana produz em suas mídias digitais. “A maternidade não é só maravilhosa e venderam isso pra gente a vida toda. Ser mãe não é só oxitocina, luz. Tem também as sombras. E se falamos sobre isso, trocamos, nos fortalecemos. Não podemos nos desconectar umas das outras como ‘tribos rivais’, não existe uma única cartilha de boa maternidade”, diz.
O start para o projeto partiu da leitura de ‘60 dias de neblina‘, de Rafaela Carvalho, sobre os primeiros meses da maternidade e do bebê. “Esse livro chegou para mim quando a Liz nasceu, mas não quis ter contato de cara. Achava que só seria ‘luz’, mas logo vi que também existem muitas ‘sombras’. Um filho nasce e você é responsável por aquele serzinho de 50cm, e por você, e fica pensando se vai dar conta”, recorda Juliana.
“Estava sem energia e perdida como nunca. Achava que não trabalharia mais, só viveria para cuidar dela, e tinha medo de não saber cuidar como minha filha precisava. Para os outros, até segurava a onda, porque sou forte. Só chorava com minha mãe e irmã. Estava insegura, aflita. O livro da Rafa me mostrou que está tudo bem, se não estiver tudo bem. E tudo com humor, leveza. Tira a culpa em relação a muitos temas, e eu queria que isso atingisse mais mulheres, já que me fez tão bem”.
Paralelo ao projeto, a atriz filma um longa, e reflete sobre conciliar maternidade e profissão. “Sou atriz há muitos anos e continuo com muito tesão em fazer isso. Não quero ser mãe full time. É prioridade pra mim, mas ser atriz também me realiza. E hoje vejo que cada vez temos que ser mais autônomos. Autores das nossas próprias ideias e as colocarmos em prática, sem nos preocuparmos com a perfeição. Se temos medo das críticas, ficamos a mercê dos convites. É bom ser convidado, dá segurança, nos sentimos prestigiados, mas se você escolheu como carreira ser artista, precisa sair da zona de espera, de aguardar o telefone tocar. É bom colocar para fora suas ideias. O ator pode estar em todos os lugares, no teatro, na TV, nas redes. Entrar para o jogo. Embora ainda tenha muita besteira nas redes sociais, isso tem mudado. As pessoas estão se esgotando de dancinhas, fotos do corpo, então acredite no seu tema. Se foi importante pra você, vai ser para outras pessoas”.
Juliana chama à atenção para as propagandas que viu sobre o Dia das Mães e a valorização do consumismo, ao invés do momento a ser vivenciado em família. “As publicidades até vem melhorando nos últimos anos. Teve até uma recentemente falando da ‘mãe culpada’, que lista pelo o quê sente culpa. Gostei, porque a sociedade ainda culpa muito as mães. Mudar isso é preciso”, observa. “É uma data bem comercial. Acho que as relações deveriam ser mais exaltadas do que os presentes. Nossas relações estão muito corridas, temos que dar conta de muita coisa na rotina. Às vezes, quanto mais próximo você tem sua mãe, menos afeto demostra, acaba sendo uma rotina prática. É importante conversar”.
O hoje
Ela terminou o casamento de seis anos com o artista plástico Flávio Rossi quando Liz tinha 1 ano, e namora atualmente o empresário Santiago Bebianno. “Muda muito a vida do casal depois de um filho. É muito comum acontecer uma ruptura. Refletimos muito tempo, e já tínhamos pensado em nos separar antes. Filho não mantém casamento, como muita gente pensa. Nós já estávamos desestabilizados como casal, mas Liz veio selar a relação de parceria. Ele não é mais meu companheiro emocional, mas é o pai da Liz pra sempre, temos uma ótima relação”, divide. “Cada casal é um, mas se achar que não tem volta, melhor separar. É até melhor para a criança. O mais importante é criar um ambiente harmônico. Sou a favor das mudanças, se não está feliz, muda”.
E completa: “Se tiver que ser, será. A Liz mesmo, não foi planejada, mas o fato dela ter vindo foi tão necessário. Ela chegou com muito motivo. Deixou minha vida mais encantadora, legal. Então se tiver que vir outro, virá”.
“A maternidade não nos faz sempre felizes. As mulheres são muito cobradas, e as mães mais ainda. Estamos errando e acertando. Queremos juntar as mães, é isso. Que elas não se julguem, se deem suporte, troquem. Independente de qual seja sua tribo materna, quanto mais próximas ficarmos, melhor. Podemos andar juntas. Falar cura, não nos deixa adoecer. As neuroses existem e tudo bem tê-las, mas não vamos tentar não alimentá-las”.
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