*Por Brunna Condini
Júlia Rabello tem muitas novidades para nos contar. Ela integra o elenco do filme ‘Me tira da mira‘, produzido por Cléo e dirigido por Hsu Chien, que estreia no dia 24, no qual vive uma atriz ‘cancelada’. Produto destes novos tempos em que o ‘tribunal da internet’ decide quem fica ‘bem na fita’ e quem é boicotado. Fora da ficção, Júlia conta que tem aprendido diariamente a lidar com a comunicação nas redes sociais. “Procuro sempre deixar minhas opiniões bem claras, não fujo das respostas. Mas tenho perfil para o diálogo, escuta e o debate. Não sou a favor do embate público. Às vezes, você joga algo nas redes e não há troca de ideias. Vira um Fla-Flu”, avalia.
“Tenho um temperamento expansivo, mas também sou na minha. Não escondo nada, mas não fico me exibindo. Claro que tento dialogar com a nova forma de comunicação, e me mostro. Mas como nasci no século passado (risos), acredito que a atitude de se preservar abastece até para a troca, poder ir para a ‘praça pública’ e debater. E gosto de ir quando acho que tenho algo a acrescentar. Quando fica só no terreno polarizado, tem um lugar nessa dinâmica que faz mal para a saúde mental das pessoas. Não sou contra quem faz, mas são formas de ver o mundo”, completa.
Em agosto, o canal de humor ‘Porta dos Fundos’ celebra 10 anos e Júlia Rabello, que fez parte da história do coletivo, vai gravar vídeos inéditos com o grupo. “O ‘Porta‘ me apresentou para o grande público. Mesmo tendo saído há alguns anos até hoje lembram de vários vídeos, não só do ‘Sobre a Mesa’, que fez muito sucesso – no vídeo com quase 30 milhões de visualizações, ela faz uma mulher que descreve escancaradamente seus desejos sexuais para surpresa do marido – o ‘Porta dos Fundos‘ é muito importante na minha trajetória, tem aquela coisa de trupe. Somos do teatro, isso faz parte do nosso olhar para o mundo. De artistas que se juntam, atravessam adversidades. O ‘Porta‘ foi contra o mercado, ousando, fazendo um humor muito nosso, que agradou o público”.
Ela fez parte do humor nonsense típico do grupo de 2012 até 2015, quando saiu para se dedicar às novelas, filmes e ao teatro, sua praia. “De lá para cá dei sorte de ter emendado um trabalho no outro. Não sei se a palavra é sorte, estava atenta também. É aquela imagem de equilibrar pratinhos. Olhando para o meu percurso, vejo que consegui me manter trabalhando em uma profissão que as pessoas costumam ter dificuldades. E aí posso dizer, que além de tudo, tive a sorte de trabalhar com pessoas que admiro. Mas neste ofício não tem uma fórmula, é uma dinâmica, um jogo. Tento olhar sempre para onde o mercado está indo, quais são os debates públicos, o que tem interessado. A carreira do artista pode ser construída em trupes, mas também tem suas demandas individuais. Gosto disso e de fazer as minhas experimentações. Me interessa esse percurso. É poliamor artístico (risos)”, observa a atriz, que já contabiliza 23 anos de carreira.
Júlia foi descobrindo uma nova versão sua no ‘Porta dos Fundos‘, porque até então não se via como uma atriz que também poderia fazer humor. “Amo ser reconhecida como comediante. Vejo tantos colegas com técnicas fodas, aprendo sempre. No lugar de onde venho (teatro), gosto de tudo. Mas também tenho um olhar para o mundo através do drama. Posso dizer que têm coisas híbridas vindo por aí. Misturar comédia e drama é bom, até porque um alimenta o outro”, diz Júlia, que está de malas prontas para São Paulo onde fica até o meio do ano gravando uma série inédita da HBO. “Não posso falar sobre esse trabalho ainda, mas vou experimentar outras coisas”.
E tal qual a pergunta do esquete do ‘Porta dos Fundos‘, que a fez popular: o que você quer Júlia Rabello? “Da carreira, quero ser melhor atriz, fazer projetos que ajudem a dialogar com o que as pessoas estão sentindo, pensando. Me descobri muito cedo em um oficio que me faz dar sentido à vida. Apesar de achar que essa estrada é meio infinita. O ser humano é uma máquina de contar histórias para falar das questões essenciais, por isso desejo personagens que deem sentido a isso tudo. Porque a vida é muito maior que a gente. Quando você acha que conseguiu dar um significado, ela vem e te mostra outras facetas”, completa.
De olho no BBB
E por falar no que tem ‘fervido’ nas redes, Júlia conta que é espectadora assídua do Big Brother Brasil. “Gosto desde o primeiro. Mesmo na época em que todo mundo condenava quem assistia, eu já curtia. Quem é ator gosta de ver o comportamento humano. Esta observação pra gente é muito saudável. Claro que o reality também é uma forma de extravasarmos, mas o BBB entrou em outra atmosfera, que é um pouco do reflexo destes tempos raivosos. Está meio um coliseu moderno. Colocam desafios agressivos para ver quem consegue sair de uma maneira interessante. A Juliette, por exemplo, conseguia negociar bem as coisas, não perdia sua essência”, aponta.
E também observa sobre a atual edição: “Estamos mergulhados em um caos de insegurança, indignação, estamos estourando rápido. Não à toa, esse BBB que não esquentou tanto, não está agradando. Estamos querendo ir pra briga, é um reflexo dos tempos. Me interessa muito entender que assuntos são discutidos nas pautas ali também. Os comportamentos nocivos que tentamos transformar na sociedade, o machismo, homofobia, racismo, entre outras coisas. O fato é que me interessa muito, então sempre vou arrumar uma justificativa pra dizer o porquê gosto (risos)”.
Participaria se fosse convidada? “Nunca sei responder à essa pergunta. Como espectadora acho muito divertido, fico pensando como deve ser lá. Ao mesmo tempo, fico imaginado que mesmo você com a saúde mental organizada é um jogo de convivência para gerar atrito. Não sei quais seriam as consequências”.
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