Uma coisa Juliana Alves, rainha de bateria da Unidos da Tijuca, nos garante enquanto deixa sua casa, num condomínio do Rio de Janeiro: “O ritmo de tudo está mais acelerado”. Também pudera. Em uma semana ela vai adentrar a Marquês de Sapucaí sambando à frente da bateria de Mestre Casagrande, atraindo os holofotes para si. “Como eu sou cria do próprio bairro da Tijuca, é uma emoção redobrada. Eu estou ali fortalecendo uma festa que é para eles, né? Tem uma emoção maior, de estarmos todos naquele momento, juntos, com o mesmo objetivo. Quando eu entro, me tomo de emoção. Uma força quase que sobrenatural”, conta.
É daí que surge um papo sobre valores. Já que a realidade não nos deixa pensar diferente: rainha de bateria virou papo de loteria, onde umas pagam, outras cobram, e em sua maioria – há as exceções, lógico, e Juliana é uma delas – a vontade mesmo é de aparecer na mídia ainda na mesma madrugada do desfile. “Cada escola tem um estilo de rainha e hoje tenho uma relação um pouco mais madura e mais clara sobre meu papel e fico feliz, satisfeita, porque meu objetivo era que, se um dia eu fosse rainha, acontecesse da maneira mais ou menos como está sendo agora: relação íntima, direta com a comunidade”.
E Juliana vai além: “É uma relação com a escola de samba e os projetos dessa escola. Sou completamente envolvida. Gosto de ir ao ensaio da escola mirim, por exemplo. Isso faz parte do papel da escola que é transmitir cultura. E acho que isso é um bem muito precioso. Fortalece muito a autoestima e a formação das crianças. Quando eu entro na avenida, esses valores vem à toda: de comunidade”. Sobre a fantasia, ela não revela valores, mas nessa conversa exclusiva com HT, entrega: “A bateria são agricultores, matutos. A minha personagem beneficia a agricultura. Venho com muitas pedrarias. Serão dois tons de cristais e o estilista está usando muita segunda pele. Ah, e ela é toda bordada à mão”.
A indumentária, Juliana nos conta, está “praticamente pronta” (“ainda faltam alguns detalhes”), mas “muitas provas” já foram feitas. O responsável por tudo atende pelo nome de Saulo Henriques, que também foi o mesmo por trás da fantasia do ano passado. E com funciona a criação? “A Comissão de Carnaval estipula um croqui, me avisa, eu vou ao barracão para conversar e me explicam, me mostram qual minha importância no desfile e onde minha personagem está inserida. A carnavalesca e o estilista conversam para falar sobre algumas alterações e aí a gente aprova tudo e começa a trabalhar”, explica.
Samba no pé, ela tem de sobra. E ai de quem negar. Fruto de…nenhuma aula de samba. “É minha raiz cultural. O samba não é algo que eu fui apresentada depois da festa chamada Carnaval. Ele está presente na minha vida muito antes”. Já quando questionada no próximo ano o reinado vai se repetir, a sambista titubeia. “Eu nunca penso no outro ano. Eu sou muito focada no momento presente. E vivo intensamente, com muita força e dedicação. Tudo que acontece durante o desfile é importante para o campeonato. Minha performance precisa estar potente, bonita”, desconversa. “Noventa por cento focada no carnaval”, Juliana já engatilha compromissos para depois da quarta-feira de cinzas: “Tenho um longa metragem que vou fazer”. Haja fôlego.
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